O nosso afastamento foi tão difícil quanto inevitável. Eu podia sentir em mim mesma o sofrimento refletidos nos olhares furtivos de Freen durante a semana que seguiu a nossa primeira conversa honesta em anos. Ela me encarava de uma distância segura, mas com o passar do tempo parecia cada vez mais inalcançável. Eu tinha que reafirmar para mim mesma todos os dias que aquela decisão tinha sido a correta. Não só para mim e para minha saúde mental, mas também para que a minha relação com Freen pudesse um dia voltar a ter algum tipo de normalidade.
Deixei minhas emoções me guiarem naqueles dias difíceis. Eu ainda via Freen todos os dias, mas estava claro, para quem quisesse ver, que a nossa bolha finalmente havia sido estourada. A staff, os nossos colegas de trabalho e, principalmente os fãs, conseguiam ver que a nossa relação havia mudado. Eu tentava não me abalar com os olhares de pena direcionados a mim, afinal o que eu sentia naquele momento era orgulho. Orgulho de, enfim, decidir lutar por mim, pela minha própria felicidade, pena era a última coisa que eu sentia de mim mesma.
Faziam seis anos desde que a minha história e a de Freen haviam se entrelaçado. Quatro anos do sucesso inquestionável de Gap, dois anos e meio da nossa promessa e um pouco mais de um ano desde que a minha confissão havia sido negada. Eu devo confessar que não tinha como pensar que meus sentimentos por Freen durante aquele tempo tinham sido como correntes mas, ainda assim, de maneira divergente, eu me sentia livre. Agora eu podia buscar meu próprio caminho, mesmo que eu não fizesse ideia de qual ele seria.
Os eventos se arrastavam e as entrevistas eram estranhas, assim como as nossas interações interpessoais se tornavam ainda mais complicadas, mas havia uma simplicidade na nossa nova honestidade. Era doloroso ver aquela relação tão estável desmoronar de uma hora para a outra, mas era leve não ter que segurar tão firme - e às vezes com toda a minha força - para que a fundação da nossa relação não desmoronasse. O nosso sentimento era honesto e puro, mas tinha sido construído em cima de palavras não ditas, sentimentos oprimidos, omissões e falsas expectativas.
Eu juro que queria me prender no olhar de Freen do outro lado do ambiente e ainda acreditar que as coisas não mudariam. Queria poder continuar me apegando àquela certeza inabalável dela de que tínhamos tudo o que precisávamos, mas eu não podia. Agora eu conseguia ver tudo claramente, mesmo que ela não pudesse. E era como poder respirar novamente. Eu não respirava aliviada pela minha relação em ruínas com Freen, mas por entender que todas as minhas relações, daqui por diante, tinham que ser totalmente verdadeiras caso eu não quisesse repetir os mesmos erros. Até mesmo a relação que eu tinha esperanças em retomar com a mulher dos olhos castanhos e, ultimamente, tristes.
"Bom trabalho hoje, meninas," P'Phon falou ao entrar no camarim, eu e Freen o agradecemos em nossos cantos separados do quarto. "A van já está vindo buscar vocês. Tenham uma boa noite e um bom descanso," ele nos ofereceu, o que retribuímos antes de ele voltar a sair e nos deixar a sós novamente.
O silêncio ensurdecedor e incômodo voltou a pairar no ar, e apesar dos meus novos sentimentos de entendimento, eu confesso que odiava aquela sensação. Aquela era Freen. Eu a conhecia como ninguém e ela me conhecia melhor que eu mesma. Não termos palavras uma para a outra era quase risível. Mas essa era a situação em que nos encontrávamos e ainda demoraria um tempo até que descobríssemos o nosso novo normal, onde cada uma caberia de novo na vida uma da outra.
Meu celular começou a vibrar de maneira barulhenta ao meu lado no sofá e eu o tomei em minha mão para ver de quem se tratava. O rosto sorridente de Minji tomou conta da minha tela e um sorriso involuntário se fez em meus lábios. Pensei em não atender, afinal Freen com certeza ouviria tudo o que fosse dito, mas me lembrei - mais uma vez naquele dia - que eu deveria pensar em mim. Freen tinha tomado a sua decisão e eu a minha.
"Sawad-dee ka, Unnie." Falei virando meu corpo para que Freen saísse do meu campo de visão. As coisas não mudavam de um dia para o outro e ela ainda confundia os meus sentimentos. Eu precisava não ter que pensar nela enquanto falava com Minji.
"Sawad-dee ka, Becky." A coreana respondeu de maneira animada, fazendo eu relaxar um pouco. Era bom ouvir sua voz.
Desde que ela havia me mandando a primeira mensagem, há um pouco mais de um mês, e durante todo o turbilhão de coisas que aconteceram, ela tinha sido uma constante. Nossas conversas variavam entre os flertes e conversas sobre o dia a dia. Não tínhamos nenhuma relação intensa ou cheia de sentimentos, mas ela era uma conversa leve e uma risada fácil em dias que essas duas coisas eram raras. Ela fazia eu me sentir bem comigo mesma. Era bom experienciar algo que eu não sentia fazia algum tempo: reciprocidade.
"Lhe ligo com o que eu espero que sejam boas notícias." Ela continuou.
"Oh, tenho certeza que serão." Falei rindo de maneira baixa.
"Finalmente vamos poder tomar aquele tão prometido café." Ela falou em um tom que misturava animação e um pouco de receio. Ela era bem confiante, mas no meio da sua confiança, eu podia ver alguns resquícios de insegurança. De alguma forma isso me deixava mais segura, porque eu também me sentia assim.
"Você está vindo para Bangkok?" Falei animada, e um pouco alto demais, sem conseguir conter a animação em minha voz. Minji era a única do meu círculo que eu sabia que não me olharia com aquele maldito olhar de pena. Estávamos falando fazia tempos de nos encontrarmos, essa sim era uma surpresa boa.
"Indo não, Nong Becky, já estou aqui." Ela falou e eu pude ouvir o sorriso em sua voz, o que me fez sorrir ainda mais em resposta.
"Diga que vamos mudar o café por um jantar e ele pode ser hoje mesmo?" Respondi animadamente.
Antes que eu pudesse ouvir a resposta de Minji, o barulho de algo caindo com força no chão me fez virar meu corpo de maneira assustada. Com a mão em meu peito, observei Freen que estava de pé encarando firmemente o seu celular aos seus pés. Eu ia falar alguma coisa, quando Freen se agachou rapidamente e tomou o aparelho em suas mãos, para em seguida dar passos largos até a porta e sair do camarim.
Pareceu que ela havia saído e levado consigo todo o oxigênio do ambiente, me fazendo perder o ar por alguns segundos. Sua expressão vazia e estranha passavam em loop em minha mente, enquanto eu tentava colocar em ordem tudo o que tinha acontecido.
"Becky?" A voz preocupada de Minji me tirou dos meus pensamentos erráticos.
"Oi, Minji, me desculpe." Falei soltando todo o ar que ainda restava em meus pulmões em um suspiro pesado.
Fechei meus olhos e me deixei sentir triste por alguns segundos. Eu queria ter simpatia pelo o que a Freen passava, mas ao mesmo tempo eu ficava irritada. Porém, no fundo, eu não queria misturar esses sentimentos, então eu tentava a todo custo conter os sentimentos negativos. Eu queria que ela tivesse o tempo de luto dela e que eu tivesse o meu, por isso eu havia pedido o nosso afastamento total.
"Você não está fazendo nada de errado." Me assegurei em pensamentos - pelo que parecia a enésima vez aqueles dias - antes de voltar a abrir meus olhos.
"E então, jantar hoje?" Perguntei, fingindo um pouco mais de animação do que eu realmente sentia, mas oferecendo a mim mesma uma nova oportunidade.
Era hora de eu me deixar viver. Era hora de um recomeço.
Notas da autora:
Boa noite, babes! Como estamos?
Olha quem voltou!!
Eu disse que voltaria depois do final de People Change e aqui estou.
Espero que gostem e que ainda estejam interessados no desenrolar dessa história.
Nos vemos no próximo! Que a nova era da Becky comece!
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Infinite
Fanfiction"E mesmo que ninguém mais te ame, eu sempre te amarei. Ontem, hoje, amanhã, em outra vida. No infinito." FreenBecky era como ambas eram conhecidas no mundo inteiro. Era assim, dessa forma, com um nome só, uma única marca, que elas haviam decidido le...