Por perto há recaídas: 12

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Em uma manhã onde a cama de Alessandro lhe parecia um bom esconderijo de toda sua amargura, os lençóis frios sem a presença dela, o seu perfume não o despertando alegre ao raiar do sol. O homem sentou-se a beira da cama, ainda vestido com a roupa da noite anterior, amarrotado e desgrenhado, ele se esforçou para levantar ao ouvir o despertador martelar em sua cabeça. Sentia que uma enxaqueca forte latejava em sua têmpora, passou as mãos pelo rosto tentando afastar o peso em seus olhos inchados e vermelhos. Como se o mar deixasse seus olhos, e trouxesse um agridoce aos lábios, assim fora toda sua noite. Soltou uma respiração longa, olhou por um segundo para a cama e lembrou da mulher que roubara todo seu ser e o jogara ao léu. Já sentia sua ausência, sangrava ao saber que tudo o que tinham, o que pelo visto não era muito, se foi. Os sentimentos por ela pareciam flechas flamejantes em seu peito, doía a deixar ir, abrir mão, em uma despedida nada agradável. Recordou os olhos perdidos e marejados dela quando disse que era a pessoa errada e um nó se formou em sua garganta. Falou da boca para fora, ela era a pessoa certa, mas não o queria como ele a queria e nada poderia resolver isso... Nem suas súplicas por seu amor.

- Não fui suficiente - Sussurrou ao vazio, os braços juntos entre as pernas, e o olhar voltado ao nada com profunda dor.

O reitor deixou sua cama, como quem se arrastaria à forca, e tomou um banho que relaxou seus músculos tensos. Quando terminou uma caneca de café fumegante, não tendo estômago para ingerir mais que isso, ele foi ao seu escritório onde tudo ocorrera dolorosamente. Buscava recolher suas coisas para ir à universidade, e infelizmente encontrou o celular dela descansado ali. Deveria ter esquecido ontem ao sair apressada, ao partir e deixá-lo quebrado e sozinho. Ele o tocou como se ainda sentisse o calor dos dedos dela sendo um fantasma que o atormentava. As mãos que um dia aqueceram seu corpo, a alma que pensava ver em seus belos olhos, o corpo que entregou paixão junto ao seu agora não passara de uma ilusão que cobrava seu preço por existir. Seu coração afundava no estômago como uma pedra. Não queria encontrar com ela agora, tão recente do término, mas sabia que veria seu rosto ainda naquele dia e seu coração vibrou como um tolo. Fechando os olhos ele guardou o aparelho em seu bolso e engoliu o nódulo insuportável em sua garganta, o sufocando tanto quanto seus sentimentos.

Quando chegou à universidade, mais cedo que o necessário, queria um tempo sozinho em um silêncio mortal. Deixou sua mochila na sala da reitoria, onde foi invadido por recordações das quais preferia apagar de sua mente ou fingir que nunca aconteceram, sentia-se rendido outra vez em apenas pensar na mulher e tocar os lábios ainda tendo a sensação viva e ardente da boca dela na sua. Negou com a cabeça, se repreendendo por ser tão patético, e saiu da sala. Tomando um ar fresco, mesmo que no amago de sua alma estivesse aterrado em desamor, com as mãos aos bolsos da calça e os pés o guiando sem rumo pelo campus. Ele chegou ao auditório onde havia assistido sua última palestra, e mais uma vez se repreendeu por não se esforçar em evitar pensar nela, ainda podia ouvir sua voz viciante. Adentrou o local e seu breve sorriso melancólico se transformou lentamente em uma carranca severa, os olhos arregalaram surpresos, e sentiu um amargor profuso na boca. Sentiu uma vontade irracional de destruir a parede ali, que até ontem estava apenas com cartazes diversos, não poderia admitir aquilo. Em tinta vermelha, letras grandes e disformes, fora deixada uma frase ofensiva e ele desejou que fosse para si e não para ela.

- Finalmente te achei! Eu olhei as câmeras com o segurança e... - Paulo paralisou em seu caminho, Alessandro estava parado em frente a parede com os punhos fechados, e ao direcionar seu olhar para onde ele encarava o homem lamentou - Puta que pariu!

- Pensei a mesma coisa - O homem passou as mãos pelo cabelo quase os arrancando - De novo, Paulo, de novo! Quando eu pegar esse miserável - Virou-se para seu amigo, respirando profundamente.

O reflexo em seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora