4. Não

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POV BECUXA ESTÁ NO BRASIL AAAAAAAAAAA

Não esperei para ver qual seria a próxima reação de Freen, apenas fechei minha mão com força na alça da mochila que eu trazia pendurada em meu ombro direito e desviei o caminho, indo em direção a parte interna da arena. Meu coração batia acelerado ao mesmo tempo que eu sentia um aperto no meu peito. Algumas lágrimas se formavam em meus olhos e tudo o que eu queria era voltar para casa e fingir que nada daquilo estava acontecendo.

Claro que eu sabia da existência da figura alta masculina que havia adornado os lábios de Freen com o seu sorriso mais bonito. Por mais que tentássemos evitar esse assunto a todos os custos, eu e Freen eramos figuras públicas e, mesmo que evitássemos, nossa vida privada acabava nas mídias e sempre entrelaçadas, de uma forma ou de outra.

A passos rápidos eu cheguei no camarim e fechei a porta atrás de mim. Eu não teria muito tempo sozinha, mas eu precisava de alguns minutos para me recompor. Apesar de eu saber da existência de Pravat e dois sete longos meses da relação dele com Freen, eu nunca imaginei que ele seria aquele pela qual ela quebraria o nosso acordo mudo de manter nossas relações privadas... Bem, privadas.

Há muitos anos atrás, quando os nossos sentimentos estavam a flor da pele e confusos, havíamos feito uma promessa. Uma promessa que eu amaria e odiaria com o mesmo vigor nos anos que viriam, mas uma que nunca havíamos quebrado. Não que ao trazer Pravat para a nossa bolha, Freen tivesse quebrando essa promessa, pelo contrário, na verdade era apenas mais uma forma de mantê-la, mas isso não quer dizer que doía menos.

Flashback

Eram um pouco mais de 22:00 quando chegamos, exaustas, em nosso quarto de hotel. Apesar do cansaço e do intenso jet lag, eu conseguia sentir ainda pulsando em minhas veias a excitação e a energia dos fãs brasileiros. Meu corpo vibrava a intensidade daquele dia e o sorriso que estampava o meu rosto era porque, apesar dessa ser minha segunda vez na América Latina, dessa vez eu a tinha comigo.

Não que a minha primeira viagem ao Brasil não tivesse sido incrível ao lado do meu irmão para a divulgação de Long Live Love. Tinha sim sido uma das minhas recordações mais bonitas. A diferença era, que dessa vez, eu podia compartilhar aquele amor que irradiava daquelas pessoas calorosas com Freen. E tudo era sempre mais especial com Freen ao meu lado.

"Isso foi uma loucura," a mais velha falou, jogando o seu corpo de forma desleixada sobre a cama no centro do quarto de hotel. Ela tinha o seu corpo magro coberto por um vestido leve e florido e seu cabelo solto combinado com os olhos pequenos do cansaço, faziam ela ainda mais linda para mim.

"Mas ótimo, não foi?" falei me sentando ao seu lado e me virando para encará-la.

Ela tinha seus pés no chão da cama, com as pernas dobradas, mas o restando do seu corpo estava esparramado na cama. Os seus olhos buscaram os meus e um sorriso se formou em seus lábios ao mesmo tempo que ela estendeu sua mão para tomar a minha sobre o meu colo.

"Foi perfeito, Bec. Bem que você disse que os fãs brasileiros são diferenciados. O barulho foi diferente, mas eu me sinto incrível," ela disse pressionando seus dedos contra os meus. 

"Eu fico feliz de poder compartilhar mais esse momento com você," falei, sentindo mais uma vez, como muitas outras vezes antes, uma sensação intensa se alocar no meu peito.

Fazia algum tempo que eu tinha esses momentos de sentimentos avassaladores quando estava com Freen. Por um tempo eu tentei me enganar e fingir que não entendia o que se passava comigo, mas chegou um momento que eu não consegui mais mentir para mim mesma. Freen era uma mulher especial. Doce, gentil, atenciosa, linda de morrer. E como se isso tudo não bastasse, nós compartilhávamos praticamente todas as nossas horas juntas. Tudo isso era a receita perfeita para eu desenvolver sentimentos por ela. Era quase impossível não.

Às vezes, do nada, quando estávamos assim, em um momento de intimidade, eu sentia uma coisa tão intensa percorrer pelo meu peito, que eu achava que ia sufocar. Eu nunca havia me sentido assim antes. Estar com Freen era tudo o que eu mais desejava. Ter sua presença ao meu lado parecia ser tudo o que eu precisava para ser feliz às vezes.

Enquanto eu tentava controlar o turbilhão de sentimentos em mim, desviei meu olhar do seu e encarei nossas mãos juntas em meu colo. O encaixe delas era perfeito. Os meus dedos finos e longos cabiam perfeitamente entre os também longos, mas mais delicados de Freen. Eu amava encarar nossos dedos entrelaçados, porque para mim era a metáfora perfeita para o que éramos uma para outra. A gente se encaixava, se completava. Freen era um espírito livre, mesmo que discreto. Eu era reservada, mesmo que aventureira. Ela era a calma para a minha turbulência. Eu era o conforto para os seus receios.

"Ei," a sua voz suave me tirou dos meus pensamentos, me fazendo voltar a desviar meus olhos até o seu rosto. "O que está passando nessa cabecinha?"

Ela fez essa pergunta habitual entre nós duas. Freen sempre tentava não me deixar presa em minha própria cabeça, pois ela sabia que às vezes esse podia ser o lugar mais perigoso para mim mesma.

"Em nós," falei honestamente. Eu estava feliz e cansada demais para tentar disfarçar meus sentimentos.

Um sorriso lindo surgiu em seu rosto e ela me puxou levemente pelas nossas mãos entrelaçadas, para que eu me deitasse ao seu lado na cama. Assim que fiz o que ela desejava, ela soltou a minha mão para poder se virar de lado na cama e me olhar melhor.

"Eu sou tão grata e feliz que eu posso fazer tudo isso ao seu lado. Estar aqui, no outro lado do mundo, divulgando um trabalho de amor e, mais que isso, recebendo todo esse amor de pessoas que nem compartilham o nosso idioma, é um sonho, sem dúvidas. Mas estar aqui, vivendo tudo isso, com você ao meu lado, é o que torna a realidade ainda melhor que esse sonho," suas palavras foram faladas de maneira calma e num tom de voz baixo, numa intimidade só nossa. 

Seus olhos castanhos brilhavam sua verdade e aquela sensação de antes tomou todo o meu corpo, não só o meu peito. Eu sentia em cada célula de mim todos os sentimentos por Freen. Ali, com o seu rosto próximo ao meu, falando àquelas palavras, depois de ter vivido um dia intenso, eu me senti mais conectada a ela do que eu jamais havia feito. E eu sabia que não tinha mais volta. Era aquilo. Era Freen. E sempre seria Freen.

Sem pensar, no fim de um suspiro, eu fechei a distância que nos separava e cobri sua boca com a minha. Meus olhos fechados e tudo o que eu conseguia era sentir. Eu não pensava em nada quando ela retribuiu o meu toque com a sua boca, intensificando aquele beijo quase desesperado. Meu coração batia forte no meu peito e era como se eu conseguisse ouvir ele martelando intensamente em meus ouvidos: Freen, Freen, Freen...

Quando meus dedos entrelaçaram nos seus cabelos finos e nossa respiração ficou descompassada com a falta de oxigênio, nós separamos os nossos lábios milimetricamente. Eu ainda sentia sua respiração na minha boca, seu cheiro feminino misturado com a taça de vinho do jantar, a pele quente da sua nuca contra meus dedos. Eu sentia ainda o gosto do seu beijo e cada parte de mim que amou Freen desde o início. Eu sentia tudo e nem que eu quisesse eu conseguiria manter esse sentimento em mim.

Como uma confissão antes do suspiro final, eu admiti, não apenas para mim, mas para ela:

"Eu amo você."

E eu amo. E parte de mim sabe que continuarei amando pela vida inteira.

Mas se eu soubesse o que viria a seguir, eu teria guardado em mim aquele segredo à sete chaves, porque o seu toque, o seu cheiro e o seu gosto se distanciaram com a mesma velocidade que eu havia colado as nossas bocas.

"Não podemos, Becky," foram suas palavras.

E talvez as palavras sozinhas tivessem sido o suficiente para partir meu coração, mas a reciprocidade dos meus sentimentos brilhando nos olhos de Freen foram mais eficazes. Porque sim, ela me amava também, isso era claro como o dia, mas ela não podia. Não podíamos. E essa era o mais difícil de engolir.


Notas da autora:

Boa tarde, bebês! Como estamos?

Eita que mais uma vez eu comecei com uma ideia e quando eu vi, puf, o capítulo foi em outra direção. Mas eu amo esse processo da escrita.

Espero que estejam gostanto e até o próximo!

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