O desaparecimento

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Regressei à clínica no final da noite. Dei um beijo na minha irmã e ela regressou a casa.

Entrei no quarto de Ju e tanto ela como Gabriel dormiam.
A médica passou por aqui e informou-me de que estava tudo na mesma. No entanto na manhã seguinte daria alta tanto a Ju com a Gabriel.  O problema dela só o tempo concertaria. Ali nada mais havia a fazer.

Fiquei aliviado por um lado,  mas também apreensivo sobre o rumo que as coisas tomariam.

Pensando nisto acabei cochilando na maldita poltrona. Acordei como sempre aflito das costas.

Ao início da manhã já com a alta dos dois e anotando as recomendações da médica seguimos para casa.

Flor olhava pela janela como se fosse a primeira vez ali na cidade. Não proferiu uma só frase até chegar em casa.

Estacionei o carro, fui abrir a porta dela, mas, ela não queria sair.
- Amor, vem. Esta é a nossa casa.

Muito desconfiada lá saiu. Peguei no Gabriel,  peguei a mão dela e dirigi-me para a entrada.
Clara veio ao nosso encontro,  segurou a mala com os pertences dos dois e mais uma sacola e disse:

- Seja bem-vinda Juzinha e bébe.

- Ela olhou-a de alto a baixo e não respondeu.

Entrámos em casa e fui indicar-lhe o nosso quarto. Deixei-a lá olhando para tudo e fui deitar o Gabriel no berço. Veio todo o caminho a dormir e continuou.

Regressei ao meu quarto, zju estava sentada na cama olhando cada pormenor.

- Alguma coisa te chama a atenção?

- Não.  Só o teu cheiro que também está neste quarto.

- Sim. Este quarto é meu e teu. Não tem só o meu cheiro   também tem o teu.

- Queres tomar um banho para irmos comer?

- Sim.

- Deixei-a a tomar banho sozinha.  Não era o que me apetecia,  eu queria entrar com ela naquele chuveiro mas resolvi não forçar.

Desci e fui explicar a Clara o que estava acontecendo. 

- Tem paciência com ela Clara!  Não a faças puxar muito pela memória. A médica diz que aos poucos ela vai lembrar.
Clara chorava. Fui ter com ela  abracei-a e dei-lhe um beijo na bochecha.

- Ela não merecia. Estava tão feliz com os filhos e agora nem lembra deles.

- Põe a mesa que já vimos almoçar.

- Fui buscar Ju ao quarto.  Ainda estava com o cabelo molhado.

- Deixa eu secar como faço muitas vezes.  Ela não se fez rogada mas olhava fixamente para mim através do espelho.

- O que foi, perguntei?

- Tu és sempre assim comigo?

- Assim como?

- Meigo, amoroso.

- Mas eu amo-te, não tenho como ser de outro jeito.

- E eu, como sou?

- Ah! Isso é outra coisa. Tú és muito arengueira, mas, muito amorosa também.

Ela sorriu.

- Vamos almoçar.  A Clara fez um almoço gostoso.
Estranhei que nem uma vez desde que chegámos ela falou do bébé.   Ele continuava a dormir pois tinha sido alimentado antes de sair da clínica.

Almoçamos em silêncio. Por vezes ela olhava para Clara e depois para mim.

- O almoço está gostoso.  A tua mãe é boa cozinheira.

ClausuraOnde histórias criam vida. Descubra agora