Incidente: 2

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A campanha do segundo turno parecera passar lentamente. Comícios, debates, passeatas e pessoas ansiosas para saber qual candidato venceria a disputa acirrada dominava as ruas e os meios de comunicação. Em um piscar de olhos a noite da apuração passou e as explosões vitoriosas, e o silêncio frustrado do lado perdedor, invadiu os ambientes e trouxe perspectivas novas para um Brasil calejado.
Após todo o alvoroço da luta pela democracia os ânimos foram se acalmando dando espaço para escolhas de ministros, restauração de ministérios e agendas a serem preparadas para um início de novo governo.

Simone havia recebido o convite para ser ministra do planejamento e orçamento e o aceitara grata. Meses passaram-se desde então e a mulher focou seus esforços e atenção ao trabalho que a levava de um lado a outro em um pesado frenezi. Conferências, coletivas, viagens, reuniões, entrevistas e planejamentos junto a sua equipe ocupavam seus dias e sua vida. Sua agenda estava completamente preenchida com diversos compromissos e ela desfrutava disso como sua válvula de escape para os problemas pessoais dos quais não queria se ocupar em pensar sabendo que a levaria a provar um gosto amargo.

Em uma manhã ensolarada e quente de sexta a mulher viajava para encontrar com suas filhas, as saudades delas lhe lastimava. Quando chegou em sua casa, e encontrou as duas jovens esperando com uma bela mesa de café da manhã, apressou-se em se aproximar com um sorriso largo e abraçar as duas. As apertou o máximo que poderia e beijou suas bochechas, repetindo o quão sentia falta delas e as amava com todo seu coração. As filhas sorriram e retribuiram o carinho.
Enquanto as três se sentavam e se serviam do café da manhã, deixando que o aroma caseiro invadisse o ambiente e trouxesse a sensação deliciosamente aconchegante, o celular da morena tocou sobre a mesa com uma notificação. A mulher observou a mensagem que recebera com um olhar surpreso e as filhas se aproximaram mais para ver quem havia contato sua mãe e pelo quê, pensando que poderia ser do trabalho quase reviraram os olhos, mas logo sorrisos travessos se desenharam em seus lábios e olhares brincalhões foram dedicados a mulher mais velha que deu de ombros e pareceu confusa com a reação das garotas.

- Por que estão fazendo essa cara pra mim? - Riu desentendida.

- Talvez seja porque um bonitão acabou de falar com você - Com diversão Eduarda apontou para a tela do celular.

- Óh meu Deus - Simone colocou uma mão a testa rindo - É só o Molon. Ele está me convidando para uma palestra - Respondeu despretensiosa.

- Com um tom bem amigável - Pontuou Fernanda - Posso ouvir os suspiros dele daqui só por essa mensagem - Dissimulou a forma como o homem estava do outro lado da tela.

- Quanto exagero! - Simone balançou a cabeça negativamente - Foi um inocente e muito formal convite para, repito, uma palestra. Da maneira que estão falando parece até que ele me convidou para um encontro - Entortou os lábios.

- Na próxima pode ser isso mesmo - Deu de ombros Eduarda - Não duvidaria nada e você deveria aceitar mãe - Riu.

- Acho que andam lendo romances demais ou assistindo - Continuou cética - Da última vez que o vi ele até se afastou de mim, podem ter certeza que essa mensagem aqui foi o mais profissional possível - Contou, recordando a situação com incômodo.

- Perdoe o coitado, mãe - Defendeu Fernanda - Com uma morena irresistível dessas qualquer marmanjo criado fica nervoso feito adolescente -

- Estou vendo a hora vocês serem as que vão lá fazer a palestra só pra o ver - Cruzou os braços.

- Pode? - Brincou Eduarda - Você vai aceitar, não vai? -

O reflexo em seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora