Nem sempre agimos certo

60 6 2
                                    

Eu estava muito angustiado sem notícias de Ju.  Onde se meteu esta mulher? Questionava.
Sentei-me no jardim, coloquei as mãos na cabeça e chorei.  Meu Deus faz com que nenhum mal lhe aconteça.

Nisto o meu celular toca.

- Alô!! Rodolffo? Sou a madre superiora.

- Olá irmã como vai?

- Bem.  Rodolffo não sei o que aconteceu com a Juliette mas ela está aqui e não me parece muito bem.

- Graças a Deus,  suspirei de alívio.
Vou já aí buscá-la. Não a deixe sair e muito menos entrar no carro.

- Eu espero, disse a madre superiora.

Peguei um amigo meu para depois trazer o carro dela e seguimos em direcção ao colégio.  - Como não me lembrei de procurar lá?

Uma madre aguardava por mim no portão e levou-me a uma sala onde estavam Ju e a madre superiora.

- Bom dia irmã.  Ju, não faças mais isto.  Que susto me pregaste.

- Mas eu quero a minha filha. Elas não me querem dar a Violeta.

- Calma. Nós dois vamos buscar a nossa filha.

Expliquei tudo o que Ju tinha passado no pós parto  pedi desculpa e agradeci a atenção de todos. Segurei na mão de Ju e seguimos para o  carro.

Que estupidez a minha. Devia ter ido buscar a Violeta. Às vezes queremos preservar tanto as outras pessoas que cometemos erros inimagináveis.
Eu só queria que ela descansasse. Eu vejo que ela não demonstra grande afecto pelo Gabriel então pensei que a nossa filha ia confundí-la mais.
Errei. Ela lembrou da Ju.  Mais um passo na recuperação.

Seguimos em direcção à casa dos meus pais. Já tinha telefonado e eles estavam nos esperando no portão. Mal parei o carro ela abriu a porta e correu a pegar na filha.
Ignorou os dois completamente e abraçou a menina.

- Filha, a mamãe procurou por ti.  Não quero ficar longe.

- Mamãe! Tive saudade, diz a menina dando-lhe beijinhos  na bochecha.

- Leva-nos para a minha casa diz ela olhando para mim.

Eu olhei para meus pais, encolhi os ombros e sussurrei um "paciência ".

E lá fomos.  As duas no banco de trás e eu como motorista.  De vez em quando olhava pelo espelho retrovisor e via elas grudadinhas fazendo carinho uma na outra.

Chegádos a casa, pedi  a Violeta para ir brincar com Clara que eu queria conversar com a mamãe.

- Amor, senta aqui. Precisamos de conversar. - ela sentou-se ao pé de mim e segurei-a pelas duas mãos.

- Ju, não faças mais isto.  Quando te lembrares de alguma coisa, fala comigo.  Nós dois resolvemos juntos.  Eu fiquei muito aflito com o teu desaparecimento.  Procurei-te por todo o lado.
- Lembraste-te da nossa filha, onde a encontraste. Lembraste-te de mais alguma coisa?

- Não.  Acho que não.  A minha cabeça está confusa. Tudo coisas misturadas.

- Precisas de descansar. São muitas emoções.  - Anda, mas primeiro tens que tirar leite para o Gabriel.

- Eu lembrei de tirar quando saí.

- Eu não sou boa mãe, pois não?

- Porquê,  meu amor?

- Eu deixei o bébé.

- Mas foste buscar a nossa filha, então és boa mãe sim. Só estás confusa. Logo lembras do Gabriel também.

- Eu lembro dele mas não me lembro quando nasceu. Eu só lembrei do dia que a Violeta chegou.

- Temos que ter paciência.  Vem, tens que descansar.

- Tráz o bébé para mamar.  Eu quero dar mama.

Levei-a ao quarto do nosso filho e ela pô-lo num dos seios.  Olhou para mim e sorriu.
Passei a mão pelos cabelos dela e dei-lhe um beijo na cabeça.

Ficámos ali os três em silêncio.  Ela passou o Gabriel para o outro seio e começou a balançar e a fazer festinhas na bochecha dele que acabou por adormecer.

Deitei Gabriel no berço, peguei na mão dela e levei-a para a cama.
Adormeceu sobre o meu peito e acabei por cochilar também.

Os dias passavam sem muitas novidades. Ninguém ainda tinha vindo visitar o meu filho.  Dada a situação de Ju eu pedi que ninguém viesse,  nem meus pais.  Era muita informação para a cabeça dela.  Queria que ela se recuperasse calmamente.  Informação a mais só complica.

Hoje notei ela mais empenhada com Gabriel.  Quiz dar banho mudar a fralda e dar mama.  Arrumou umas roupinhas dele.  Ficava a contemplar tudo como se tivesse chegado agora.

- Rodolffo,   olha isto!  Tão lindo.  Olha esta touca e estas botinhas.   Tudo coisas que tínhamos comprado juntos.

Fui para perto dela e começámos a desarrumar a gaveta.

- Isto, comprei eu.  Isto compras-te tu.  Isto fomos os dois.  Isto foi a minha irmã,  isto a minha mãe  e isto a Clara.  Algumas coisas são dos nossos amigos .

- Eu conheço os teus pais? - A Clara é tua mãe?

- Conheces sim, só não lembras. A Clara é nossa amiga. Ela gosta muito de nós.

Ela olhou para mim com lágrimas nos olhos.

- Desculpa.

Peguei no seu rosto e dei-lhe um selinho demorado.  Senti o corpo dela estremecer.  Sequei as lágrimas dela e fiz um carinho
Ela encostou a cabeça no meu peito, abracei-a e ficámos assim alguns minutos.

Durante uns dias Ju dedicou-se a explorar tudo o que havia em casa.
Passava horas olhando os objectos decorativos, as roupas, os livros.
Parecia que buscava neles qualquer coisa que lhe chamasse a atenção.
Hoje estava no closet olhando as suas roupas.  Dependurava os vestidos, olhava e voltava a pendurar.  Por vezes coçava a cabeça como que a tentar puxar pela memória.

Foi assim que a encontrei.  Sentei-me num puff e fiquei observando.  Ela olhava para um vestido e depois para mim.  Pendurava.  Olhava e pendurava.

Nisto reparou numa enorme caixa de cartão na parte superior do closet

- Tira para mim  por favor.

Era a caixa onde estavam as flores secas com as mensagens que durante muito tempo eu lhe oferecia virtualmente.

Abriu a caixa e na parte superior estava a  correntinha com uma menina e um menino que eu tinha comprado quando sonhei com um menino.

Olhou para ela e começou a chorar.

- É minha?  Eu quero usar.

- É tua sim, amor.  Deixa que eu coloco.

































ClausuraOnde histórias criam vida. Descubra agora