A Guerra Nos Céus

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    Sam e Mon caminhavam com certa dificuldade. Embora Mon fosse uma mulher firme, ainda era uma donzela. Donzelas não são acostumadas a caminhar longe e nem por dias sob um sol quente e ardente. E era assim que ambas caminhavam. Os pés já possuíam bolhas dolorosas nos pés acostumados a caminhar distâncias curtas.

     Sam estava cansada e com dores em seu corpo humano, mesmo sendo uma deusa. Porém a vontade de chegar ao reino não a deixava desistir. Precisava proteger seu povo. Poderia se transportar para o seu povo, mas não iria sem Mon. Então, caminhava.
     Mon admirava a motivação da princesa que era, também, uma deusa. Ela via que Sam, mesmo sendo deusa, estava mais para uma relés mortal do que uma deusa cheia de poderes. Ela não conseguia ser um deus como o que Mon acostumou-se a clamar. Aquele deus que faria milagres, mesmo ao longe. Sam precisava estar presente.
    Por falar em Deus onipresente...  Zeus, ele conseguiu ser liberto com dificuldade. Precisavam libertar Zeus e deixar seu pai preso em seu lugar, outra vez, no Tártaro. O plano não era simples de ser realizado, mas eles conseguiram.
     O tempo de Zeus na prisão com o pai fizeram ambos duelarem sem fim, lá naquela prisão. Cronos possuía uma sede de vingança contra o filho e havia decidido duelar até que um deles morresse no processo. Porém, ambos eram deuses. Eles não morriam.
     Os deuses conseguiram adentrar o tártaro e se uniram à Zeus contra Cronos. O titã lutou bravamente contra todos aqueles deuses que haviam feito uma aliança em prol do deus da putaria. Foi uma luta sangrenta em que Zeus derrotou o pai novamente.
     Quando Zeus foi finalmente libertado, estava machucado e cansado por mais um dia de luta ardente e sem precedentes com seu pai. Porém sua motivação e desejo de vingança o fizeram levantar-se e caminhar pelo Olimpo à procura dos algozes ao qual o haviam traído de forma tão vil.
    Hades, sabendo da fuga do irmão, reuniu os companheiros e começou a planejar o contra-ataque contra Zeus e seus companheiros. Sabia que o irmão estaria com sangue nos olhos. Precisavam, portanto, de um plano que fosse perfeito. Zeus sozinho era quase imbatível, mas acompanhado era quase impossível de se derrotar. E todos tinham certeza de que Zeus não os derrotaria, ele os aniquilaria.
     Com os planos feitos, Hades e companheiros saíram de seu lugar. Todos se encontraram bem no centro do Olimpo. Todos armados até os dentes. Todos eles com suas motivações para que não desistissem. Todos eles lutariam até a morte e quem via sabia disso.
     Não foram todos os deuses que decidiram lutar. Muitos, assim como eu, eram pacíficos. Jamais perderiam tempo entrando em uma guerra burra pelo poder de decidir se ou não era possível controlar os desejos de deuses e mortais, posses de toda a vida, a vidas de deuses e deusas, e etcetera.
     E quando as armas se tocaram no ar, explodiram poderes para todos os lados. Um estrondo enorme foi ouvido pelos ouvidos humanos e animalescos do mundo terrestre. O céu estava fazendo barulhos maiores do que os que haviam sido feitos na primeira luta contra Zeus. Eu soube, todos nós soubemos, que aquilo duraria um tempo indeterminado.
     A questão era a de que o tempo no Olimpo corre de forma diferente do tempo da Terra. E quando Sam chegou até o reino do pai dela, a guerra aqui em cima já durava anos. Não procure entender como funciona o tempo divino. Nós sabemos de tudo e sobre tudo. E o tempo, para nós, corre de outra forma. Estamos sempre, sempre adiante.
     E enquanto o tempo corria no nosso tempo... Uma luta sangrenta que não tinha fim acontecia, com deuses se machucando e se curando. Deuses menores e menos poderosos já haviam perecido para se juntarem à luta. Os mais poderosos lutavam como malucos ou como cães raivosos desde o início.
      Deuses poderosos de várias culturas estavam guerreando entre si desde o início, pois eram eles, os poderosos, que buscavam pelo poder eterno. E deuses quando motivados, não precisam de sono nem de descanso. Portanto, eles duelavam há anos sem descanso, sem se importar com nada além do poder eterno.
     Zeus lutava contra Hades e Odin. Os poderes eram fortes e faziam até a terra tremer em alguns pontos do mundo. Poderes explodindo e raios caíam para a Terra vez ou outra atingindo algum ser vivente ou apenas o chão. Deuses armados com suas armas e fazendo um barulho imenso ao fazê-las baterem umas nas outras.
      Enquanto isso, o Deus cristão observava tudo com alegria pensando que eles deveriam se matar rapidamente, pois havia chegado seu tempo de ser o deus absoluto.
      Ele havia cruzado os braços e ficou ao lado de uma pilastra olhando como se fosse um deus pacífico. Ficou ali percebendo a forma que os deuses duelavam e prestando atenção aos deuses que não lutavam. Tudo isso enquanto se deliciava vendo os poderosos deuses se matando e espalhando sangue pelo chão do Olimpo, deixando o chão sujo do que a guerra causava, pois ele era um deus que amava a guerra e o ódio, enquanto fazia papel de pacifista e amoroso.
    Alguns ali diriam que ele não possuía empatia de ver a guerra. Pois não se importava de mostrar não se importar de ver irmão matando irmão, amigo matando amigo. E até de parecer se divertir com a dor, a guerra e a destruição. Um Deus como ele no comando da humanidade só manteria vivo quem fizesse a ditadura que ele mandasse. E no comando do divino seria até pior do que isso. Seria catastrófico e eu via isso.
     E enquanto Sam chegou ao seu reino mancando de dor, sendo recebida junto com Mon por soldados de Kirk, o viado safado esteve em seu quarto comemorando com o soldado forte que sempre visitava o local ao qual o homem dormia.
     Pelas paredes do lugar, até se ouviam certos barulhos, pois eles não se incomodavam de usar o quarto do imperador para os atos de amor feitos pelos dois. Atos pesados, de ardência, de brutalidade sexual entre dois homens que amavam a guerra e a força bruta. Porém ninguém ousaria pensar que os barulhos eram feitos pelo rei e não por uma donzela. Pensavam que o rei estava a fazer sexo ardente com alguma donzela.
     O homem esteve comemorando com alegria, sendo passivo e ordenou que o soldado não ousasse sair de seu quarto por todo o momento até que o deixasse sair para fazer suas atividades de soldado real.
      Os homens não possuem a fisiologia feminina de conseguir acasalar como coelhos selvagens no matagal, mas homens com desejo sabiam como fazer as horas que possuíam serem inesquecíveis. Aqueles dois faziam isso como ninguém. A prova eram os barulhos ecoando pelo lugar como se fantasmas uivassem no escuro durante aqueles dias... E no claro!
     Sam e Mon adentraram o palácio tomado por guardas de Kirk. Mon esteve em choque pelo que aconteceu naquele reino em tão pouco tempo. Não entendia o que motivou o irmão a atacar o reino de Sam. Pensava que ele queria desposar a princesa e não causar uma guerra.
     Mesmo que conhecesse o irmão, Mon não entendia o que estava acontecendo. Talvez nem você ou eu entenderíamos se estivéssemos no lugar da donzela, isso é um fato. Ela não esperava que o irmão pudesse ter feito tudo aquilo, nem Sam havia dito que havia sido o irmão dela que havia assassinado seu pai, que era um homem tão gentil e bondoso, com sua barba e olhos tão calmos.
     — Princesas... — O general pareceu surpreso ao receber as donzelas que estavam com uma aparência de cão de rua.
     — Onde está meu pai? — Sam falou firmemente, mesmo que soubesse onde estava.
    — Princesa, acalme-se... Comunicarei-me com o rei, pois ele disse-me que se, porventura, vossas majestades aparecessem era para lhe comunicar. O desejo do rei é o matrimônio com vossa majestade. — O general falava como se estivesse decorado o discurso.
     — Matrimônio? Digas-me, e se porventura a resposta for não? — Mon levantou o queixo em tom de ameaça, pois não deixaria que o irmão desposasse sua esposa.
     — Acalma-te, majestade. — O general tentava abrandar a princesa que possuía a fama de ser explosiva e arredia.
     — Digas-me! — Mon permanecia firme, porém sentiu o aperto em sua mão feito por Sam, o que a fez parar imediatamente.
     — Senhor general, poderias usar de gentileza e dizer-me sobre meu pai. — Sam só pensava em ouvir da boca humana o que já sabia.
     — Vosso pai está morto. — Sam não demonstrou surpresa, pois não havia nenhuma e apenas assenti.
     — Posso ir para meus aposentos? — Sam perguntou calmamente, pois sabia que não era uma prisioneira de um calabouço.
     — O guarda levará vossas majestades até os vossos quartos. — O general saiu andando e ambas foram escoltadas para os quartos em locais distantes um do outro do palácio.
     Sam entrou no quarto e olhou para o chão. Viu quando a lágrima caiu e pingou, fazendo um barulho alto e sonoro. Ping! Não sabia quando começou a chorar, porém soube naquele instante que seria a última vez que choraria.
     Sam sabia que precisava fazer algo. Sabia que não era um Zeus poderoso e que não havia sido criada para batalhas. Sam havia sido criada para a cultuação dos prazeres da carne. O máximo que Sam poderia fazer, seria defender a depravação sexual de seus fiéis, não possuía o dom da luta, apenas o da fala para argumentar e defender.
     Porém procuraria uma brecha para fazer o que deveria. Haveria algum poder que ela poderia usar. Haveria alguma forma. E ela encontraria.
     Sam esteve deitada e acordada no escuro completo quando ouviu batidas baixas na porta. Estranhou, porém usou seus poderes para observar quem seria, se levantando, indo pé a pé até à porta para não fazer barulho. Encostou a cabeça na porta e ouviu a nova batida.
     — Quem és? — Falou por precaução, mesmo que soubesse quem era.
     — Mon. — A voz da amada era baixa e ela sorriu orelha a orelha, abrindo rapidamente, puxando Mon para dentro e a beijando, pois havia sentido saudades.
     — Estás bem, minha princesa? — Mon não conseguia ver Sam no meio do breu.
     — Estou e vossa senhoria, meu amor? — Sam deu um beijo no rosto de Mon, pois sentia tanta saudade que não conseguia se segurar.
     — Sim. Não poderia dormir sem vê-la, minha dama. — Mon abraçou Sam bem apertado. — Sei que deves ter chorado pela morte de seu pai e a prisão de seu povo. Perdoe meu reino, peço-lhes. Não somos o que meu irmão é, um vil amaldiçoado que pagará pelo que fez.
     — Perdoarei se... — Sam começava a falar.
     — Aham... — Uma voz masculina falou e ambas pularam e gritaram instantemente.
     — Shiu! Não façam barulho! — A voz do homem cochichou.
     — Sacerdote? — Sam perguntou espantada.
     — Sim, vossa alteza. — O homem parecia nutrir admiração em sua voz.
     — Que grito foi esse? — Uma voz masculina gritou fora da porta fechada.
     — Um bicho subiu em mim. — Sam falou calmamente.
     — Tens certeza? Penso que ouvi vozes. — O homem parecia ter desconfiança.
     — Sim, senhor. Não há mais alguém aqui a não ser eu. — Sam confirmou.
     — Penso se devo entrar. — O homem insistia.
     — Estou com as vergonhas à mostra, senhor. Não vais querer ver-me assim. — Sam falava calmamente e Mon começou a rir com o nariz.
     — Perdão, vossa majestade. Podes gritar se precisares. Se houver algo, podes chamar-me. Virei rapidamente. — O homem afastou-se.
     — Quase... — Mon ria bastante.
     — O que queres aqui, sacerdote? — Sam perguntou ao homem.
     — Vosso pai fez o testamento antes de partir. Deixou todo o reino para vossa alteza. Também mudou a lei para que pudestes casar-se com quem quiseres. — O homem falava em tom de sacerdote.
     — Juras? — Sam sorriu tanto que iluminou o quarto por um segundo, o que assustou o sacerdote.
     — O que foi isso? — O homem estava assustado.
     — Isso o que? — Mon perguntou como se não tivesse visto nada.
     — Nada. — O homem deixou para lá, pois pensou que viu algo em sua cabeça.
     — Sacerdote, casarias-me com quem eu quiser? — Sam perguntou e Mon ficou surpresa.
     — Certamente que sim. — O homem foi firme.
     — Case-me agora com Mon. — Sam também foi firme.
     — Agora? — Mon sentia o coração batendo contra as costelas.
     — Não queres? — Sam ficou triste.
     — Claro, minha donzela... Porém não deveríamos nos casarmos em público, diante do povo? — Mon sempre pensou que casamentos eram assim.
     — Vosso irmão quer casar-se comigo. Se já for casada, o casamento com ele não será real. Tu serás minha companheira e imperatriz, não vosso irmão, um imperador de meu reino. — Sam queria se casar, era um fato, porém também deveria agir com inteligência e à frente do adversário.
     — Tens razão. Casemo-nos agora. — Mon sorria, o que era estranho, pois quem diria que em semanas mudaria tanto a ponto de querer o casamento?
     — Pode nos casar. — Sam segurava a mão de Mon.
     — Não deverias possuir um papel para assinarmos? — Mon estranhava, pois quem se casava em seu reino deveria ter o papel porque só o papel prendia, de fato, a pessoa na outra eternamente.
     — Os deuses pedem a cerimônia da alma e depois há a cerimônia do corpo físico. — O homem disse. — Farei a cerimônia da alma. Amanhã, trarei os papéis para ambas majestades assinarem.
      — Sim, senhor. — Mon concordou.
     A cerimônia foi feita no escuro, porém o homem poderia afirmar que jamais havia feito uma cerimônia tão estranha em tantos anos de sacerdócio. Não por estar escuro, porém por Samanun estar brilhando o tempo todo de uma forma leve e clara.
     O homem pensou que ela deveria ser vinda dos céus, pois havia surgido do nada, vinda do nada e brilhava. E se surpreendeu por estar ali comprovando isso. Quando se desse conta que havia feito o casamento de uma deusa, certamente que infartaria.
      Quanto às duas... Elas sorriam a cada segundo da cerimônia simples e calma, em voz baixa, sendo iluminadas pela luz frágil e simples que saía de Sam, quase como uma vela acesa.
     Mon sentia que vencer Kirk era algo inigualável. Embora amasse Sam, ela comemoraria a vitória em cima do irmão, pois seu coração também era feito disso, da disputa eterna contra o irmão que odiava. Além disso, se sentia vitoriosa em todas as partes. Ela estava mesmo se casando com uma deusa e uma princesa. Isso era incomum e raro. Ela havia feito algo além de seus sonhos.
     Sam, por outro lado, se sentia nos céus como jamais havia sentido em sua existência. Ao ponto de nem perceber que estava brilhando. Era feliz em toda a sua alma humana e divina, mas sentia-se triste por não ter a cerimônia que sonhou, com os pais presentes com ela, nem mostrando a felicidade que sentia para o povo vê-la com seu amor.
      — Vossa majestade está casada. Vosso pai vai gostar de saber sobre isso. — O homem falava.
     — Ele está vivo? — Sam sentia a esperança viva em seu coração, pois sentiu a morte do pai, porém poderia estar enganada.
     — Está. Agora vosso imperador está vivendo na árvore favorita de vossa alteza. A está esperando retornar para casa desde sua morte física. — O homem falava e Sam não sabia se deveria sentir-se feliz ou triste.
     — Como sabes? — Sam perguntou.
     — Veja e verás. — O homem saiu do quarto pela passagem secreta e deixou as duas ali.
     Naquela noite, ambas dormiram em quartos separados. Era um perigo deixar que descobrissem que dormiram juntas. Precisariam mentir para o bem maior.
     Sam disse sobre seu plano para Mon e Mon a ajudaria a planejar melhor para que funcionasse melhor. Ambas pensavam como uma só, era um fato. E ambas recuperariam o poder do reino. Kirk não ficaria com o que havia passado a ser de ambas, não dele.
     Quando acordou cedo naquela manhã, Sam foi até o jardim apressadamente. A árvore favorita estava sem flores, seca e com a aparência da tristeza do inverno. Sam tocou o tronco enrugado da velha árvore com a ponta dos dedos, tão levemente e carinhosamente. Via o pai dentro da árvore e sorria cheia de amor.
     — Sinto orgulho e honra de ser seu pai. — A voz falou em sua cabeça e Sam chorou, abraçado à árvore.
     Mon estava se aproximando quando viu a cena. O abraço da esposa na árvore e a árvore florescendo como se sempre estivesse florida. As pétalas lindas das flores brilhando ao sol. Havia sido uma cena única e linda que Mon jamais havia presenciado em seu reino. Os deuses daquele reino não agiam como seu deus.
     Ela só sentia felicidade por estar ali. A Mon de semanas atrás não existia mais. Ela só queria ajudar aquela mulher ou deusa a conquistar o reino dela de volta. Mon faria tudo para ver Sam ser feliz. Se havia uma mulher monogâmica, essa era Kornkamon. Ninguém diria que semanas antes a mulher estava comendo mulheres aos montes e sem compromisso, apenas pelo desejo. Mon era de Sam e faria tudo por ela. Até mesmo matar o próprio irmão se precisasse.

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