Capítulo 2

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Acordei no dia seguinte em uma paz inexplicável. Logo estranhei a calmaria dentro de mim depois de eu ter ido para uma festa daquelas. Lembrei-me vagamente de alguns pedaços da noite, como as bebidas que recusei, os flertes que ignorei e o estresse que tive com algumas vadias e que deixei de lado. Comecei, então, a comemorar internamente por uma noite bem sucedida. Todas essas coisas tentaram-me ontem e eu poderia ter deixado o meu lado PD aparecer. Eu poderia ter bebido muito, ter transado muito — ou quase, deixando os garotos literalmente por sua própria conta — e acabado em uma briga, mas não. Se eu consegui ser forte perto dessas coisas, então significa que eu não preciso me preocupar tanto quanto antes em esconder a minha antiga personalidade.

Isso é a melhor coisa que me aconteceu em meses.

Com um sorriso no rosto, esfreguei os olhos para enxergar melhor e percebi que não estava no internato. Logo me sentei na cama e olhei em volta, desconfiada. A cama onde eu estava deitada estava toda bagunçada, com lençóis desgrenhados ou jogados no chão. Isso não me surpreendeu, já que eu era o tipo de pessoa que se mexia — e muito — durante o sono. Relaxei até ver o meu vestido jogado no chão, bem distante da cama.

Foi então que eu me assustei. Eu estava seminua em um quarto que eu não conhecia. Os lençóis estavam todos bagunçados e eu não precisava me olhar no espelho para saber que meus cabelos estavam desgrenhados. Será que algo mais aconteceu na noite anterior que eu havia esquecido?

A primeira coisa que eu pensei foi que eu tivesse transado, mesmo depois de não achar outras peças de roupa no chão. E se a pessoa tivesse se vestido e ido embora? Isso é comum de acontecer. Não, eu não poderia ter transado! Isso poderia acabar com a integridade da minha nova personalidade. E isso era o que eu menos queria.

Bem, vamos tentar ser positiva: talvez eu não tivesse saído da festa ontem à noite. Poderia ter me perdido da Angel ou ela poderia ter bebido tanto que não podia dirigir ou sei lá. Poderia estar tão cansada que capotei no primeiro quarto que achei vazio. Mas então onde Angel estaria? Ela não me deixaria sozinha numa festas dessa, ainda mais conhecendo-me como Allison Gornik.

Cansada de ficar fazendo suposições na minha mente, eu me levantei e apanhei meu vestido no chão. Quase o deixei cair ao ver que alguém tinha vomitado na parte de cima dele. Digo alguém porque, pelo ângulo, com certeza não tinha sido eu.

Em um lampejo, acabei me lembrando de um flash da noite anterior. Vi Angel dançando loucamente enquanto subia as escadas da casa do Dan. Ela estava totalmente bêbada — tão bêbada que dizia que eu era a melhor de quinze em quinze segundos. Eu não estava tão preocupada com as loucuras que ela poderia fazer até ouvir a mesma cantar o trecho da música da Sia:

I'm gonna swing from the chandelier*. — e então, do alto da escada, tentou se pendurar no lustre que ficava no hall de entrada.

(* Em inglês: "Eu vou me balançar no lustre")

Desesperada, eu corri para tentar impedi-la e, ao puxá-la para longe do lustre, fiz com que ela se virasse para mim e vomitasse no meu vestido. Eu a larguei instantaneamente e ela aproveitou para tentar se pendurar no lustre novamente. Sorte que alguém apareceu e a afastou de lá.

Senti nojo da peça no mesmo momento que percebi que era vômito de bêbado, mas, infelizmente, eu não tinha mais nada para vestir e não ia sair por aí na casa dos outros de calcinha e sutiã. Então não tive escolha senão vesti-lo. Dobrei a parte do vômito no vestido — de um jeito que não seria notado — com o objetivo de escondê-lo. Assim eu não precisara ficar enjoada todas as vezes que olhasse para isso. Mas como o vômito seco estava em diagonal do meu peito até a minha cintura, tive que dobrar quase tudo.

[LV] DARK SIDE - Todos Temos Algo A EsconderOnde histórias criam vida. Descubra agora