13. Presente, passado e futuro

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POV FREEN

Era estranho pensar em como tão pouco tempo pôde desestruturar toda uma história. A presença constante, que antes preenchia meus dias, agora me observava de longe, com olhares furtivos, que só faziam com que os curtos metros entre nós se tornassem distâncias inalcançáveis. Mas talvez eu não devesse culpar o tempo, e sim as pequenas muitas escolhas equivocadas que fiz durante todos esses anos, na tentativa vã, de mantê-la sempre ao meu lado.

No Budismo, nos é ensinado a prática de viver "um dia de cada vez", que está particularmente alinhada com a ênfase na atenção plena (mindfulness) e na aceitação do momento presente. Em vez de nos preocuparmos com o passado ou o futuro, o budismo nos encoraja a estar plenamente presentes no aqui e agora, enfrentando cada momento com consciência e serenidade.

E apesar de essa prática ser uma constante em minha vida, eu me via quebrando todos os meus ensinamentos nos últimos tempos. Era difícil não pensar no passado quando aqueles olhos brilhavam dor e decepção em minha direção, me fazendo questionar cada decisão que eu havia tomado até então. Era extremamente complicado não temer um futuro onde eu não pudesse me aninhar em seus braços no final de um dia cansativo e cochilar sentindo a sua respiração quente em meu ouvido.

E era simplesmente impossível focar em um presente onde seus lábios tocavam os lábios de outra.

O meu coração, que vinha se quebrando a cada dia com o nosso afastamento, parecia pulsar cada vez mais forte no meu peito com a cena inesperada. Era como se eu conseguisse sentir a dor latente em cada pequeno pedaço dele e eu queria fugir, mas ao mesmo tempo os meus pés não me permitiam. Eu tinha vindo alí por um motivo, um o qual eu não conseguia pôr em palavras, mas um motivo real. E talvez eu ainda não estivesse pronta para simplesmente desistir dele.

Quando ela chamou meu nome, eu não consegui levantar meus olhos para encarar os seus. Confesso que toda nova vez que eu a via, eu temia que seus olhos não mais me recebessem como algo positivo, mas sim como algo a se evitar. E dessa vez, toda a situação se tornava propícia para que seu olhar fosse exatamente o meu mais temido.

"Ei." Respondi timidamente, ainda sem coragem de encará-la.

"O que você está fazendo aqui?" O seu questionameno curioso me fez suspirar, tomando toda a coragem em mim para que meus olhos pudessem finalmente encontrar com os seus. Quase respiro em alívio em ainda não ter sido dessa vez.

"Eu podia mentir e dizer que não sei, mas a verdade é que eu precisava te ver..." Falei me sentindo extremamente sem jeito. Não só pelo o que eu havia expericenciado minutos antes, mas por ser esse o novo sentimento que surgia ao estar perto de Becky. Eu me sentia insegura, exposta, ferida. Eu sabia que não tinha direito de me sentir assim, mas onde que sentimentos ligam para certo ou errado?

"Você sabia que eu tinha planos hoje a noite," ela falou de forma um tanto acusatória e eu sabia que ela tinha razão.

"Sim, eu sabia e por isso que eu vim mais tarde," respondi. "Eu pensei que a gente podia conversar..."

Eu não sabia sobre o que ou como, mas eu não podia mais viver entre arrependimentos do passado e temores do futuro, eu precisava que o meu hoje valesse a pena. E apesar de não saber como eu faria isso ainda, eu sabia que estava disposta a tudo. Por Becky eu quebraria todas as barreiras e correntes, até aquelas que eu ainda não conseguia ver claramente.

Becky me interrompeu, se aproximando de mim com um olhar preocupado para os nossos arredores, antes de grudar ele no meu, como se quisesse me dizer algo muito importante.

Engoli em seco.

"Freen, não é justo você fazer isso agora. Não é justo você aparecer aqui do nada, querendo conversar exatamente no dia que eu dou o meu primeiro passo para tentar recomeçar a viver a minha vida..." Ela começou, mas eu a interrompi.

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