1. Infinito particular

2.3K 181 40
                                    


Olhei os olhos castanhos brilhantes da pessoa que eu havia decido compartilhar a minha vida. Senti o sentimento corriqueiro percorrer cada célula do meu corpo e um sorriso singelo adornou meus lábios. Meu coração batia descompassado e as palmas das minhas mãos suavam levemente. Meu corpo todo vibrava na mesma frequência desde que esses mesmos olhos se colaram aos meus pela primeira vez. Não importava o tempo que passasse, as circunstâncias e até mesmo a vida, incerta como a turbulência de uma tempestade, eu tinha certeza que sempre seria assim. Esse sempre seria o efeito de Freen sobre mim.

As minhas palavras, de muitos anos atrás, ainda se mantinham verdadeiras depois de tantos anos: "E mesmo que ninguém mais te ame, eu sempre te amarei". E eu tinha provado isso a cada escolha, cada passo incerto, cada queda e cada curva da vida que havíamos compartilhado uma com outra.

Com o tempo, eu acrescentei outros juramentos àquela frase habitual para nós duas, que foi evoluindo ao mesmo tempo que a nossa relação, e nós mesmas nos transformávamos. A cada dificuldade, a cada incerteza, a minha promessa mudava, crescia. E apesar de tudo, eu sempre a cumpria.

"I love you," Freen sussurou em meu ouvido quando nossos corpos se chocaram em um abraço emocionado. O seu sotaque ainda era tão carregado quanto há anos atrás, o que não falhava em descompassar ainda mais o coração errático em meu peito.

Pensei em quais palavras deveria usar para respondê-la, tentando ignorar os flashes e os gritos de comemoração ao nosso redor. Apertei com mais firmeza o prêmio que havíamos acabado de ganhar na minha mão direita e usei a esquerda para retribuir o abraço caloroso de Freen.

"We did it, baby," decidi responder, com um sorriso de canto se formando em meus lábios com a gargalhada natural que a mulher em meus braços deu, antes de afastar seu corpo do meu e me encarar com aqueles mesmos olhos brilhantes de antes, mas agora ainda mais apertados nas pontas por conta do enorme sorriso que adornava seu — sempre lindo — rosto.

O que tinha parecido uma eternidade, no nosso infinito particular, não passou de alguns poucos minutos. Nossa bolha foi estourada quando o apresentador nos indicou ir para a frente do palco tirar fotos com nosso prêmio em mãos. Freen segurou meu pulso com uma de suas mãos e tomou minha mão na sua outra, entrelaçando nossos dedos, em um hábito natural. Caminhamos, juntas, até onde nos haviam indicado, e eu deixei o êxtase do calor do seu toque percorrer todo o meu corpo, enquanto o mundo continuava a girar ao nosso redor.

Freen proferiu algumas palavras de agradecimento e eu apenas concordei com o que ela dizia, finalizando apenas com um agradecimento aos nossos fãs e dizendo que os amava, antes de sair do palco, ainda mão a mão com a mais velha, que me guiava até os bastidores com aquele cuidado tão peculiar seu.

A cada passo que dávamos para longe dos gritos eufóricos e do restante da fala dos apresentadores da premiação, mais eu me sentia apreensiva. Meus dedos, instintivamente, apertaram com mais força os dedos compridos que entrelaçavam os meus e Freen se virou para me encarar no rosto, com o seu olhar curioso. Ela já me conhecia o suficiente, no entanto, e depois de uma conversa muda, que tínhamos aperfeiçoado durante os anos, ela correspondeu o aperto em meus dedos e me lançou um sorriso de conforto. Eu queria poder dizer que aquele gesto era o suficiente para apaziguar o que me perturbava, mas ambas sabíamos que não era. Mas era o que ela podia me oferecer e era o que eu aceitaria sem pensar duas vezes.

Eu e Freen caminhamos entre a bagunça dos bastidores da premiação até encontrarmos com a nossa equipe, que já nos esperava em um camarim. Naquela noite não ficaríamos até o final, pois vínhamos de semanas de trabalhos árduos, com muitas viagens e eventos promocionais, e ambas decidimos que ficaríamos apenas para a nossa categoria e  depois iríamos em busca do nosso tão merecido descanso.

InfiniteOnde histórias criam vida. Descubra agora