5. Promessa

824 153 29
                                    


POV BECKY

Eu deixei meu corpo cair no sofá do camarim enquanto tentava regular minha respiração. Eu nunca havia sentindo um ataque de pânico, mas já havia acompanhado e cuidado de Freen enquanto ela os tinha com frequência há alguns anos atrás. E eu sabia que aquilo era o início de um. Eu puxava bufadas grandes de ar, tentando encher meus pulmões com oxigênio o suficiente para afugentar aquela sensação de estar se afogando. Eu contava devagar até 10 em minha cabeça, retomando ao 1 quando chegava ao final. Aos poucos eu fui voltando a perceber o mundo ao meu redor e pressionei minhas mãos em punhos, fincando minhas unhas na palma da minha mão, a dor me trazendo de volta a realidade.

A minha respiração já estava quase sob controle quando ouvi um barulho na porta, com os olhos arregalados, passei minhas mãos por eles, tentando limpar qualquer resquício de lágrimas. E numa velocidade quase super humana, deslizei os óculos de sol sobre meu nariz, tentando cobrir a verdade que brilhava neles.

Para o meu alívio e simultâneo tormento, era uma auxiliar da produção que entrava no camarim.

"Ah, desculpe entrar sem bater, Becky. Eu não sabia que você já estava aqui," ela se desculpou, enquanto deixava algumas coisas sobre uma mesa que tinha ali e vinha em minha direção com um Milk Tea extendido em sua mão direita.

Forcei um sorriso educado, recebendo a bebida em minha mão.

"Obrida, P'Phon," agradeci, levando o canudo até a minha boca, mas não realmente tomando nada. Eu ainda podia sentir os nós no meu estômago.

P'Phon ficou mais um tempo ali e não sei se ela percebeu a minha postura rígida ou meu desconforto, mas se o fez, não comentou nada. Se retirando após alguns minutos, não sem antes dizer que se eu precisasse de algo, era só pedir. Assim que ela fechou a porta atrás de si, senti meu corpo relaxar, apesar de ainda sentir minhas mãos trêmulas enquanto abandonava a bebida intocada no móvel ao lado do sofá.

Eu estava sentindo muita coisa ao mesmo tempo naquele instante e não sabia o que fazer com todas as informações que atravessavam meu corpo e minha mente. Por algum motivo, eu repetia em loop o único beijo fora das câmeras que eu havia compartilhado com Freen há anos atrás, assim como o meu estúpido "eu te amo" e o doloroso "não podemos". Era como se minha mente tentasse me relembrar que essa era a nossa realidade. Que Freen não estava simplesmente esfregando algo novo em minha cara, que essa era uma realidade que eu vivia fazia anos, mesmo que eu tentasse ignorá-la. Freen sabia que eu a amava, porque eu havia lhe confessado. Eu sabia que ela me amou algum dia, porque seus olhos me confessaram. E ambas havíamos combinado que não podíamos viver aqueles sentimentos.

Flashback

"Por quê?" eu ainda podia ouvir a minha própria voz sair quebrada.

Freen me encarou com os olhos arregalados e eu podia sentir a sua própria dor emanando deles.

"Temos um contrato, Becky. Você sabe disso. Por favor, não faça parecer como se isso fosse novidade para você. Como se essa fosse a minha decisão e não a nossa. Não me faça sentir como se eu estivesse quebrando seu coração," ela falou em um tom de voz baixo, mas claramente desesperado.

E eu tive que engolir o soluço que queria sair da minha gargante. Porque ela tinha razão. Aquela tinha sido a nossa decisão quando assinamos o nosso segundo contrato. E tinha continuado sendo a nossa decisão quando assinamos os outros que se seguiram. Há alguns anos atrás, logo depois de GAP, havíamos decidido juntas que a nossa carreira era o mais importante e que a única forma de garantirmos estabilidade, era que apesar do carinho que sentíamos uma pela outra, antes de tudo, seríamos profissionais. Só assim poderíamos garantir uma carreira longa, com nossos caminhos entrelaçados. E confesso que nesse tempo, só o que eu queria era garantir que nada mudasse. Que eu sempre tivesse P'Freen ao meu lado. Eu não sabia que ao assinar aqueles papéis, eu estava na verdade garantindo que sempre teríamos uma distância entre a gente.

"Me desculpe. Você tem razão," eu respondi, passando as costas das minhas mãos sobre os meus olhos e respirando fundo, me forçando a engolir tudo o que eu sentia naquele momento. Não era justo o que eu estava fazendo com ela. Ela não era a vilã daquela história.

Freen tomou a minha mão, que agora caia como um peso morto sobre as minhas pernas e entrelaçou os nossos dedos mais uma vez.

"O importante é que a gente vai estar sempre aqui uma para a outra," ela disse, me encarando nos olhos. "Eu vou estar sempre ao seu lado."

Fim do Flashback

E ela sempre estaria. O que eu não sabia, é que teriam outras pessoas. Eu deveria imaginar, é claro. Somos jovens e Freen é a mulher perfeita. Ela não ficaria só por muito tempo. Mas eu tentava me enganar. Acreditar que ela podia ter outras pessoas, mas eu sempre seria a mais importante, assim como ela era para mim.

Mas eu deveria saber que um dia ela encontraria alguém. Alguém que ela pudesse entregar todos os seus toques gentis, os seus atos de serviço como as declarações mais profundas de afeto, e entregar seu coração por completo. Sem reservas, sem distâncias... Sem contrato.

Quando a porta do camarim se abriu mais uma vez, dessa vez eu sabia que era ela. E eu fiz de tudo para segurar os pedaços do meu coração em um só. E me esforcei para respirar compassadamente, para que meus olhos não confessassem tudo o que eu sentia. Porque Freen não era a vilã daquela história. Ela amar alguém verdadeiramente a ponto de furar nossa bolha não era uma forma de me machucar. Esse tinha sido o caminho que havíamos escolhido juntas e por mais que me doesse cada célula do corpo, eu ia ter que aprender a conviver com isso para que aquela promessa valesse a pena. Para que Freen nunca saísse do meu lado.

"Nong Beck," ela me cumprimentou, me olhando de forma gentil, como se tentando me ler.

E eu pensei em fingir algum sorriso ou uma animação exagerada, mas eu sabia que ela veria por trás de qualquer mentira que eu inventasse, então decidi ser honesta. Ou o mais honesta que eu podia ser naquela nossa dança. Eu daria o que era dela e guardaria o resto para mim.

"Bom dia, P'Freen," lhe  cumprimentei com um sorriso dolorido, mas resignado. O qual ela me respondeu com um similar.

Então, mais uma vez, mesmo sem falar nada, eu sabia que nos entendíamos.

E, não pela primeira vez, eu odiei aquela promessa.

Notas da autora:

Bom dia, bebês! Como estamos?

Desculpa a demora e o capítulo curto. Vou tentar atualizar ainda essa semana antes da quinta-feira para compensar vocês.

Até o próximo!

InfiniteOnde histórias criam vida. Descubra agora