Capítulo 3- Amizade Sincera

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A noite do aniversário da jovem transcorreu de maneira agradável, mas um turbilhão de emoções surgiu quando Adhara se viu envolvida em uma pequena discussão com sua amiga. O tópico em questão era a insistência de Débora para que ela se arrumasse mais, agora que oficialmente era maior de idade, e também porque a celebração em sua casa havia lhe rendido muitos presentes, muitos deles relacionados à beleza.

– Olha isso, você vai me emprestar, né? – Débora exclamou, pegando uma caixinha de perfume e espirrando o conteúdo em seu pulso. – Nem precisa responder, eu tenho a melhor amiga do mundo!

Ela colocou o perfume de volta na caixa enquanto abria outro embrulho, que revelou ser um creme corporal.

– Só não é mais folgada porque é só um. – Adhara brincou. – Já imaginou se eu tivesse duas de você? Dá até medo.

Débora soltou uma risada contagiante, característica dela.

– Estrelinha, eu sei que você me ama, pode falar...

Desde que a amiga descobriu que seu nome era uma homenagem a uma estrela, ela a chamava carinhosamente assim. Às vezes de "estrela" e outras de "estrelinha", para a amiga, isso soava menos estranho do que dizer "Adhara".

– Não é porque eu te amo que você tem que abusar de mim!

– Para de drama... – Débora falou de forma exagerada. – Vem cá, deixa eu arrumar você?

– Não, daqui a pouco já vamos dormir.

– Mas deixa eu tentar? Eu quero ver como você fica produzida para encontrar um boy lindo.

– Eu sou cristã!

– E moça cristã também precisa encontrar um cara para casar.

Adhara revirou os olhos, sem muita vontade de prolongar a discussão.

– Então vamos orar para que Deus te envie um bem bonito igual aos de novela. Não, rico não. – Débora ressaltou a palavra com ênfase. -Milionário.–As duas sorriam-  Para te amar do jeitinho que é e sem nenhuma produção, e vai te amar à primeira vista, e vocês vão viver felizes para SEMPRE!

Débora abriu os braços e fechou-os cruzados sobre seu peito, como se estivesse sonhando acordada.

Enquanto Adhara tentava não demonstrar, essas palavras tocaram algo dentro dela. Embora sonhasse sim com o casamento, ela valorizava principalmente a fé e o caráter do futuro marido, mais do que sua aparência ou riqueza. Mas ela se considerava muito nova e atarefada para pensar no assunto naquele momento.

– Ah, tem o meu presente também. – Débora pulou da cama e foi buscar sua bolsa no canto do quarto. – Não entreguei antes porque sou especial e meu presente tem que ser entregue de forma exclusiva, você me entende, né?

Ela voltou com um embrulho nas mãos, e o coração de Adhara apertou levemente. Ela reconheceria o que estava ali dentro mesmo se estivesse a uma distância de dois quilômetros. Era uma bíblia. E, conhecendo a amiga que tinha, ela tinha certeza até mesmo do modelo.

Emocionada, ela pegou o presente e o desembrulhou, sem se importar se estava rasgando o papel. Era a bíblia de estudos dos seus sonhos, aquela que ela havia namorado na vitrine da livraria e na internet, mas que infelizmente nunca havia sobrado dinheiro para comprar. Um misto de gratidão e alegria tomou conta dela, e as duas amigas se abraçaram, celebrando o gesto de carinho e amizade. Decidiram passar a noite juntas, relembrando os velhos tempos em que brincavam, assistiam filmes e compartilhavam momentos alegres e descontraídos.

...............

No início da manhã, o sr. José saiu para trabalhar, trazendo consigo uma resolução decidida. Ele pretendia colocar em prática a ideia que havia surgido em sua mente na noite anterior. Ele não fazia ideia de como o chefe reagiria, mas sentia que era hora de dar um passo à frente. Afinal, apesar da juventude de Luan, sua seriedade e expressão de superioridade o tornavam um enigma.

A mente de José estava repleta de perguntas enquanto ele se dirigia ao serviço. Como o famoso reagiria? Como ele lidaria com uma sugestão vinda de um funcionário de confiança como José? Era uma situação inédita, mas ele estava determinado a arriscar.

Enquanto esperava, José não conseguia deixar de se perguntar se o seu chefe tinha um coração por trás da fachada de seriedade. Ele ansiava por descobrir se havia mais do que as ordens curtas e o olhar imperturbável que caracterizavam Luan Garcia. O serviço de José era apenas dirigir para Luan, não incluía abrir a porta, por ordens do próprio Luan que não gostava de perder tempo. Mas por ansiedade lá estava o motorista segurando a porta aberta. 

 Abrir a porta para ele significava o motorista estar de pé do lado de fora e, em seguida, dar a volta no carro para que o mesmo entrasse. Tempo jogado no lixo.

José engoliu em seco, reunindo toda a coragem que podia. Ele sabia que essa era a oportunidade de abordar o assunto que havia planejado. Conforme Luan se aproximava, José deu um passo à frente.

– Bom dia, Sr. Garcia – cumprimentou, fazendo uma breve reverência.

Luan lançou um olhar rápido a José, mas não disse nada. Continuou sua trajetória em direção ao carro, claramente absorto em seus próprios pensamentos.

José tomou uma inspiração profunda e decidiu seguir em frente, antes que a coragem o abandonasse.

– Com licença, senhor. Eu gostaria de falar com o senhor sobre algo importante.

Luan parou e lançou um olhar curioso a José. Era raro alguém pedir a atenção dele de maneira tão direta.

Não respondeu mas o olhou com uma sobrancelha levemente arqueada.

José sentiu o coração acelerar, mas manteve a firmeza.

– Bem, senhor, é sobre minha filha. Ela é fã de carros e sempre quis ver os veículos de luxo que o senhor possui na garagem desta casa. Ela é uma boa menina, está estudando muito e eu pensei... se o senhor permitisse, eu gostaria de trazê-la aqui um dia, só para mostrar os carros. Ela ficaria tão feliz, e eu agradeceria muito se o senhor concordasse.

Luan olhou para José, parecendo avaliar suas palavras. Era um momento de espera tenso, até que Luan assentiu.

José sentiu um alívio enorme. 

– Obrigado, senhor! Eu realmente aprecio isso.

Enquanto José se recompunha da surpresa e da gratidão, Luan sacou o celular do bolso e verificou a programação do dia que havia recebido de sua secretária. Era uma rotina que ele conhecia bem.

José quase não conseguia acreditar em sua sorte. Ele seguiu com um sorriso radiante e dirigindo até a empresa. Enquanto iam, ele não podia deixar de sorrir ao pensar na felicidade de sua filha quando ela soubesse da notícia.

Por outro lado, Luan estava imerso em sua programação, já começando a planejar como administraria tudo. A breve interação com José tinha sido apenas um pequeno desvio em sua rotina. Ele guardou o celular no bolso e seguiu em silêncio, pronto para enfrentar mais um dia de desafios e decisões.

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