8. Futuro

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POV BECKY

O restante do trajeto do elevador foi desconfortável, mas eu tentei focar em deixar a minha mente clara o suficiente para a conversa que viria a seguir. Eu não devia a Freen nenhuma resposta sobre a embalagem em minhas mãos. Essa tinha sido a nossa decisão no passado, que tinha transformado a nossa relação de uma maneira tão profunda, que só agora eu conseguia ver como de verdade me abalava. Eu tinha que focar no que viria a seguir, porque mudaria tudo, então não respondi ao seu comentário e só voltei a falar quando entramos em meu apartamento.

Freen fechou a porta atrás de si, enquanto eu caminhava para pendurar minha bolsa no cabideiro que eu tinha próxima a porta de entrada. Eu vestia um short leve preto e um moletom cinza, logo estava o mais confortável que poderia para aquela conversa. 

Deixei o pacote da Dior sobre a cristaleira que ocupava o hall de entrada e segui até o sofá, tentando manter minha respiração calma e compassada. Foi só então que percebi que Freen não estava ao meu lado. Olhei, confusa, em direção a porta, e percebi que ela estava parada ali, desconfortavelmente. Seu rosto mantinha uma expressão fechada, confusa e triste, enquanto seu corpo mantinha uma postura retraída. Senti meu coração praticamente parar no meu peito. Era doído vê-la assim em minha presença. Ainda mais doído pensar que eu havia colocado aquela expressão em seu rosto.

"P'Freen," chamei em um tom de voz delicado, fazendo com que seu rosto levantasse, lentamente, em direção ao meu. "Vem," a chamei gentilmente com a minha mão direita.

Ela me olhou por alguns segundos, como se em transe, antes de, finalmente concordar, e andar em minha direção, sentando no sofá ao meu lado e deixando sua bolsa no chão. Vi seus olhos focarem brevemente onde eu havia deixado o pacote, antes de voltarem a encontrar o meu rosto.

Busquei a melhor maneira possível para começar aquele diálogo. Ela me olhava com um semblante mais neutro, mas eu a conhecia o suficiente para saber que todas as emoções anteriormente expostas em seu rosto, ainda estavam presentes por trás daquela máscara.

"Eu pensei inúmeras vezes em como seria essa conversa," confessei com um suspiro pesado, decidindo que a sinceridade era o melhor caminho. "Por tanto tempo deixamos tantas coisas no não dito em nossa relação, mas eu cheguei a um limite que não posso mais," esse final saiu um pouco abafado e eu tive que contar as lágrimas teimosas que insistiam em se formar nos meus olhos. 

Abaixei meu olhar do seu rosto, porque de repente falar tudo o que eu queria parecia demais. Fechei meus olhos e tentei recobrar a clareza que eu tanto busquei nos minutos anteriores, quando senti um toque quente em minhas mãos e reabri meus olhos para encarar a mão de Freen sobre a minha.

"Você pode sempre ser honesta comigo," ela falou em seu tom gentil e maduro, me fazendo voltar a encará-la. Entre todos os sentimentos que ela agora não conseguia mais tranformar em neutralidade, eu via a honestidade brilhando em seus olhos castanhos.

"Eu preciso me desapegar," falei honestamente.

Eu pensei que ela distanciaria seu toque da minha mão quando seu rosto morfou mais uma vez para uma expressão de desconforto e tristeza, mas sua mão continuou sobre a minha. Ela nada disse, mas acenou com a cabeça para que eu continuasse.

"Eu sei que há muito tempo atrás, decidimos juntas que seríamos amigas e profissionais acima de tudo. Que tivemos conversas longas sobre como sentimentos românticos poderiam mudar completamente nossa dinâmica e que, naquele momento, concordamos juntas que a melhor maneira de evitar qualquer conflito entre nós, era nos mantermos sempre amigas e apenas amigas," continuei, me sentindo orgulhosa de como a minha voz continuava firme apesar dos sentimentos conflitantes e intensos vibrando em mim. "Mas eu já não consigo fingir que esses sentimentos existem," confessei mais uma vez, com outro suspiro pesado e agora sendo incapaz de manter as lágrimas em meus olhos.

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