Deus é bom

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Acordei meio indisposta.  Não tive uma boa noite. Tê-lo visto e abraçado no show despoletou muitos gatilhos. As lembranças da nossa trajectória afloraram e foram parar há um ano atrás quando julguei que estava grávida.

- Será que tem nénem aqui? Perguntou ele depois de uma tarde nos amando.

- Não creio,  apesar de minha menstruação estar atrasada uma semana.

- Se tiver será o meu maior presente.

Eu sabia que era o que ele mais ambicionava mas, eu estava numa fase em que psicológicamente não me encontrava na melhor forma.
O ritmo de shows era absurdo, a nossa vida girava entre hoteis e jatinhos, de cidade em cidade.
Era o que ele amava fazer, mas, havia mais de um ano em que não tínhamos férias.  Um tempinho só para nós dois.

Trabalhar é bom mas saber parar também é  necessário.

Andava deprimida e com tudo isso o corpo dá sinal.

Fiz um teste de gravidez e deu negativo. No dia seguinte a menstruação chegou.

Conversámos sobre a situação e Rodolffo prometeu falar com o parceiro e equipe sobre férias.  Miguel também se sentia cansado e com muita saudade da esposa e filhos.

Chegou o mês de Dezembro e lá tivemos uma brecha na agenda. A equipa decidiu não aceitar nenhum compromisso entre 15 de Dezembro e 10 de Janeiro.
Oba!! Natal e final de ano sem shows. Fora a parte financeira que nesta data é muito rentável, mas como dinheiro não é tudo, toda a equipe ficou feliz com estes dias para a família.

Nós dois pedimos desculpa à família de Rodolffo mas iríamos viajar e aproveitar para namorar muito.
Da minha parte não tinha família pois meus pais haviam falecido e não tenho irmãos.

Foi muito bom estes dias a dois.  Nós dois adoramos o campo.
Fizemos grandes caminhadas, muitos banhos em rios e cachoeiras, muitas festinhas populares e muito amor nos intervalos disto tudo.

Os dias passaram e voltámos revigorados e prontos para a rotina.

Fui tirada destes pensamentos com a chegada de Violeta.

- Fô, fô... Leta qué papa.
- Leta qué papa? Ju já vai dar.

Saímos as duas em direcção ao refeitório para tomarmos o café da manhã.

Levava a Violeta ao colo e ao colocá-la no chão senti uma tontura.
Sentei-me numa cadeira e logo veio a irmã Lourdes ajudar.

A irmã Lourdes era enfermeira e prontamente me atendeu. Nisto sinto um enjoo e corro para o banheiro.

Depois de vomitar até o que não tinha no estômago regresso ao refeitório.

Tentei comer mas não consegui.

A irmã Lourdes pediu para eu passar na enfermaria.

Ela e a madre superiora eram as únicas que conheciam a minha história e o porquê de eu estar ali.

-  Juliette, qual a probabilidade de estares grávida?

- Grávida eu? Não.  Não creio.

- Mas pode ser? Pergunta ela.

Fiquei calada tentando assimilar essa possibilidade.
O certo é que um mês antes do nosso término eu havia parado de tomar o anticoncepcional.
Sabia da vontade dele em ser pai e queria fazer uma surpresa.
Amor e sexo nós fazíamos e muito.

- Será?

- Amanhã vamos à clínica que trabalha com a instituição e fazemos os exames necessários,  está bem?
Não te preocupes que eles são muito discretos.

- Está bem. Tiremos as dúvidas.

Fiquei bem ansiosa durante o resto do dia. A ser verdade eu sou a mulher mais feliz do mundo.

No dia seguinte eu e a irmã Lourdes fomos à clínica.  Fizemos a colheita de sangue e aguardámos meia hora.
Foi a meia hora mais longa da minha vida.

O resultado era positivo.  Gravidíssima.

Regressadas ao colégio fomos conversar com a madre superiora.

- E agora, filha, vais contar ao pai?

- Mas é lógico.  Nunca seria egoísta ao ponto de privar um pai do seu filho e muito menos um filho de ser criado com o seu pai.

- Espero que consigamos superar as nossas diferenças e viver os 3 em paz. Vou esperar os três meses pois logo no início há sempre o risco de aborto.
Sei que já estou a ser egoísta mas quero dar a notícia quando ele estiver mais seguro no forninho.

Vou marcar consulta com a minha obstetra. Tenho muita confiança nela.

Aproveitei e entrei na página do instagran dele.

Lá estava outra flor.

Desta vez uma coroa imperial branca com a seguinte frase.

       - esta noite sonhei com um menininho. Podia ser o nosso,  amor.

ClausuraOnde histórias criam vida. Descubra agora