Minha e sua dor: 22

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Com o passar angustiante das horas cada um à espera naquela sala parecia a beira de um colapso coletivo. Elisa se mantinha ao lado de Fábio, sentada aos bancos, fazendo movimentos circulares e calmantes nas costas de seu sobrinho postiço. O convencera a ficar longe de Alessandro que respeitava o espaço do rapaz e ficara andando de um lado à outro próximo ao bebedouro. Paulo estava perto dele preocupado que houvesse um conflito catastrófico entre ele e Eduardo, ambos trocavam olhares raivosos, cada um em uma ponta da grande recepção. O Rocha não se cansava de ir até a recepcionista perguntar sobre novas informações. Todos sentiam que as horas eram insuportáveis e longínquas.

Alessandro parou rente a parede do lugar, o cotovelo descansado ali enquanto a mão apertava o rosto. A garganta já o sufocava engasgado com um nó denso, a vontade de chorar estava o destruindo cruel e lentamente. A espera o mataria logo. Colocou uma mão em sua cintura e soltou um gemido de frustração baixinho. Queria poder estar ao lado dela, temia que algo mais grave passasse a ela ou ao bebê que esperava. A todo o momento voltava a sua mente, para o ferir como um espinho cravado na pele, os olhos magoados e cheios de lágrimas quando ela deixou a casa de praia. Pensava que esse deve ter sido seu olhar quando encontrou com um cenário miserável como o que estava com Laura. Era uma tortura maldita querer ter o poder de regressar o tempo, de modificar escolhas já feitas, de sumir com as consequências de um erro ou mesmo o evitar de fazer quando feito estava. Ele fugiria daquele lugar, e dos olhares penetrantes, não fosse a preocupação pela morena ser maior que sua vergonha. Sentir que todos sabiam do que fizera e lhe julgavam era sufocante. Se odiava profundamente por tudo que dissera e agora pelo que fizera. Já estava feito, não há volta atrás, não pode se salvar, não poderia os salvar... A perder era um calvário do qual ele mesmo preparava para si.

- Familiares da senhora Tebet - A médica os chamou fazendo Alessandro quase tropeçar em sua pressa de chegar até ela.

- Esse aqui é o filho dela e eu sou sua amiga, como está a Simone? - Elisa se pronunciou rapidamente, com o braço entrelaçado ao de Fábio, querendo desesperadamente uma boa notícia.

- A paciente passou por um deslocamento parcial da placenta, algo grave para o primeiro trimestre da gestação - Explicou a médica com naturalidade - Graças a rápida reação de trazê-la à urgência pudemos evitar o pior. Precisará passar a noite em observação e se não houver maiores problemas terá alta pela manhã, mas preciso que seja garantindo um repouso total por algumas semanas.

- Então ela e o bebê estão fora de perigo?! - Alessandro questionou sentindo um calafrio percorrer todo o corpo com o pensamento de perder seu filho.

- Felizmente sim, estão fora de perigo agora. Mas não devem submeter a paciente à esforços ou estresse nos próximos dias - Sendo incisiva a médica pontuou.

- A manterei longe de qualquer problema, doutora - Fábio reforçou lançando um olhar mortal a Alessandro - Obrigado por tudo, doutora.

- Não fiz mais que meu trabalho - Colocou a prancheta abaixo do braço.

- Ela está consciente? - Eduardo perguntou respirando aliviado.

- Está e pediu que um dos presentes aqui entrasse para vê-la - A médica estava prestes a chamar pelo nome quando Alessandro deu um passo a frente.

- Onde pensa que vai, Alessandro?! - Fábio o puxou pelo colarinho com uma mão e o encarou furioso - Você só entra pra ver ela por cima do meu cadáver - Rosnou a frase e recebeu um olhar desafiador do grisalho.

- Me solte! Eu vou entrar naquele quarto. Ela é minha mulher e está esperando um filho meu - Apertou o pulso do mais jovem e tentou o afastar - Só quero ter certeza que estão bem - Afastou Fábio que se colocou ao meio do caminho.

O reflexo em seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora