Monogâmica??

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Não sei se vai dar pra entender. Minha cabeça é meio estranha, às vezes, mas no capítulo de hoje eu queria mostrar o contraponto entre o amor, o sexo e a monogamia. Então, eu fui falando ponto a ponto até chegar na monogamia. Esse é mais um caso de capítulo que ficou maior porque melhorei coisas.

    Mon sentia que não poderia fazer com Sam o que fazia com as outras donzelas. Se a marcasse, seria no momento certo e da forma certa. Portanto, não ousou usar a pressão. Usou a delicadeza, ao invés disso. Tateou com carinho e cuidado. Sam era uma princesa e deveria ser tratada como tal. Uma pétala delicada da mais bela rosa. E Mon seria o orvalho que nunca a machucou e nem a machucaria.
     Quando sentiu Sam chegando ao êxtase, o ápice do prazer e a pressão em seus dedos que estavam dentro da princesa aumentou, Mon sentiu uma onda invadir seu corpo. Foi como se chegasse junto com Sam ao nirvana, ambas ao mesmo tempo. Foi uma explosão maior do que a que sentira antes, com as damas que desnudava e apreciava.
     Ela fechou os olhos e se deixou sentir o prazer que emanava de Sam para dentro dela. Então, viu uma imagem brilhante de uma forma feminina triste e solitária. Viu seu desespero e a dor por ter de se jogar num abismo infinito, se liberando de todas lembranças e poderes.
     A princesa sentiu vontade de chorar. Uma mistura de angústia e prazer que vinha de um lado profundo que ela nem sabia que possuía. Não entendeu aquela imagem, porém estava sendo forte e extasiante vê-la, sentindo sua angustia e prazer, mesmo que não soubesse exatamente o significado. Mas era Sam se lembrando de tudo, enquanto sentia o prazer dos toques de Mon em seu interior. E, ali, unidas, elas eram uma só pele, uma só carne e quase sendo uma só alma.
    — Nossa! — Mon falou com a voz surpresa, ainda sentindo as ondas de prazer e o pulsar latente no meio das pernas, como se ela mesma estivesse sendo tocada.
    Ela abriu os olhos, sorrindo, ainda sentindo o corpo vibrando. As ondas de prazer a preenchendo, enquanto ainda movia os dedos dentro de Sam. Viu que Sam reluzia como ouro, o que a deixou mais maravilhada. Nunca tinha visto algo assim em sua vida.
    Sam era como o dourado do Sol que estava brilhando do céu, mas ao mesmo tempo diferente. Uma cor bonita, como se fosse divina. Uma beleza que não se via na Terra. O que fez Mon arrepiar e sentir que nada que havia visto até então poderia ser remetido à beleza quanto Sam. Seria até uma ofensa dizer que algo mais seria belo diante de tal visão.
   Sam, piscando, dividida entre o prazer e a informação, olhava para Mon. A água na pele do rosto deixava a beleza da princesa evidente. Mon era tão bela! Ela sentia isso em seu coração. Sentia que nem em todos os séculos de vida, havia visto alguém de tamanha beleza. E nem alguém tão perfeita. Sabia que nem que tentasse usar todos os adjetivos existentes em todas as línguas faladas, ainda assim nenhum chegaria perto do que ela via diante de seus olhos.
     Sam era uma deusa, sabia agora, porém Mon aparentava ser mais divina do que ela jamais pensou que poderia ser. A princesa estava dando à Sam a sensação do que era sentir prazer pela primeira vez em sua existência.
     Tin havia sido criada pelos homens para defendê-los de suas libertinagens, não para que fosse uma pervertida ou que vivesse o prazer da carne. O que a impediu de viver prazeres e sentimentos, só podendo viver pelo seu povo, coexistir com ele, para ele. Nunca, jamais, ela poderia fazê-lo para ela mesma.
    Tin, ao jogar-se para o mundo dos homens, só queria se libertar das amarras de um casamento ao qual não poderia deixar acontecer. Nunca imaginaria, ao fazê-lo, que viveria uma vida humana onde seria amada e que viveria sensações nunca vividas.
     Deuses são vistos como perfeitos e acima de tudo, com poderes absolutos. E deuses raramente se interessam em ser homens. A humanidade é vista como pequena e falha. Algo que irrita os deuses. Porém, Sam via que a humanidade era bela, através dos olhos de Mon. E sabia que era a deusa Tin, mas não deixaria de ser a princesa Sam.
    Então, ao ver Mon olhando-a como se a visse como ela era e não sentisse nada além de sentimentos bons, Sam a beijou com tudo o que sentia. Mon a beijou com a mesma intensidade. Os dedos de Mon deslizando para fora de Sam e subindo a mão para a cintura, depois puxando-a para si com mais posse e sentimento.
     E talvez você deva estar se perguntando qual a sensação de beijar uma deusa... Eu só posso dizer que a intensidade daquele beijo as fez flutuar até acima da água. Elas não perceberam, apenas sentiram o beijo e os sentimentos gerados. Mas o flutuar, nu dos corpos unidos pele com pele, alma com alma… As gotas pingando como se fossem pingos de ouro, foi uma bela imagem a se ver.
    E quando os sentimentos se acalmaram no peito, elas apenas continuaram se beijando com calma e tranquilidade. Estavam, apenas, sentindo a calmaria, o sabor dos lábios e os sentimentos emanando de uma para a outra.
      Depois, foram descendo até os pés tocarem no fundo da beira do rio. Os sentimentos se aquietando dentro dos corações das duas. Não havia nada além de calmaria. E após mais um tempo mínimo, se abraçaram com os olhos fechados, respirando com aquela sensação de paz absoluta. Os corações batiam, o sentimento percorria pelas veias o corpo inteiro. Elas só sentiam.
    Eu sei que posso parecer uma narradora idiota, mas digo sem querer diminuir as outras mulheres que haviam tido algum relacionamento com Mon… Mas a princesa nunca havia se sentido assim antes.
     A verdade é que o sexo sempre foi pelo puro prazer de seu corpo. Ela pensava que estava fazendo uma troca gostosa. Dava e recebia. Ninguém sairia recebendo ou dando menos. Era prazeroso para ambas as partes envolvidas, mesmo que ela soubesse que poderia haver sentimento de alguma mulher por ela. Ela só não se importava.
      E talvez o sexo com uma deusa seja algo maior e mais transcendental do que com humanas. Mon estaria sentindo algo maior por esse motivo, é verdade. Porém eu poderia chamar Mon de sortuda por uma deusa ter se interessado por ela.
     Falam que deuses gostam mais de pessoas puras, virgens de preferência, mas a Deusa da Luxúria só poderia querer a humana da putaria para ela. E posso dizer, com certeza, que a deusa nunca havia saído do corpo de Samanun.
     Ou seja, ela conhecia a humanidade e sentia, mesmo que não soubesse, a verdade que havia dentro das pessoas. Portanto, soube que era Mon quem a levaria de volta ao paraíso desde o princípio, quando recebeu aquela carta. Ela sabia que o paraíso não seria o céu, afinal. O paraíso estava em um lugar. Em Mon.
    De qualquer forma, ambas se abraçavam sentindo o calor que emanava de uma para a outra, mesmo o corpo estando em águas tão frescas. Não existindo nada melhor do que fazer o ato sexual, depois abraçar e ficar ali um tempo só sentindo as sensações do que haviam feito.
     Eram tantas sensações! Sexo não é apenas colocar e tirar, esfregar e chegar ao prazer da carne. O amor sexual entre mulheres é cuidadoso e amoroso. Sendo tão poucas as que colocam e tiram sem se importar com o depois.
     E Mon, mesmo sendo uma pervertida, sempre cuidara bem de suas mulheres. Sempre as tratando com o devido respeito que o masculino negava à elas. Por isso, elas sempre voltavam. Até as criadas voltavam por gostar e não por ser uma imposição. Mon era uma cavalheira nata, isso era um fato inegável.
    Entretanto, eram as damas comprometidas que poderiam ser a prova viva do cuidado de Mon. A princesa deixava sempre aquele gosto do quero mais em todas elas. Sabia a hora de dar e sabia a hora de retirar. Elas voltavam como as abelhas iam pousar na flor durante a primavera. O mel de Kornkamon era bom, era delicioso. E elas gostavam de olhar as marcas depois. Gostavam de relembrar as loucuras feitas longe de seus maridos e Mon sabia disso.
     Só que a verdade é que Mon estava fazendo o amor com Sam, mesmo sem saber desse fato. Ela estava fazendo porque queria e sentindo coisas novas. Coisas que ela não queria dar nome, mas que possuíam nome.
     O amor impõe sentimentos dentro das pessoas, mesmo quando não se sente tal imposição. Seja no início ou durante a relação, a imposição está ali, sempre gritante, pedindo o carinho. Se há sentimentos é amor. Você gosta de alguém e coloca os sentimentos no ato sexual, então é amor.
     Que démodé dizer que transou com quem se ama. Transar é fumar o cigarro e jogar a bituca fora, mesmo que o cigarro tenha dado o prazer momentâneo. E Mon transava com aquelas mulheres. Era o momentâneo.
     Amor é o cuidado, o sentimento, o carinho. É o pegar para si. É o fazer amor. O amar no corpo e na alma. É o tudo, mesmo que seja uma única vez. É o tudo, mesmo que depois se vá. Porque, se vai se lembrar para sempre, é amor. O amor não se esquece. O amor enraíza e eterniza, mesmo que não esteja mais próximo. O amor é semente que se planta no verão e é flor que nasce no inverno. Mas são poucos os que são capazes de vê-lo nas nuances do coração ou vivê-lo como ele merece.
    Mon não sabia que nome dar ao que sentia e não se importava com isso, era a verdade. Havia o sentimento e havia o cuidado, ela sabia. Para ela, era isso o que importava, nada mais.
     E quando se afastaram, os olhos estavam brilhando. Elas se olhavam e trocavam selinhos, faziam carinho no rosto e no cabelo uma da outra. Passava a ponta do dedo. Beijavam a ponta do nariz ou os olhos, as bochechas.
     Então, me diga… Qual nome eu deveria dar, senão amor? O amor nasce do suspiro, nasce do olhar. Nasce em um segundo, mas pode morrer num sopro. É amor! É apenas o amor! Vou falar que é ódio?
     Quando saíram das águas tranquilas, trocaram as roupas daquela forma tímida e contida que somente os casais iniciantes fazem, porém sendo natural, ao mesmo tempo… Aquele natural da perda da falta da intimidade, mas que ainda é o início disso. O que faz haver certa timidez e troca de sorrisos contidos.
     Foram andando, até que Mon puxou a mão de Sam. A deusa sorriu para a princesa com o ato. Aquele sorriso tímido e feliz que mostra um casal novo surgindo. Algo meio bobo e fofo. E Mon sorriu também.
     Elas foram para dentro da mata segurando a mão uma da outra. Chegaram ao local onde guardaram as coisas e viram que havia água e comida suficiente para um tempo ainda.
    — Podemos ficar aqui até amanhã se quiseres, minha donzela. — Mon, movida pela vontade de aquilo não acabar, falou como quem nada queria.
    Sam concordou sorrindo e ambas se sentaram uma ao lado da outra para comer umas frutas. E Mon, ainda movida pela vontade, deu um beijo no rosto de Sam. A deusa sorriu de forma tímida, o que fez Mon também sorrir timidamente.
    Ah, aqueles inícios do amor! São tão bobos! Tão bonitos! Tão singelos! Tão românticos! Tão doces… É o toque singelo, os olhares significativos, a timidez unida ao desejo de fazer tudo e não fazer nada. Eu já vi isso um número infinito de vezes, mas esse foi um dos amores mais belos e singelos que, por ventura, já vi. É o mel em excesso!
     Mulheres amam com a intensidade de um raio atingindo o chão, misturado com a intensidade da brisa calma do mar. É como o cheiro de chuva nos tempos de uma grande seca. Como beber a água depois da sede. Ao mesmo tempo, é como sonhar um sonho lindo feito de algodão doce e unicórnios.
    O amor feminino é acima, eu posso dizer. Só mulheres que amam mulheres podem entender. Somente uma mulher que ama uma mulher é capaz de pegar o barco e atravessar o mundo para ir atrás da amada. Mulheres são extremas e sentimentais. Até contidas, são uma bomba nuclear. Nem Oppenheimer poderia criar algo do tipo, mas eu criaria.
    Então, ambas passaram aquele dia sem conseguirem ficar longe uma da outra. Se Mon saía, Sam ia atrás. E se Sam saía, Mon ia atrás. Como disse, o amor feminino é acima. Somente as lésbicas apaixonadas podem saber o que é isso. Um segundo estando longe é a maior tortura. E era isso o que ambas sentiam.
     Esse é o sinal vivo de que o chá de camomila, erva doce, hortelã fez efeito. Dica da deusa, se ainda tens dúvida que o chá que  destes está fazendo efeito, é só perceber qual o tempo que vossa dama consegue ficar longe de vossa senhoria. O chá vicia e quem toma o chá não consegue viver mais sem o chá. Há humanos que chamam isso de feitiçaria bruta. Pode acontecer de não ser...
     Porém o ser humano prefere jogar no oculto algo que está nele mesmo. Os deuses fizeram o ser humano com certos aspectos físicos e posso dizer-te que o gosto do mel de uma donzela é viciante porque é docinho e não por haver uma feitiçaria. Deveriam parar de falar que é feitiço do bravo e assumir que viciou no mel.
     Portanto, Sam e Mon, Mon e Sam, Monsam, Samon... Ficaram o dia todo grudadas igualmente ao carrapato gorducho e bundudo gruda dentro do umbigo desavisado. Soltar é quase impossível e a coceira quando se solta é o pior pesadelo do mundo. Melhor não soltar e deixar o bicho lá vivendo em simbiose eterna porque a desgraça de separar um carrapato, nem o álcool resolve. Pegastes as referências? Não, né? Se tu separas duas mulheres vivendo o amor feminino, o álcool não vai ajudar a coceira infernal da saudade eterna, nem curar o buraco da ferida deixada.
     Pararei de falar-lhes bobagens. Vais achar que a deusa está narrando e enrolando. Porém não é isso. A deusa está falando sobre o amor entre mulheres para teres a certeza que há amor entre as princesas. O tempo é relativo e o amor existe. Ele está aqui entre nós. Vês?
     Após acenderem a fogueira, ambas assaram um esquilo que Mon caçou com o arco e a flecha, depois retirou a pele e as entranhas com a faca. Sorriam daquela forma que todo casal no início sorri. O sorriso, o olhar indo para baixo, a lambida nos beiços, a mordida nos lábios.
     Joga os cabelos, Sam! Lambe os beiço! Morde o gravetinho! Olha para Mon toda provocante! Até Mon que estivera com os cabelos pretos presos, dava aquela passadela de mão nas madeixas, jogando os hormônios da sedução no ar. Ah, os flertes da feminilidade!
    E quando deitaram-se para dormir, a coruja piava ali próximo, os barulhos da noite no meio do nada. Isso poderia assustar as princesas do mundo todo, mas aquelas duas não se importavam e até gostavam.
     E quando deitaram-se de frente uma para a outra, Sam começou a fazer carinho no rosto de Mon, iluminada pela fogueira acesa. A princesa fechou os olhos, sentindo a mão macia e delicada tocar seu rosto. Sam, seguindo os sentimentos, tocou os lábios levemente nos lábios de Mon. Ficou ali um pouco e se afastou. Porém, ao ver que Mon fazia um biquinho, repetiu o ato. E de novo e de novo... Mas nunca parando de fazer o carinho.
    Enrroscou os dedos pelas madeixas escuras e sentia a maciez dos cabelos. Passava a ponta dos dedos pelo couro cabeludo com carinho e delicadeza, ao mesmo tempo em que tocava os lábios nos lábios macios de Mon. Sentia tanto dentro de si. Ambas sentiam. Era algo novo para elas.
     Mon começava a aprender que nem tudo era o sexual. Por isso, não tentava fazer novamente. Há prazeres maiores que valem tanto, ou até mais que o sexo. E ela estava sentindo isso naquele momento. A necessidade do carinho. Algo que ela nunca se importou antes.
     O sexo sem amor é momentâneo, porém o amor e o carinho são entrelaçados e eternos. E há trocas que valem à pena. Se Mon deu para Sam a sensação do que era sentir o prazer da carne, Sam ensinava que o amor era tão bom quanto o sexo.
     E o que uma deusa que jamais amara, ao acaso, sabia sobre isso? Sam amou seu povo, amou seu pai e sua mãe, amou o povo que a criou e amava Mon. Quem nunca havia amado na vida era Mon. Pelo menos, ela não sabia mais o que era amor desde a infância, com a falta de afeto recorrente.
    Relações com amor, porém sem sexo não duram ou duram e são incompletas. O amor não é o todo e não se sustenta sozinho. Relações com sexo, porém sem amor não duram. Sexo é gostoso, porém só uma amizade poderia ser uma relação sustentada pelo sexo. E relações de amor com sexo equilibrados podem dar certo, porém deve haver o equilíbrio dentro das duas partes. Quantas relações eu vi explodindo ao longo dos séculos, mesmo havendo amor e sexo, havendo sentimento e desejo, tudo porque uma das duas ou as duas não possuíam maturidade?
    Nem tudo é só sexo e nem tudo é sobre amor. Penso que tudo é sobre se o ser humano consegue viver a monogamia. A monogamia só é vista em pessoas maduras. Os casais poder ser ou não monogâmicos. Eu falo sobre a monogamia de respeitar quem se está junto, jogando limpo, respeitando. E Mon nunca foi monogâmica. Ela só se importava com ela mesma.
    É basicamente o caso da mulher não monogâmica que encontrou o amor, mas não conseguiu viver só com o amor da vida dela. Ela precisava do amor e da putaria. Então, perdeu o amor, se arrependeu, porém era tarde. Passou a viver em monogamia com alguém que não amava, vivendo numa eterna mentira, sabendo que nunca mais teria aquilo de novo. Mas queria mostrar a si mesma que mudou… Só que… Ainda ficava lembrando do que perdeu, sozinha quando ninguém estava vendo. O ser humano nunca muda, não é? Eu já vi isso tantas vezes!
     Mon não será assim, pois não é burra de jogar algo tão precioso fora. Imagina só Mon não conseguir viver a monogamia e sair na putaria, Sam voltar para o céu e Mon viver eternamente olhando para o céu sabendo o que jogou fora…

Wildest Dreams (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora