Incertezas: 16

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O homem que planejara o acidente lia, de sua varanda, as notícias que afirmavam a recuperação da ministra. O mesmo guardou o celular e acendeu um cigarro, um olhar sombrio de determinação refletindo a luz do luar. Um vento frio gerando um calafrio por sua espinha e o cigarro entre seus dedos apertado com uma sutil raiva pelo fracasso de seu plano. Pensaria meticulosamente em seu próximo passo e sua sede de vingança se renovaria a cada nova estratégia para derrubar a mulher que lhe destruiu a vida.

- Parabéns, ministra! Escapou dessa vez - Fechou a mordida - Não ache que terá tanta sorte da próxima...

Jogou a bituca de cigarro ao chão e a pisou com força, querendo sentir-se acima, todavia, da mulher a quem seu objetivo era derrubar como a própria o derrubou.

***

Enquanto a madrugada se seguia sufocante, melancólica, angustiante. Alessandro se mantinha encostado em uma parede, de cabeça baixa e os braços cruzados. Não aguentava ter de esperar parado, sem poder fazer nada, a impotência consumia seu peito e o afundava em lamento. Sua mente se dividia na agonia de ver o estado do carro, e então ver o estado dela que estava igual ou pior, e o ar nesse momento parecia raro naquele ambiente frio e estéril. Uma mão passava pelo peito como se fosse possível arrancar aquele pavor que crescia a medida que os minutos passavam desde o desmaio de Simone. Questionou várias vezes se fora culpa dele, se ela havia se esforçado muito, se seu abraço a machucara mais, se não tivera cuidado ou delicadeza suficiente quando a tocou. Logo nem o chão seria o limite para o terremoto que anunciava derrubar todo seu ser. Seu pai se mantinha ao seu lado, mesmo que já tivesse dito que ele poderia ir para casa, e a mão que repousava firme em seu ombro lhe trazia algum consolo em meio a todas suas perturbações e ansiedade por saber da mulher por trás daquelas portas. O homem logo as estaria ultrapassando se não fosse lhe dada alguma informação do que lhe aconteceu.

- Familiares da senhora Tebet - O médico os chamou, fazendo com que mais pessoas do que tinha na última vez se aproximassem dele.

- O que aconteceu com a Simone?! - Alessandro foi o primeiro a se pronunciar.

- Foi apenas uma queda de pressão. Ela está sob muito estresse e se esforçou mais que o necessário em seu estado - Explicou pausadamente - Mas o f... - O médico franziu o cenho quando Elisa apertou seus ombros e arregalou os olhos.

- Obrigada doutor, estamos aliviados que ela esteja bem - Sentia a adrenalina percorrer em suas veias, queria proteger a informação que ele estava prestes a dar - Quando vamos poder vê-la?

- Pela manhã. Ela agora está sedada e repousando. Para não ocorrer o mesmo problema o melhor é que a paciente descanse por essa noite - Confuso o doutor se despediu - Com licença.

- O que o médico queria dizer com aquele "mas", Elisa - Alessandro a fitou intrigado, quase sufocando em preocupação.

- Provavelmente iria falar que não precisamos nos preocupar, coisa padrão, sabe. Dizemos isso para acalmar - Mentiu, olhando para Fábio implorando ajuda.

- Alessandro, minha mãe ficará bem. Sabe como a dona Tebet é forte - Coçava a nuca em busca de falas que fizessem desviar o assunto - Se quiser ir para casa, nós vamos ficar aqui e qualquer coisa te avisamos.

- Se não se incomodam, eu não pretendo sair daqui - O grisalho respirou fundo.

- Claro que não nos incomodamos! Se você não quisesse ficar eu aconselharia a Si a repensar essa relação - Elisa tentou trazer humor enquanto sentia a barriga formigar em nervosismo.

O reflexo em seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora