Capítulo 7- Curiosidades e Aversões

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A área de serviços de sua casa não era frequentada por Luan com regularidade. Ele imaginava que o dia em que limpou o chão da sala de jantar havia sido o momento em que ele possivelmente passara mais tempo nesse ambiente, uma parte era coberta e outra descoberta, pois ficava na área externa da casa.

Durante o restante da semana, ao chegar em casa, ele percorria o caminho até lá e se deparava com seus sapatos manchados em tons de marrom e verde.

"Como alguém poderia ser tão descuidado a ponto de misturar produtos químicos e ainda deixá-los expostos ao sol?", ele pensava. Ele havia passado a vida inteira estudando nos melhores colégios, cursado química avançada, feito várias experiências com substâncias ativas e, mesmo assim, esquecera o básico. Não se tratava do valor do sapato, mas de seu valor singular, feito à mão e dado como presente, algo que o dinheiro não poderia comprar.

Luan não era perfeccionista, mas sim inflexível e autocrítico consigo mesmo. Tudo o que fazia precisava ser impecável.

O final de semana finalmente chegara. O fato de não precisar ir à filial da empresa não significava que não teria que trabalhar. Ele acordou cedo como sempre, mas estava grato por ter dormido bem, o que era raro. Como fazia todas as manhãs, ele se exercitou, porém, dessa vez, não tão animado como de costume. Levou cerca de meia hora apenas fazendo uma corrida na esteira. Tomou seu café no quarto enquanto lia alguns e-mails que não conseguira ler durante a semana. Logo em seguida, mergulhou em um livro sobre finanças, aguardando o horário do almoço, quando se encontraria com um de seus diretores executivos que estava retornando de uma conferência no exterior.

Sentado em seu quarto diante de uma enorme tela, ele decidiu verificar as imagens do que sua avó estaria fazendo no momento. Ela era a pessoa que mais amava no mundo. Ele queria ir até ela, mas devido ao tamanho da casa, encontrá-la poderia levar alguns segundos ou até muitos minutos. No entanto, isso era facilmente resolvido com alguns cliques. Ao ligar seu monitor, que já estava conectado à câmera de segurança, ele notou a primeira imagem com captação de movimento: seu motorista com a filha na garagem.

Ele não soube dizer exatamente por que ficou tão irritado ao ver a garota tocando seus carros. Ele mal dirigia, sendo quase sempre o motorista, exceto nos finais de semana ou quando queria sair sozinho à noite. Mas ali, estava uma adolescente mexendo no motor do seu carro.

A menina magrinha e pequena o deixou aterrorizado ao pegar a chave do pai e ligar o carro. Obviamente, ela era jovem demais para ter carteira de habilitação. Luan assistia com grande aflição, pensando quando correria até a garagem para evitar uma tragédia. Não é qualquer um que consegue controlar e dirigir um superesportivo, ainda mais uma menininha. No entanto, ele confiava que seu motorista fosse sensato e não deixaria chegar nesse nível. Se o carro se movesse um milímetro do lugar era capaz dele sair correndo de seu quarto para expulsá-los de sua casa.

Ele sentiu o alívio invadir seu peito ao ver a menina fechar a porta do último carro, abraçar o pai e caminhar em direção à saída da garagem.

Sentia-se agoniado e murmurando para si mesmo sem entender bem o motivo, permanecendo estático e balançando a cabeça, arrependendo-se de permitir que seu funcionário trouxesse uma estranha para sua casa. Principalmente alguém tão invasiva. Ele não se importava se era filha, prima ou mãe; a partir desse momento, estava proibido permanentemente. Sua casa não era museu nem ponto turístico para curiosos entrarem.

Luan havia desenvolvido aversão pela menina que nem conhecia, mas que provavelmente havia deixado várias marcas e manchas de dedos em seus lindos e caros carros. Era um alívio eles já terem saído. Durante uma rápida passagem pelos outros cômodos, constatou que sua avó estava na área da piscina com seu fisioterapeuta. Às vezes ele pensava se não teria sido melhor ter nascido mulher, assim seu pai teria outros filhos e seu único "trabalho" era cumprir a agenda de socialite como a avó havia feito a vida inteira, ele sorriu com o pensamento sarcástico. No entanto, Luan havia cortado todos os vínculos que a avó tinha com benevolências, entrevistas e serviços que ela costumava cumprir devido à sua influência e poder aquisitivo na alta sociedade.

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