Clausura

A véspera do grande dia

Hoje acordei muito ansiosa.  Afinal amanhã casava com o meu grande amor.

Levantei-me cedo e fui preparar o café.
Subi para preparar as crianças.  Hoje queria todo o mundo tomando café junto.

O meu vestido e o de Violeta já tinham chegado.  Tive que escondê-los no quarto dela para Rodolffo não os ver.  O terno dele e do Gabriel já estavam na casa da minha sogra pois os dois sairiam de lá.

- Amor, levanta.   Vem tomar café com as crianças e comigo.  Ele desceu mesmo em pijama.

- Como estão os amores do papai?

Violeta,  arteira respondeu:

- Lindos como sempre.

- É modesta.  Sai à mãe.

Começámos a comer e Ju olhando para mim, passa a mão na minha barba, rouba um selinho e diz:

- Amor,  casamos amanhã.

- Como assim, amanhã!  Só me avisas agora?  Tenho tanta coisa para tratar.

- Ué!  O quê?  Só precisas de um tratamento de beleza.  Tens hoje e amanhã todo o dia.  O casamento é às 18 horas.

- E achas pouco?  Cabelo, barba, pele, massagem.  O meu terno cadê?

- Está na tua mãe.   Vais dormir lá hoje com o Gabriel.   Eu fico com a Violeta.

- E não pode dormir tudo junto?

- Não.  É tradição o noivo não dormir com a noiva no último dia de solteiro.

- Não gostei, mas, até à noite vou aproveitar.   E porque o Gabriel fica lá.

- Tu vais entrar na igreja com ele.  Eu entro com a Violeta.   Nós duas sózinhas.

- Tens os teus votos prontos?

- Não.   Quero de improviso.  Não sou muito bom de palavras mas vou tentar.  Acho mais bonito.

- Eu também.  Lá vai ter uma surpresa para ti mas só vais descobrir na hora.

- Essa parte eu detesto.  Surpresas e ainda por cima na frente de tanta gente deixam-me encabulado.

- Mas esta vais gostar.

- Então e hoje fazemos o quê? 

- Vamos fazer as malas para a lua de mel.  Não te esqueças que partimos depois de amanhã.

- Vou ter tantas saudades das crianças.  Queria levá-las.

- Elas ficam bem com os avós e a tia.  Numa outra altura viajamos com eles, aí o Gabriel já é mais crescido e dá menos trabalho.

- Então vamos sair um pouco e almoçamos fora.  Depois, da parte de tarde fazemos as malas.

Assim fizemos.  Regressámos a casa e antes de mais fomos pesquisar o tempo em Itália.

Estamos em Maio.  Na Europa é Primavera.  Ainda não está muito calor mas também não faz muito frio.  Talvez à noite e de madrugada se agradeça um agasalho quentinho.
De dia se estiver sol as temperaturas são bem amenas.

Escolhidas as roupas deixei a tarefa de as colocar nas malas para Rodolffo.
Por conta de muitas malas feitas e desfeitas, ele adquiriu uma técnica fantástica. 
Dobrava tudo que nem um livro e empilhava por género.  Os conjuntos dobrava junto.  Havia sacos para embalar algumas peças a vácuo.   Ocupava menos espaço.  O bonito até tinha bombinha de vácuo.  Alguns sacos extra para a roupa suja e voilá, malas prontas.

- Agora quero aproveitar a minha noiva.   Amanhã já não vou ter.

- Não vais ter noiva mas terás mulher.

- Não é a mesma coisa. Mulher tem outro peso.

- Que peso?  O que vai mudar?

- Na vida real nada mas, na nossa mente acho que muda sim.  Apesar destes anos todos juntos acho que ao dizermos, Sim, o nosso subconsciente muda a rota.

- Tolices.

- Vem cá para eu te mostrar o que são tolices.  As crianças?

- Estão com a Eva no jardim.

- Fecha a porta e vem que eu quero aproveitar a minha noivinha.

- Tá, mas cuidado para não deixares marcas no meu corpo.   Amanhã quero estar plena sem precisar usar maquilhagem para cobrir os teus feitos.

- Estou ansioso por ver-te de noiva.  E o vestido da Violeta? Não me mostraste.

- Pois não.   É igual ao meu.  Não podia mostrar.

- Os nossos filhos vão estar tão lindos no baptizado.   Primeiro é o casamento e depois o baptizado.

- Ainda não acredito que tu trataste de tudo sózinha.

- Pois foi.  Mas com planeamento tudo se torna fácil.  O que me custou mais foi decidir as comidas mas eu sei o que gosto e o que tu gostas,  então,  quem não gostar do que apresentarem que guarde o apetite e coma depois em casa.

- Ah! Os brindes para os convidados também deram trabalho.

- Só vamos dar lembranças do baptizado.   Escolhi uma que desse para os casais e para os solteiros.  Lembranças de casamento eu já acho cafona.  Sem contar que eu não queria gastar muito dinheiro.   Prefiro esbanjar com os dois na lua de mel.

- Esta mulher só me dá orgulho.  Agora vem cá que eu tou com saudades.

Entre beijos e amassos,  fizemos amor na nossa cama, no chão do quarto, no chuveiro e ainda demos uma saltada ao closet.  Tivemos que voltar ao banheiro  para depois descer.  Estava na hora do jantar das crianças.

As crianças já estavam de banho tomado e iam iniciar o jantar.  Neste aspecto a Eva é excelente.  Eu dei a papa ao Gabriel e Rodolffo fez o prato de Violeta.   Dispensámos a Eva já que Gabriel ia com o pai e Violeta dormiria comigo.

- Amor, depois podes colocar as crianças para dormir.   Eu só vou embora pelas 23,30 horas.  A casa dos meus pais fica perto.   Depois acordo o Gabriel e vamos.

- Está bem.

Jantámos em amena cavaqueira.   Também me custava separar dele esta noite mas em nome da tradição e da superstição tinha que ser.

Terminámos o jantar, colocámos as crianças para dormir e fomos assistir um filme.
Um sofá,  um pote de sorvete, 2 colheres,  a pessoa que amamos ao nosso lado e não existe programa melhor.
Ah! Existe sim mas esse já tínhamos feito antes de jantar.