Luan Garcia
-Sorriso, por favor sorria...- O fotógrafo fala com empolgação enquanto marca mais um clique de foto.- Isso, isso, agora encosta na mesa e fixa o olhar na câmera.
Luan cruza as pernas enquanto se apoia em sua mesa para mais uma série de cliques.
-Assim mesmo, excelente. - Elogia o fotógrafo enquanto sua equipe reposiciona as luzes para os próximos takes. - Agora Doutor Garcia, pode se posicionar ao lado de seu filho por favor.
Bernardo, o mais velho, caminha sorridente para o lado do filho e o abraça como se estivesse orgulhoso, depois o abraçou de lado e por sobre os ombros largos do filho. Bernado já estava completando 65 Anos, ainda era um senhor muito jovial, bem aparentado e seu cabelo alinhado num corte de cabelo social, mesclado entre loiro e grisalho contrastava com seu físico quase tão forte quanto o do filho, o que o deixava ser um homem ainda muito charmoso.
Ambos os homens pareciam ser o mesmo, separados pelo tempo, tiraria suspiros de muitas mulheres e de todas as idades que futuramente teriam acesso aquelas imagens.
-Perfeito! - O fotógrafo continuava a fotografar. Amanda, querida... poltrona.
Uma moça pede licença aos dois e os posiciona em outras poses, mas agora na cadeira da gerência, ou a cadeira do Luan, o filho fica sentado com as costas tensa enquanto o pai, de pé, mantém as mãos, no ombro do filho em uma pose mais confiante e relaxada. A fotografia de milhões. Representando o jovem que recém assumiu a liderança com o apoio do mais experiente.
-Perfeito! - O fotógrafo finaliza com o último clique...-Terminamos por aqui.
Luan aproveita a oportunidade para afrouxar um pouco sua gravata enquanto o pai solta seu ombro e caminha para fora da sala apressado para encontrar os amigos no campo de golfe.
O fotógrafo percebe que não há despedidas, o clima se tornou frio e pesado, sem interação entre pai e filho, como se as fotos tivessem sido uma enorme mentira, coisa que o fotografo não sabia se elogia a atuação ou se sentia um impostor por ter fotografado um teatro. O orgulho pelo seu trabalho havia se transformado em um sentimento de que algo ainda estava incompleto, as fotos ainda não estavam perfeitas como ele queria.
-Meus parabéns, a matéria deve ser publicada na próxima semana. - Informa o moço.
-Obrigado.- Luan agradece sem nenhuma empolgação. O sorriso espontâneo das primeiras fotos já tinha a muito tempo sido substituído pela expressão neutra e fria.
A equipe começou a recolher o equipamento das fotos e a sala voltava lentamente a organização original, Luan havia entrado na lista dos homens mais ricos do mundo com seus próprios investimentos em startups de tecnologia e inovação e até tinha holding em terras. Seu pai já estava nessa lista há anos, mas era um marco importante ter pai e filho juntos, mas por diferentes setores.
Com a cabeça latejando de dor, frequente pela má qualidade do sono, ele estranha quando pega o celular que lhe mostra a notificação de mensagens da sua cozinheira.
Mensagem 1:
"Já contratei a acompanhante para Dona Catharina, ela começa hoje."
09:00am
Mensagem 2:
"Sr. sua avó não aceitou a enfermeira e a mulher se recusou a ficar"
11:00am
Mensagem 3
"Não se preocupe, já chamei outra pessoa. Adhara, a jovem que o senhor conheceu."
12:01
Mensagem 4
"Ela é a filha do José, seu motorista."
12:01
Luan observava brevemente a movimentação na sala, seus olhos varriam o ambiente enquanto ele tentava processar a informação que havia acabado de receber. A confusão se espalhava por sua mente.
A notícia havia sido entregue com naturalidade por Maria, apenas uma informação rotineira sobre sua casa. Luan se lembrava do nome e da menina, mas não da maneira que esperava. Um azedume, um sentimento enraizado em algum lugar que ele não seria racional ao explicar, fez com que sua expressão se contorcesse levemente. Ela tinha experiência para o cargo? Sua avó ficaria bem com aquela menina?
Ele não sabia quantos anos ela tinha, mas se lembrava de que pensou que se tratava de uma adolescente, depois soube pela lógica que em situações normais ela já deveria ter atingido a maioridade para estar cursando medicina, ainda assim nada disso tinha nada haver, porque ele pensava sobre isso? Só por que ela quase revirou seus carros do avesso e fez uma análise clínica? Ela não parecia qualificada para cuidar de sua avó.
Ele nunca havia se aprofundado nas razões das contratações que Maria fazia, mas ali estava, diante de um certo incômodo. A confusão em seus olhos era uma reflexão de seus pensamentos tumultuados. Ele se perguntava se deveria dar uma chance à nova funcionária, se deveria superar essa reação instintiva baseada em algum ressentimento que ele nem conseguia recordar de uma razão razoável e com clareza. A menina só havia se interessado por seus carros, nada de mais, algo normal dado os modelos.
Seria preocupações genuínas com a avó? Luan sabia que não podia simplesmente julgar alguém sem motivo, especialmente alguém que estava entrando em sua casa para desempenhar suas funções profissionais. A luta interna era visível em sua expressão, seus olhos percorrendo o espaço como se buscasse uma resposta nas paredes. Afinal, como ele poderia lidar com isso? Como superar o ranço e dar uma chance justa a jovem?
Seu dedo indicador batia ritmicamente sobre a mesa enquanto pensava.
Enquanto a confusão se desenrolava em sua cabeça, Ele finalmente suspirou profundamente, como se estivesse liberando parte do peso que sentia. Ele estava determinado a não deixar esse sentimento interferir em suas ações. Afinal, ele próprio costumava pregar a importância de dar oportunidades às pessoas e não julgar sem conhecer. Ele estava prestes a deixar de lado um pensamento que, agora percebia, havia consumido muito mais tempo e energia do que deveria.
Era quase irônico como algo tão insignificante havia tomado proporções tão grandes em sua mente.
Ele reconheceu que, como líder, tinha responsabilidades maiores para gerenciar do que permitir que bobagens sobre sua casa afetassem seu dia a dia. Se voltou ao macbook os cliques do teclado preenchiam o ambiente, ele encontrou paz na sensação de que havia tomado uma decisão madura e justa.
Sua mente volta a jovem, sorrindo timidamente, ou seria cinicamente? Ele se questiona lembrando da menina que usava roupas comuns, simples e largas.
Com mais um flash seguido por um clique ele encara o fotografo.
-Sublime.- O moço quase pula de alegria pensando: "Era isso que eu queria" - Não pude evitar.- Fala empolgado olhando sua câmera com essa última foto espontânea: Luan em seu estado natural, sério, com o olhar longe, reflexivo... A foto que captou a essência perfeita. E assim o fotografo também se retira da sala, agora satisfeito.
A equipe de fotografia já havia se retirado e ele nem se deu conta.
"Para que eu ainda estou pensando nisso?" Se perguntou sobre os seus pensamentos intrusivos.
"É por não dormir". Ele mesmo respondeu balançando a cabeça em afirmativo a sua lógica.
Aquele assunto havia ido lhe tomado muito tempo desnecessário, então sua decisão foi comprar remédios para insônia.
Mandou mensagem para o médico mais próximo que conhecia e Logo se forçou a tentar se concentrar no trabalho. Apesar do horário, estava sem vontade nenhuma de almoçar.
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SUBLIME- A Caminho Da Mesa
RomanceEm uma trama de destinos entrelaçados há um lembrete de que o destino pode unir aqueles que, à primeira vista, parecem viver em mundos diferentes, mas nesse emaranhado de emoções e conflitos, ambos são levados a questionar o que estão dispostos a sa...