Despedida: 33

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Naquela sala de espera ecoavam os gritos da Tebet. Parecia rasgar-se com a dor imensurável que corroía sua alma e avidamente queimava em seu peito como se fosse a matar. Se levantou fraca, soluçando, o rosto vermelho e os olhos inchados. As lágrimas agridoces amargaram sua boca e caíram insignificantes por seu pescoço. Andava como já para um velório fúnebre e sem fim. Alessandro a segurou pela cintura enquanto ela se debatia para sair de seu abraço. Queria voltar aquele quarto, queria trazer seu filho a vida mais uma vez, precisava o ter em seus braços maternos que agora pareciam aterrorizantes e vazios. Aquele lugar não combinava com sua alegria, com seu coração. Era seu garotinho, era aquele pequenino ser que veio aos seus braços como uma grande dádiva e última lembrança viva de seu irmão amado.

Seu filho estava voando para longe e necessitava o seguir, não aguentava ficar lá alimentando tamanha angústia. Era rascante, dilacerante, estava arrancando a alma de seu corpo e a torturando em um inferno de impotência e raiva. A tristeza refletia em suas lágrimas, o luto já cobrava seu preço e ela não queria o pagar. Daria sua vida por ele, imploraria a quem fosse, a todo o poder divino. Precisava de uma válvula, não conseguia respirar, seu coração doía profundamente a cada batida fraca e suas mãos tremiam sentindo que ainda estavam manchadas com o sacrifício de seu filho. Ele ainda não podia ir, tinha muito a viver. Merecia provar de um amor recíproco, formar a família que tanto sonhou, se formar na carreira que queria e espalhar toda sua luz e generosidade aos que precisavam. Ela não merecia estar viva no lugar dele e suplicou que a morte a viesse levar de uma vez por todas.

- ME LARGA! EU QUERO VER MEU FILHO, EU PRECISO TRAZER O FÁBIO - Gritou entre soluços entalados, seu corpo tremia com a fraqueza e o choro.

- Simone, por favor... me escuta! Você não pode fazer mais nada, não adianta ir lá - Alessandro a segurou, impedindo que saísse, e sentiu os punhos dela contra seus braços.

- Alessandro, por favor... me deixa! - Sussurrou, agonizava em desespero, não conseguia pensar com clareza e a dor comandava seu corpo.

- Não! Não vou deixar você se ferir mais, eu vou ficar aqui até que se acalme... pensa na sua filha - Implorou, com as mãos sob a barriga dela, podia sentir os chutes agitados.

- E-eu não aguento mais... Alê, me ajuda - Sua cabeça abaixou e mais lamento se apoderou dela, quase desfalecia nos braços dele.

- Eu tô aqui, não vou sair do seu lado... Só se acalma, eu preciso que me escute... Vai ficar tudo bem, meu amor - Beijou os cabelos dela e a sustentou para que não caísse outra vez - Eu prometo que vai passar. O Fábio não iria querer te ver assim! - A virou e segurou seu rosto, limpando as lágrimas com os polegares.

- E-ele precisa... precisa voltar... eu não aceito isso... não posso aguentar o ver... o ver ir - Deixou sua testa cair no peito dele, queria achar conforto no homem que tanto amava - Meu menino não... quero que me levem... quero trocar de lugar com ele! - Amassou a camisa dele entre seus dedos desesperados por salvação.

- Ele vai ficar bem e vai estar sempre com você, Simone. É seu filho e sempre estará seguro em seu coração. - A abraçou mais uma vez enquanto a mulher já quase deslizava para o chão em derrota.

- Quero meu filho... me devolve ele, Alê... diz que não posso viver assim - Implorou, ficando com a respiração irregular e sentindo o peito estourar com as batidas desenfreadas de seu coração.

O homem olhou para todos os lados para pedir ajuda aos profissionais quando Eduardo e Fernanda vieram ao encontro deles parecendo desolados. Correram até Simone quando a viram aos prantos altos nos braços de Alessandro. Não queriam acreditar na possibilidade do que a deixara naquele estado. Mal passaram pelo susto com Eduarda, que fora estabilizada há poucos minutos, e já teriam de sentir-se despedaçar com uma partida precoce. Quando a mulher se virou para eles, Alessandro fez um sinal negativo com a cabeça e Fernanda precisou com esforço guiar seu pai até a cadeira de espera. O homem tentava abrir a camisa desesperado, arfou e o coração pareceu que pararia. A jovem pediu calma ao mesmo e massageou o peito dele pedindo ajuda.

O reflexo em seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora