Os dias se passaram. Sam seguiu, por aqueles dias, sempre caminhando com Mon pelo reino. Ela fazia questão de apresentar seu povo e o lugar que habitava, pois Mon poderia ser sua candidata ideal. Ela precisava ver se a princesa do outro reino poderia ser sua cônjuge e uma boa companheira. Sam se importava de poder dar ao povo o melhor que poderia ter. Inclusive, dando à eles uma boa regente, assim como seu pai deu.
Já Mon, a princesa rebelde, finalmente estava aprendendo a ter um contato próximo com o povo, mesmo que não fosse o seu. O que fez com que Mon percebesse, ao longo dos dias, de que deveria voltar para casa. Não porque sentia saudades das mulheres nuas e do sexo ardente cheio de marcas. Ela havia passado a sentir essa necessidade de viver o que vivia ali com Sam, em seu próprio reino, com seu próprio povo.
Sam era uma deusa ao qual havia perdido o amor de seu povo quando a cultura que a cultuava havia sido morta por certos fatores. O que a fez passar por séculos de solidão e isolamento diante de outros deuses. Ela não era lembrada. Posteriormente, depois que a arqueologia fosse inventada, seria. Porém, nessa época, não haviam nem rumores de sua existência na boca humana.
E quando virou humana, mesmo sem se lembrar do que era ser uma deusa, ainda mantinha em seu interior as marcas de sua longa vida. O que a fazia sentir que ser amada e cultuada por seu povo fosse algo maravilhoso. E, em troca, ela cuidava e se importava com o povo que a adorava.
Mon, mesmo nascendo uma humana, nunca se importou em ter seu povo. Ela, apenas, amava usar e abusar das mulheres do reino. Ela as seduzia, as encurralava até poder provar do mel ao qual elas produziam, assim como as abelhas que zuniam na primavera em cima do pólen das flores. E Mon era isso… Uma abelha voando de flor em flor.
Se Mon tivesse o dom da reprodução, certamente teria uma centena de filhos bastardos correndo pelos cantos de seu reino. As criadas do castelo seriam mães da maioria de seus bastardos. E ela até poderia admitir que essa era a única vantagem de se nascer mulher nesse mundo de homens… Ah, e a de que ela não ficaria de pau duro por aí, mostrando seus desejos carnais, assim como os homens pervertidos ficavam. Ela não deixava rastros por onde passava. Se é que me entende...
— Vossa alteza, devo lhe dizer que preciso voltar para meu reino. — Mon olhou com certo pesar para a bela face de Sam.
— Sim, cara dama. Levarei-lhe de manhã, se preferir. — Sam sorriu levemente com gentileza.
— Pela manhã seria bom, minha donzela. — Mon sorriu.
— Iremos pela manhã. Avisarei a meu pai, pedirei que providencie tudo para a viagem e partiremos. — Sam sorriu mais ainda, pois conheceria o reino de Mon e veria como ela era com os próprios súditos.
Portanto, logo após, Sam avisou ao pai que deveria partir. Aquela foi a primeira vez em que Sam sairia do próprio reino. O imperador ficou preocupado com os perigos que haviam fora daqueles muros que protegiam seu reino, porém a deixou partir. Se a impedisse seria pior. Sam detinha o direito de escolha própria e tinha o direito de ir embora com quem ela escolhesse partir, se assim o quisesse. Porém, o reino e o coração do pai sempre permaneceriam ali para ela eternamente, até a volta de sua amada filha.
O homem bondoso de barbas longas e olhar calmo, tocou a mão da filha e sorriu levemente. As rugas em seus olhos de avançada idade mostravam os anos de experiência de vida. E ele sabia que a filha havia encontrado o amor. Notava isso nos olhos joviais de sua única filha. Ele sabia que ela havia crescido e construiria sua própria família. Portanto, já estava chegando a sua própria hora de partir.
Então, logo cedo, Sam e Mon embarcaram numa carruagem confortável e simples. Havia tudo o que elas precisariam nos dias de viagem. E havia um homem para pilotar a carruagem. Além de mais um homem para a proteção de ambas as princesas.
Como não era um local dado à ataques frequentes, a guarda real decidiu que não precisariam usar tantos homens. Isso poderia chamar a atenção de que havia alguém importante na carruagem. O que facilitaria os ataques. Afinal, carruagens solitárias não deveriam ter ouro ou riquezas. Apenas as carruagens mais protegidas tinham riquezas em seu interior.
Então, um dia se passou com as duas princesas dentro da carruagem. A viagem era tranquila e a paisagem era bonita. Sam olhava para fora da janela a todo momento, olhando o imenso mundo ao qual jamais havia visto. Notando o céu azul, o barulho do rio, as árvores com seus cantos infinitos de vários tipos de animais. O que a encantava e a fazia pensar que o mundo era grandioso e esplêndido.
Elas conversavam sobre o povo do reino da Sam e sobre o que viveram juntas naqueles últimos dias. Muitas vezes, repetiam as mesmas conversas só para rir pelo mesmo motivo. Enquanto isso, os homens ao lado de fora conversavam despreocupados, pois era uma estrada tranquila e sem problemas. Sabiam que uma carruagem simples com dois homens não atrairia perigo maior.
Tudo estava indo bem até certo ponto desse dia. As princesas riam o tempo todo e sentiam apenas o balançar da carruagem pela estrada esburacada. Isso até sentirem a carruagem parar de repente. Sam olhou para Mon. Não entendia o que acontecia. Nunca havia viajado. Seria normal pararem daquela forma tão abrupta? Porém Mon apenas fez sinal de silêncio com a mão para Sam e passou a ouvir os barulhos do lado de fora.
O barulho lá fora fazia Sam temer por seus homens. Haviam gritos e pancadas. Uma pancada alta foi o que mais chamou a atenção das princesas, pois foi como se tivessem jogado uma pedra no chão. Sam colocou a mão na boca, desesperada de tanto pavor.
Mon, por outro lado, já segurava o arco e a flecha na posição, esperando para que quem quer que fosse aparecer, ela mandaria aquela flecha em sua testa. Mon não era dada a erros quando o assunto eram as flechas. E agradecia pelos irmãos não terem tirado essa prática dela.
Após que os barulhos cessaram, ambas permaneceram caladas. O medo fazia o coração de Sam bater tão alto que dava para se ouvir dentro do lugar, porém Mon estava tranquila e friamente esperando. Até que a porta se abriu.
Ambas viram o ser estranho parado de frente para elas. A cara era suja de terra e barro, a boca grossa, a pele vermelha, os cabelos inexistiam e dava-se para sentir seu fedor de longe. Os braços eram musculosos. Parecia um tanto torto e desengonçado. Feio!
Mon não esperou o tempo passar e correr o risco de ser atacada, sendo certeira em sua flechada, atingindo o ser em sua testa. Ele caiu para trás, tombando como um saco de batatas, sem reação, morrendo na hora.
Sam estava encolhida atrás da princesa Mon. Ficara chocada e aliviada ao ver o homem estranho e feio morrer. Sentia que a princesa destemida seria sua protetora. E quando Mon acertou a cabeça do homem, sentiu-se protegida e encantada com a maestria da dama em sua frente. Jamais vira em sua vida alguma dama empunhar uma arma com tanta prática. Porém, ainda haviam barulhos lá fora. O que mostrava que não estava salva por completo.
Mon aguardou, esperando que se houvessem mais daqueles, que eles fossem tão burros quanto o primeiro. E ela sabia que haviam os trasgos idiotas que eram homens grandes e fortes, porém com uma inteligência mínima. Portanto, ela esperava que os homens fossem os trasgos daquele tipo pois, embora eles fossem perigosos, também eram fáceis de matar se a pessoa que estivesse do outro lado fosse minimamente mais inteligente do que eles. O que demonstrava que elas ainda poderiam ter uma chance de sobrevivência.
E assim como previu, o segundo apareceu e colocou a cabeça na porta. Outra flechada foi lançada em sua testa o fazendo cair para trás. E assim aconteceram mais vezes até não haver mais barulhos lá fora, o que demonstrava que eram trasgos afinal.
Mon havia salvo as duas e isso era algo ao qual ninguém jamais poderia tirar dela. Ela havia salvo uma princesa antes mesmo do que Kirk. Isso a deixava confiante e de peito estufado. Ela havia superado seu irmão até nisso.
Porém, quando Mon olhou para Sam, sua reação ao olhar a princesa encolhida foi a de revirar os olhos. Achou Sam um pouco inútil, mesmo que tivesse a alegria da conquista. Pois fizera tudo sozinha. Apostaria até sua ceroula de que se Sam estivesse sozinha, com certeza seria morta rapidamente. Ou se não fossem trasgos, ela não ajudaria em nada. Sam era uma princesa que nunca havia pegado em uma arma, além de fraca... Pobre princesa Sam… Foi o que Mon pensou, pois, mesmo que sentisse algo por Sam, o machismo ainda era algo gritante em seu coração.
— Vamos para fora. — Mon saiu sem esperar resposta.
Quando ambas estavam fora da carruagem, viram o estrago causado. Os homens do rei estavam mortos com certa violência. Um deles, tendo a cabeça esmagada por uma pedra grande. O corpo do homem estava de barriga para cima e seus miolos espalhados. Sam poderia jurar que via o olho do homem caído ali ao lado da pedra.
Mon sabia sobre a violência causada pelos trasgos. Fortes, porém sem inteligência. Eram movidos por sua força e vontade descomunal de matar quem estivesse em seu caminho. Uma vez que conseguissem capturar o alvo, ele não teria a menor chance. A não ser que conseguisse passar a lábia. Porém, ela sabia que o desespero retirava a inteligência das pessoas e elas morriam facilmente para criaturas tão burras quanto aquelas.
— Oh, mas que desgraça! — Sam chorava copiosamente.
— Estamos sem cavalos. Devem ter se assustado e fugido quando, certamente, os trasgos os soltaram. Eles não fazem uso de cavalos, mas os vendem a um preço no mercado negro. Mas é estranho que estejam por aqui. O que sei é que preferem as estradas reais. Essa não é uma estradaa da realeza. — Mon começou a pensar como sairiam dali, pois estavam no meio do nada.
— O que faremos? — Sam resolveu que seria melhor parar de chorar pelos mortos, eles não fariam nada por elas, mesmo que doesse saber que dois súditos queridos haviam morrido tão cruelmente.
Mon voltou a revirar os olhos, escondida. Já pensava em seu íntimo como conseguiria passar pelos percalços da longa viagem a pé com uma princesa chorona e assustada ao seu lado. Afinal, Mon era uma princesa acostumada a sobreviver com seus súditos dando tudo em sua mão.
Para ela, Sam não ajudaria em nada. Só atrapalharia. Pois via a princesa como allguém que não saberia ter sobrevivência em seu interior para ter a garra necessária para sobreviver. Alguém que não era como Mon que saberia como sobreviver.
Então olhou todos os mortos com atenção, revirou o bolso de todos e pegou uma faca, um canivete, os colocando em uma pequena bolsinha que um dos mortos usava e pondo-a em volta do próprio pescoço. Daria para ajudar. E deixou a espada longa do guarda caída no chão. Não sabia usar uma. Então, não era necessário levar. Só atrapalharia.
— Venhas, princesa. Andaremos pela beira da estrada e aguardaremos até que encontremos ajuda. Pegue a água e pegarei a comida guardada. — Mon voltou para dentro da carruagem e pegou toda a comida, colocando tudo dentro de um saco, saindo para esperar por Sam.
Sam saiu logo após com a água. Olhou o corpo do soldado morto e teve mais empatia por seu corpo do que Mon jamais teria. Pegou dois cobertores que estavam usando e cobriu os dois corpos. Colocou a espada cravada no chão ao lado do soltado para demonstrar sua honra em protegê-la, fez os cânticos de oração de seu povo para que as almas sobrevoassem até o lugar onde elas habitariam dali em diante. E depois se juntou à Mon.
Mon protegeria a princesa, porém pensava que seria melhor ter uma pessoa preparada ao lado dela do que uma donzela indefesa. Ainda mais vendo Sam segurando o peso da água. Dava para notar-se como ela era uma mulher que nunca havia pego um único peso em sua vida.
Sam se sentia sortuda por ter Mon ao seu lado. Se elas se casassem, Mon seria sua cavalheira de armadura reluzente. O que fazia seu coração se sentir mais apaixonado do que estivera até então. Qual donzela não sonhou, em sua vida, em possuir isso?
Mon, jamais havia sonhado. As damas que eram cavalheiras não sonhavam com cavalheirismo. Só as donzelas sonhavam com isso. E elas não estavam erradas, nem as cavalheiras por não sonharem. Era bom ter o contrapeso. Para cada dama sonhando com cavalheirismo, havia uma cavalheira ali para fornecer isso à ela. O que equilibrava a balança.
— Queres água, cara dama? — Sam notava que o rosto belo de Mon suava e que a água poderia abrandar o suor.
— Sim, obrigada vossa alteza. — Mon sorriu ao pegar a água, bebericando com satisfação.
— Poderias dar-me um pouco de comida? — Sam pediu, pois sentia fome.
Comeram, beberam mais água e ficaram um tempo debaixo de uma árvore para que Sam descansasse. E após um tempo, Mon percebia como Sam a tratava com respeito. Não o respeito que tivera em toda sua vida sendo princesa. Sam não a via apenas como isso. Não era como se Sam colocasse em suas costas o dever de proteção, mesmo que esperasse ser protegida. Sam a tratava bem por ser grata por ela ter salvo sua vida e Mon sabia disso.
Existia uma grande diferença entre imposição e gratidão. E Mon se sentia feliz por isso, naquele momento, após ficar irritada por um tempo. Pois via que Sam não estava impondo à ela um dever. E no fundo, era isso o que ela pensava que Sam esperava quando a viu encolhida e chorando. Pois as donzelas de seu reino eram assim. Jogavam nela o peso que não cabia à ela carregar. Mon também precisava de ajuda.
E quando a noite começou a cair, Mon percebeu que nenhuma carruagem que, por ventura, passasse naquela hora seria segura. Já que não daria para ver com atenção se poderia ser uma carruagem de algum reino amigo, inimigo ou dos próprios reinos delas. Não dava para arriscar caminhar pelo escuro.
— Teremos de dormir na floresta. Vamos entrar antes do anoitecer e voltaremos para a estrada pela manhã. Estradas escuras não são seguras, vossa majestade. — Mon vasculhou a bolsa e pegou a faca.
— Não há perigo com os animais? — Sam ficou apreensiva.
— Não te preocupes, minha dama. Sou caçadora e irei proteger-te. — Mon sorriu de leve para Sam.
— Obrigada por se arriscar por mim. — Sam sorriu também.
Mon se sentiu feliz por ver o agradecimento real nos olhos de Sam. Ela não costumava receber agradecimento de nenhum donzela. Então, segurou a mão de Sam pela primeira vez, para guiar a princesa para dentro da mata.
Foi algo interessante ver quando ambas sentiram um calor percorrer por seus corpos, como se a máquina do corpo humano finalmente se ligasse e funcionasse depois de décadas empoeirada. Eu sorri vendo isso. Afinal, estava acontecendo… O amor.
Ambas adentraram a floresta e foram se embrenhando por entre as árvores. Mon cortava galhos aqui ou ali para abrir caminho até encontrar um lugar que achava ser mais seguro para as duas. Um lugar que ficasse não muito longe do rio e não muito perto da estrada. Um meio termo.
Após caminharem até o ponto em que Mon percebia que o barulho do rio estava próximo, ela parou. Olhou para cima e viu que o sol já deveria estar não muito longe de se pôr. Ela deveria ter notado que deveria ter entrado antes e sabia disso.
Então... Colocaram as coisas no chão. Mon saiu para procurar galhos nas proximidades para fazer uma fogueira. E quando voltou, se surpreendeu ao ver que Sam estava tranquila e calma. Outra dama estaria desesperada, porém Sam estava sentada cantando uma canção.
Mon sorriu consigo mesma e começou a fazer a fogueira. Acendendo-a quando começava a escurecer. As duas alimentaram-se, e esperaram a noite cair, conversando sobre coisas banais. Elas pareciam ter assunto sempre. E dormiram ao lado uma da outra, usando um cobertor que Sam havia pegado, ouvindo o barulho da floresta.
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Wildest Dreams (REPOSTAGEM REVISADA E MELHORADA)
FanfictionSe tem uma coisa que eu sei fazer é fanfic com título de música da Taytay e isso já virou a minha marca. Sam, a Deusa da Luxúria, buscando fugir de um casamento imposto, vai para a Terra e se torna a princesa de um pequeno reino pacifico. e conhece...