9. Aceitação

1.7K 177 70
                                    

POV BECKY

Freen não respondeu imediatamente a minha confissão de mudança, ficando calada e pensativa por alguns segundos. Seu rosto virado para o lado oposto do meu, não me permitiu analisar suas expressões, mas sua mão esquerda apertava com força o tecido da sua calça folgada. 

Meus olhos, treinados em cada movimento seu, tentaram buscar uma resposta dela em seu silêncio, mas eu não tive que esperar muito, pois seu rosto delicado voltou a encarar o meu. Seus olhos demonstravam que ela estava em uma batalha interna. Eu sabia claramente que aquela era sua expressão tentando conter as lágrimas e eu senti meu mundo desabar. Toda vez era assim, era como se eu fosse um amplificador dos sentimentos de Freen. Se ela estava feliz, eu me sentia radiante, agora se algo a feria, era como se estivessem me matando.

"Faz algum tempo que eu sabia que estava sendo injusta com você," ela começou, me fazendo prender a minha respiração. Seus olhos tão intensos quanto sua voz mais grave que o habitual. "Por um tempo, eu simplesmente tentei fingir que as coisas não estavam mudando, porque eu não queria que elas mudassem," ela disse com um sorriso triste formando em seu rosto, ao mesmo tempo que ela negava com a cabeça. "Parece bobo, mas eu achei que se continuássemos agindo naturalmente, as coisas voltariam ao normal," ela falou, desviando seu olhar para o seu colo, onde agora, ambas suas mãos estavam apertadas em punhos. "Foi uma maneira desesperada de tentar me segurar no que tínhamos, no que eu nunca quero perder," seus olhos voltaram aos meus como se tentando demonstrar a veracidade de suas palavras.

Mas ela não precisava, eu sabia disso. Eu sabia que esse sentimento intenso não era unilateral. Que tínhamos uma dependência profunda uma da outra. No meu caso, eu havia entendido anos atrás que era amor, puro e complicado, mas amor. Freen, no entanto, parecia não saber transcrever aquilo. Ou simplesmente não se permitia, eu não saberia dizer.

"Eu não entendo," falei soltando um suspiro, enquanto sentia lágrimas percorrem pelo meu rosto. "Sempre nos falamos de tudo. Sempre tivemos conversas longas e claras sobre o que sentíamos, até que decidimos essa bendita promessa e tudo parece que foi pro ralo," desabafei, sentindo uma raiva ecoar em mim, enquanto enxugava bruscamente meus olhos. "Tudo mudou naquele momento, P' Freen, no momento em que começamos a editar as nossas vidas apenas para continuarmos encaixando uma na vida da outra."

"Eu não vejo desta forma," Freen disse em uma voz tão delicada e vulnerável, que meus olhos que evitavam ao máximo focar no seus durante minhas últimas palavras, grudaram nos seus, sem nem eu ao menos perceber. "Para mim, você é o meu encaixe principal."

Meu coração errou as batidas no meu peito e eu quis derreter, chorar, explodir e gritar ao mesmo tempo. Porque aqueles olhos castanhos que eu tanto amavam brilhavam a sua sinceridade pura e eu sabia, no lugar mais profundo da minha alma, que ela estava sendo verdadeira. Mas sabia, com a mesma veemência, que ela ainda assim não ia querer o mesmo que eu.

Suspirei pesado, fechando meus olhos. Primeiramente para fugir da intensidade dos seus, e segundo para tentar buscar um pouco de equilíbrio para chegar ao fim daquela conversa com alguma espécie de sanidade.

Abri meus olhos quando senti que já podia respirar novamente e vi que Freen parecia esperar uma resposta.

"Eu poderia dizer que parte de mim desacredita das suas palavras," falei e vi claramente a expressão de dor se formar nos olhos de Freen, por isso logo tratei de prosseguir com a minha linha de pensamentos. "Mas não seria verdade," falei, tocando suas mãos com as minhas, pois ambas estavam tão apertadas que eu sentia que ela podia estar se machucando.

Não sei se minhas palavras ou o meu toque, mas o seu corpo relaxou em segundos e seu aperto afrouxou, deixando suas mãos livres para que eu pudesse inspecionar se suas unhas haviam machucado a sua palma. O que eu fiz, delicadamente, passando meus dedos pelas pequenas marcas nas suas mãos delicadas.

Passei algum tempo perdida naqueles gestos, apreciando minhas mãos nas suas, quando suas mãos fecharam juntas sobre meus dedos, buscando encaixar os seus nos vãos dos meus.

"O que eu devo fazer?" a voz entrecortada de Freen, me fez encarar seu rosto com tremenda rapidez e encarar sua dor escorrendo em lágrimas pelas suas feições delicadas.

A pergunta era curta, mas eu sabia que englobava tantas outras.

O que eu devo fazer agora?

O que devo fazer pra não te magoar?

O que devo fazer para me entender?

O que devo fazer para tudo continuar o mesmo?

Eu sabia que essa última era a principal, por algum motivo. Freen demonstrava claramente que ela necessitava, usando essa palavra no seu sentido mais literal e verdadeiro, que as coisas se mantivessem iguais. Eu não sabia porquê, ela parecia também não saber me explicar. Eu só sabia que eu não podia. Não mais.

"As coisas não podem se manter iguais, P'Freen," respondi com a voz também embargada, porque eu daria o mundo para a mulher a minha frente. Daria qualquer coisa para não vê-la chorar, mas eu sentia que eu já não tinha mais nada para dar. Que se eu não me priorizasse enfim, eu me perderia completamente. E eu não estava disposta a isso. Nem mesmo por ela. "Talvez você precise entender seus sentimentos. Talvez você já os entenda, mas não consiga expressar. Talvez isso aqui nunca tenha sido feito pra dar certo," falei apertando suas mãos nas minhas, ao mesmo tempo que negava com a minha cabeça, enquanto as lágrimas caiam sobre meu rosto. Era difícil de aceitar a última alternativa. "Mas a verdade é que agora eu tenho certeza do que quero e do que necessito," meus olhos prenderam nos dela. "E tudo o que eu menos quero é que as coisas continuem do mesmo jeito."

E ali estava a verdade. Eu amava Freen com toda a paixão que eu havia conhecido nos meus anos de vida. E tinha oferecido, ano a ano, todas as partes de mim a ela. Se ela não estava pronta, ou não retribuía os meus sentimentos, eu não poderia ficar esperando por aquela resposta.

"Ambas queremos coisas diferentes, acho que devíamos finalmente aceitar isso."


Notas da autora:

Bom dia, bebês!

Sim, estou viva.

Pra quem não me acompanha no tt, eu estava afastada daqui, pois sou professora de matemática do ensino público e outubro e novembro é uma loucura com aulões, simulados e etc em relação ao ENEM, e esse ano, ao SAEB. Mas passou e pretendo voltar a postar com mais frequências.

Espero que tenham gostado do capítulo. E a partir de agora, quero escrever os próximos passos da BecBec.

Sobre um POV da Freen, eu ainda estou pensando se vai ter ou não no futuro. Veremos.

Até o pŕoximo!

InfiniteOnde histórias criam vida. Descubra agora