Capítulo 1- Estrela

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A riqueza da humanidade reside em sua diversidade, com cada indivíduo sendo único e impossível de ser igualado a outro, mesmo dentro de grupos semelhantes. Assim como nenhuma árvore é idêntica a outra, cada ser humano é dotado de sua própria singularidade. No entanto, essa característica peculiar nem sempre é celebrada pela sociedade em geral.

Adhara Nunes de Castro personifica essa realidade com maestria. Não apenas através de seu nome incomum, mas também por seus gostos e convicções. Em pleno século XXI, embora tenhamos progredido, vestígios de machismo e preconceito ainda permeiam os espaços sociais.

Não obstante, Adhara, uma jovem criada sob os princípios do cristianismo, carrega em si um chamado extraordinário: o talento de se aproximar de indivíduos solitários, fragilizados ou marginalizados pela sociedade, e forjar conexões profundas com eles. Ela é uma mensageira da salvação e da graça divina, disseminando amor e oferecendo um exemplo vivo de vida virtuosa.

Adhara não se considera perfeita; na verdade, ela reconhece suas imperfeições todas as noites, antes de dormir, ao pedir perdão por eventuais erros e pecados cometidos ao longo do dia. Além dessa dádiva especial, ela nutre uma paixão por carros. Mesmo com menos de 14 anos na época, ela já rivalizava com mecânicos experientes. Seu avô e pai, que administravam uma modesta oficina em casa, transmitiram-lhe todo o conhecimento. Apesar das reticências da família, Adhara exibiu notável habilidade ao lidar com máquinas automotivas. Em algumas ocasiões, ela era capaz de identificar o modelo de um carro apenas pelo som do motor. A razão que a afastava do trabalho formal como mecânica era sua observação das dificuldades que seus patriarcas enfrentaram nessa profissão.

O encontro entre a singularidade de Adhara e a sua paixão por carros cria uma teia de complexidade que é ao mesmo tempo inspiradora e cativante. Sua determinação em seguir seu chamado divino, mesmo enfrentando as adversidades impostas pela sociedade e seus próprios dilemas internos, é um testemunho de força e resiliência. Enquanto a humanidade avança, Adhara permanece como um farol, mostrando que a verdadeira grandeza emerge da autenticidade e do compromisso com o que se acredita.

A oficina era relativamente humilde, assim como o bairro em que vivem. Como tal, os clientes que os procuram também eram humildes. Apesar de ser fácil enganar e cobrar uma fortuna por reparos desnecessários, a família nunca cobra mais do que o justo. Há períodos de fartura, mas também de crise. Houve momentos em que Adhara viu seu pai, Sr. José, procurar desesperadamente um emprego estável para sustentar a casa. No entanto, Deus providenciou tudo por meio de um vizinho, que era jardineiro e o indicou para ser motorista particular de um homem rico. José trabalha incansavelmente, dirigindo durante o dia e ajudando na oficina à noite e aos sábados.

Definitivamente, essa não é a vida que a jovem queria para si. Alguns cliente não viam com bons olhos "uma mulher" consertar seus carros. Aos poucos, o coração de Adhara se abre para novas possibilidades, como ser médica, pedagoga ou assistente social, pois ela gostava de ajudar as pessoas. Não é muito inteligente, mas seu esforço compensava. Formou-se no colegial aos 17 anos e conseguiu uma bolsa em uma renomada universidade particular, escolhendo o primeiro curso de sua lista: medicina. Ela era o orgulho da família.

A família estava vivendo um bom momento. Recentemente, o salário de José teve um reajuste, um aumento pequeno, mas que fez diferença. O avô Alberto, com apenas 59 anos, era forte e administra bem a oficina. As finanças nunca estiveram tão bem. Dona Ana, esposa de José, decidiu fazer um jantar especial para comemorar o aniversário de 18 anos de Adhara, mesmo ela não sendo mãe biológica da jovem elas tinham uma convivência razoável. Adhara convidou sua melhor amiga, Débora, para participar. A casa estava cheia, com parentes e pessoas da igreja. Eles fazem uma breve oração de agradecimento pela vida da jovem antes de jantar.

As crianças correm e gritam pela casa, incluindo Miguel, filho de José e Ana, de 7 anos, cheio de energia. Os adultos conversam enquanto a aniversariante presta atenção. Ela concorda ou responde sucintamente quando alguém fala com ela. Ela presta especial atenção à conversa entre seu pai e o vizinho.

- Mas já perdi a conta de quantos carros ele comprou desde que eu comecei a trabalhar lá. - O pai falou enquanto olhava para os dedos fazendo um movimento de quem estava contando.

- Eu sei que não é certo falar dos outros mas ele é um homem meio solitário, não me lembro de nem uma vez encontrar alguém da família o visitando, nem namorada. Acho que ele gasta esse dinheiro todo comprando coisas desnecessárias para se ocupar, sabe, ter algo para fazer. - A filha viu seu pai concordar brevemente com a cabeça.

- Mas temos que admitir que ele tem muito bom gosto. - O pai comprimiu os lábios em admiração - Antes era um Chevrolet Corvette e agora uma BMW X6. - Disse com uma grande admiração. - Ontem, quando ele me pediu para levar o carro até a empresa nem acreditei, até entrar naquela máquina. - Suspirou. - Parecia que eu estava entrando em uma espaçonave.

- Meu sonho é entrar em uma delas, você tem sorte de poder fazer isso todo dia!- Disse o vizinho com empolgação- Eu fiquei sabendo que ele vendeu um dos carros essa semana, é verdade?

- Na verdade ele trocou por um modelo mais novo, o dono daquela marca de superesportivos que ele frequenta, parece ter oferecido uma parceria ou algo do tipo, só entendi que pediu o modelo mais velho para passar para outro colecionador e vai trazer para o país o modelo mais novo a ele, "sem custo nenhum".- Frisou a última parte como se não acreditasse no que ele mesmo dizia.

Dona Ana sorri amarelo para o amigo do marido como pedido de desculpas por trazer o assunto de trabalho à mesa. Sr. José suspira e percebe que sua filha também está atenta à conversa. Adhara está animada com o que ouviu sobre o carro do patrão do pai, seus olhos escuros chegam a brilhar imaginando tantos carros lindos, o que fez o pai tomar coragem de pedir um favor ao chefe.

SUBLIME- A Caminho Da MesaOnde histórias criam vida. Descubra agora