A Viagem de Mon

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    Enquanto a carta de resposta de Sam viajava até o reino de Mon, lá no alto, no Olimpo, Ares, o Deus da Guerra grego, estava indo ajudar Atenas a fugir junto com as outras deusas com a promessa de que elas o ajudassem a depor Zeus do poder absoluto e colocassem Hades, o Deus do Submundo, no poder em uma aliança conjunta com Odin, o grande Deus da Guerra viking.
    Hades, o irmão menos querido de Zeus e de Poseidon, sabia que havia sido enganado na partilha do poder. Porém, nunca havia feito nada para tentar conquistar uma divisão justa. Afinal, ele até gostava do submundo. Lá era um lugar ao qual ele se sentia em casa. Mesmo que sua imagem não fosse tão bela diante do povo quanto seus irmãos.
    Mas quando Zeus impôs a regra do casamento para benefício próprio, alguns deuses mais fiéis não acharam que era justo que os deuses pudessem ter um harém de deusas para reproduzirem mais deuses, formando uma árvore genealógica de deuses de todas as espécies, pois deuses que se reproduziam sem a influência das crenças humanas poderiam causar o caos total.
    O poder e o equilíbrio estava ameaçado pelo egoísmo de Zeus e Hades não poderia deixar isso. Ele deveria intervir, mas não havia poder suficiente, pois não havia uma união dele com mais deuses. Diferente do irmão, que havia muitos amigos deuses que estavam usufruindo do que ele havia feito.
    Zeus já possuía dezenas de esposas, deusas de vários locais do mundo, e não se importava com esse caos. Ele só queria ter mais do sexo feminino para se satisfazer. Ele queria mais do feminino para se sentir mais masculino e poderoso.
     Hades, embora traísse sua esposa em alguma frequência, pensava que já estava a ponto de gerar o caos aquele tanto de deuses nascendo nos vinte anos que se passaram, desde que a lei foi feita. Havendo deuses de todos os tipos e desequilibrando a balança que havia antes. E esse desequilíbrio poderia causar uma guerra sem precedentes, se não tivesse alguém com pulso firme no poder. Ele, sendo um deus calmo e inteligente, viu que chegara a hora de intervir. Zeus não detinha da calma necessária. Ele só sabia agir com os músculos.
    Pensando nisso tudo, Hades se reuniu com Ares e Apolo, além de outros deuses como Odin e Anúbis, outro Rei do Submundo, mas egípcio, e resolveram que Atenas, juntamente com as outras deusas, deveriam ser soltas e terem seus poderes devolvidos.
     Então, começou o plano para que se descobrisse onde exatamente Zeus havia colocado o poder de todas elas, pois haviam vários locais possíveis, e o plano deveria ser único, e certeiro... Ao descobrirem que Zeus havia escondido o poder das deusas na Caixa de Pandora, Apolo invadiu o lugar onde ela era guardada, a pegou silenciosamente e a levou para Ares invadir o fosso.
     A missão era difícil, mas eles conseguiriam fazer com que desse certo. Após Apolo entregar a Caixa de Pandora, virou-se e chamou os deuses companheiros e inventaram uma festa nos céus. Uma festa em adoração à Zeus. O que causou alegria e deixou todos os deuses distraídos. Afinal, era um costume acontecerem festas em homenagem ao grandioso Zeus.
    A festa acontecia no céu, com todos os deuses bebendo. As danças e acasalamentos acontecendo... Orgias infinitas... Dionísio e seu copo, sua alegria e suas danças... Orgias! Sempre acompanhado de seu filho Komos.
     Nessas festas, o costume era a fartura das danças e o sexo. Sekhmet, deusa egípcia, acostumou seu povo a cultuá-la bebendo até dormir e fazer muito sexo. Amava todas essas festas nos céus, pois se lembrava doa cultos em sua homenagem.
    Mas foram os deuses astecas que mais ajudaram com a distração, pois eles já não suportavam o que Zeus fazia, mesmo que amassem as festas. Principalmente porque o deus Xochipilli, sendo um deus patrono do amor, fertilidade, arte, beleza, flores e homossexualidade, não estava aguentando ver como o deus dos gregos, que viu a humanidade que o adorava e o criou ser a mais homossexual de todas e, mesmo assim, havia passado a ser machista e misógino entre os deuses, impedindo a homossexualidade e obrigando o casamento heterossexual.
     Movido por sua angustia e tristeza, o deus havia ouvido os cochichos dos planos de libertação de Atenas e das deusas que eram, em sua maioria, lésbicas. Se levantou e se voluntariou aos planos. Depois, foi e chamou a companheira da religião asteca, a Deusa do Prazer e da Imoralidade, Tlazoltéotl, para que lutassem contra o sistema imposto por Zeus.
     A deusa, usando de sua influência absoluta, por ser a deusa que tinha o poder de tentação ao pecado, fez com que aquela fosse uma festa cheia de impurezas, assim como o significado de seu nome dizia... Comedora de Impurezas. Ela amava isso e havia sido um prazer ajudar.
    Enquanto os deuses da distração trabalhavam em cima, Ares sorriu ao encontrar as deusas presas no Fosso. E Atenas sorriu em agradecimento quando viu que estava sendo liberta após tantos anos. As outras deusas se abraçaram. E todas receberam seus poderes de volta.
    Ao conseguirem libertar as deusas, Ares levou a proposta de Hades e propuseram o acordo de que elas os ajudassem. Elas não precisariam se casar com quem fosse imposto. Elas não precisariam se casar com ninguém se não quisessem. Porém, elas deveriam lutar ao lado deles para retirar Zeus do poder para que o equilíbrio fosse restaurado.
     Atenas e as outras deusas se reuniram e discutiram, decidindo propôr uma contraproposta. Elas queriam aqueles direitos oferecidos e também que todas as deusas que fugiram para o mundo dos homens recebessem de volta seus poderes e as memórias. Elas já seriam adultas e teriam de ter o direito de escolher voltar para o lar ou continuar na Terra. Porque elas haviam ido para o mundo dos homens por não terem outra opção e não porque elas queriam abdicar dos próprios poderes e vida passada para se tornarem humanas. Elas tinham o direito de escolher viver no mundo dos homens ou voltar ao Olimpo.
     Ares ouviu a proposta e assentiu, dizendo que Hades decidiria isso, mas que era a hora de partirem. Então, abriu a porta, ajudando-as a subir até uma parte do Olimpo que estava segura, já que todos os deuses estavam em orgia, cometendo todos os tipos de atos que as bebidas os deixavam sem vergonha e medo de fazê-lo.
     Hades e os outros disseram que fariam isso assim que Zeus perdesse o poder. Pois as leis seriam refeitas por Hades e as palavras de Zeus já não teriam mais poder. Eles, então, precisariam apenas fazer o plano perfeito para retirar Zeus do poder e cumprir com o trato feito com elas. Elas aceitaram o acordo, pois todas sabiam que Hades era justo em suas palavras.
     Zeus, ocupado demais com seu harém de deusas, não percebeu que não estava sendo onipresente em todos os lugares. Então, não percebeu que a Caixa havia sido roubada, nem que as deusas conseguiram escapar do Fosso, muito menos que todas receberam seus poderes de volta, menos ainda que havia um plano para derrotá-lo. O poder de Zeus estivera em perigo e ele nem, ao menos, imaginava.
     Foi nesse momento de planos que a carta de Sam chegou ao reino, informando que Mon poderia ir visitá-la e conhecê-la, pois seria bom conhecer outra princesa. A resposta deixou Mon mais satisfeita do que quando ela conseguiu retirar a pureza das donzelas que ela conquistou. Aquelas não eram uma princesa. Aquelas eram suas súditas. Seria uma experiência nova estar diante de uma mulher no mesmo nível que o dela. E seria mais interessante ainda colocá-la como sua submissa.
    Mon soube que era uma questão de tempo para ter o maior troféu que já recebeu em sua vida. Uma princesa! Quem não haveria de comemorar ao saber que o prêmio maior que receberia seria a pureza da princesa ao qual o irmão que tanto odiava queria? Não poderia haver prêmio maior.
    E Mon sempre soube que nenhum homem conquistaria tantas donzelas quanto ela. Nem que algum a conquistaria. Tanto que já havia despachado todos os pretendentes com traumas pesados. O que a fez pensar, por muitas vezes, que ela recebera os dons mais divinos que os deuses e deusas poderiam dá-la.
     O dom de conquistar mulheres em seus corações era algo difícil. Os homens raramente conquistavam as mulheres em suas almas. Porém, Mon as conquistava. E elas a desejaram com toda a alma, dando à Mon o corpo e a alma, sempre que ela quis ou procurou ter.
    Então, Mon resolveu partir na manhã seguinte sem avisar ao irmão. Ela não queria avisá-lo de nada. Porém, Kirk soube da chegada da carta e a obrigou a mostrar o conteúdo. O que ela fez a contragosto.
    Os homens mandavam. Era a palavra deles que deveria ser ouvida e obedecida. E ela soube disso desde sempre. Todas as suas frustradas tentativas de subverter isso a mostraram que ela era apenas uma donzela. Os homens mandavam! O que a fazia ser mais rebelde, conquistando a mulher de cada um deles em vingança.
    Kirk decidiu partir para o reino no dia seguinte com Mon. A tentativa era a de, não só se aproximar de Sam, mas conquistar o imperador. O mundo era dos homens e se o rei decidisse dar a filha para alguém, esse alguém deveria ser Kirk. E Kirk tinha a certeza de que conquistaria isso no momento em que leu a resposta. Pois, ao dar a liberdade para Mon ir até lá, Sam também estivera dando à ele a liberdade de cortejá-la.
     E partiram no dia seguinte. A viagem fora cansativa e irritadiça para Mon. O irmão viajando junto à ela não foi de grande sossego. O homem era um porre, de acordo com ela.
    Devo lhe perguntar, falando no dialeto atual... Conhece, ao acaso, algum gay chato? Kirk era bem pior do que fã de diva pop em fóruns. Acredite em mim! O viado mais fresco que pisou na face da Terra foi Kirk. E somente um macho de rola grande o faria parar com tamanha frescura. Reclamava do tempo, reclamava das pedras do caminho, reclamava da demora. Reclamava de tudo. Nem eu aguentei aquela chatisse e mandei bons pensamentos para Mon, senão ela o mataria usando seu arco e sua flecha, que ela estava levando com ela.
      Mon pensou, o caminho todo, que dias ao lado de seu irmão era o maior sacrifício de que passaria em toda sua vida. Se ele não fosse seu irmão, certamente daria uma flechada na testa do infeliz.
     Ela pensou, muitas vezes, em descer da carruagem e dar um chute no saco murcho dele. Juro que ela pensou exatamente isso. E pensou sobre como a criatura conseguia viajar para guerras em meio a coisas piores do que essa estrada tantas vezes sem reclamar o tempo todo.
     Mon não sabia que, como eu já havia dito, somente uma rola acalmava esse homem. Toda viagem valia à pena para ele quando havia um homem forte e peludo junto. Kirk amava as viagens ao lado do suor masculino e do cheiro de testosterona pura. Assim como os exércitos gregos feitos de homens gays amavam. O homem lutava com mais fervor quando havia o macho dos sonhos ao lado. Ele faria tudo para proteger o amado. E Mon descobriria o que era isso. Mas de outra forma. Uma forma feminina.
     Chegando ao reino, receberam a passagem para adentrar os muros altos que rodeavam o reino. Mon olhou a quantidade de pessoas que haviam ali dentro. Muito mais do que em seu reino. Kirk, que nunca havia pisado ali, notando isso, pensou que seria ótimo conquistar um reino maior.
     Eu penso que você pode pensar ser estranho ele não saber que ali tinham mais pessoas, portanto, se ele quisesse invadir, teria de passar pelo exército maior e pelos muros. Porém, Kirk não notava os números. Já derrotara exércitos maiores anteriormente. Os números nunca o assustavam. O único número importante era o de reinos que conquistaria em seu reinado.
     Nas ruas do reino, haviam muitas árvores. O povo parecia feliz e tranquilo. Nem mesmo a carruagem estranha chamou tanta atenção como chamaria em outros reinos. Era um reino simples e tranquilo, dava para se ver. Algo diferente do reino dos dois, onde a realeza ostentava o luxo e vivia cheia de servos e criados.
     Ao adentrarem o palácio simples, notaram os poucos servos. E, ao serem levados até à sala onde o imperador ficava, notaram que tudo ali era humilde. O que deu à Kirk a certeza de que seria simples e fácil conquistar ali se a princesa não lhe fosse dada como esposa. Aquele reino seria seu por bem ou por mal.
     Mon, por outro lado, achou tudo encantador naquele reino. Diferente, porém bonito. Um reino humilde, com pessoas humildes, mas com beleza encantadora. Portanto, ao ver o imperador muito idoso, lembrou-se de um vovô. O avô que nunca conheceu, pois havia morrido em guerra. O pai, em guerra, morreria também em pouco tempo. Esperava que o irmão fosse para o Vasco na última guerra, porém ele sempre voltava vivo.
     O senhor recebeu os irmãos com bondade e gentileza, o que agradou Mon, porém deu a Kirk mais certeza de que ele deveria ser um homem fraco e fácil de se dobrar. O que ele nunca soube era de que a gentileza não era sinônimo de fraqueza, mas de caráter. E uma pessoa gentil não queria dizer que ela fosse otária. Apenas queria dizer que ela era uma boa pessoa com o próximo. Num mundo cheio de ódio, quem dá gentileza para o próximo tem lugar nos reinos eternos.
     E quando Sam finalmente apareceu, Kirk a olhou com aquele olhar que só um homem poderia olhar uma mulher. Não falo sobre desejo carnal, mas o desejo por ter uma esposa tão bela e iluminada. Sam iluminava a todos quando passava. Seria a rainha perfeita para qualquer rei. E Kirk percebeu isso na princesa. O que o fez desejar mais ainda empossar a dama.
     Quando Sam viu Mon, sentiu algo que nunca sentiu na vida. Olhou o olhar da donzela. Aquele ar de rebeldia. Aqueles cabelos amarrados, o que era incomum para donzelas. Donzelas deveriam permanecer sempre com cabelos soltos e belos. Porém, Mon não estava assim. Os cabelos estavam amarrados, o comportamento atípico para uma dama. Os braços cruzados, a pose desleixada, contrastando com a leveza de Sam.
     Mon, por sua vez, olhou para Sam e encantou-se com a beleza. Notou o vestido simples e o andar de princesa. Não era, nem de longe, igual às donzelas de seu reino. Era divina e perfeita. Um tipo de beleza que tocava o coração. Percebendo que a conquista seria maior do que jamais imaginou. Mon sabia que jamais conquistaria alguma dama tão perfeita em sua vida. E essa conquista valeria toda aquela viagem infernal que tivera ao lado do irmão.
     — Venhas, princesa Kornkamon. — Sam chamou Mon sem se dirigir a Kirk e saíram dos aposentos, deixando Kirk com o imperador.
     — Venho pessoalmente pedir-lhes a mão de sua filha, meu senhor. Sou um cavaleiro honroso. Conquistei muitas batalhas por meu reino e sou um bom rei. A formosura e encanto de sua filha dará honra ao meu reinado. — Kirk fez uma reverência, mostrando falso respeito ao homem.
     — O pedido está negado, como já lhe respondi em outra ocasião. Sei que é honrado, mas, por ora, não há resposta positiva. — O velho foi bondoso, porém Kirk não aceitou a resposta.
     Agradeceu de forma cortês, porém saiu irritado atrás da irmã que mal havia saído da sala e estava a poucos passos dela. Kirk puxou a irmã pelo braço, mandando que fosse embora com ele. Porém, Sam com sua gentileza apenas disse.
     — Deixe-a um pouco, meu senhor. Levarei-a para seu reino pessoalmente. Tens minha palavra. Eu a convidei para que viesse. — E fez uma reverência.
     Pensando que aquela seria uma forma de Sam dizer-lhe que ela iria vê-lo novamente, aceitou a proposta, indo embora do reino, após beijar-lhe a mão e fazer uma referência. Porém, já planejando a guerra, caso a negativa fosse lhe dada outra vez. Kirk sabia o que era seu. E Samanun Anumtrakul seria sua rainha. Se não fosse, passaria por cima de qualquer pessoa que estivesse em seu caminho para ter aquele reino para si.

Wildest Dreams (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora