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O que você sacrificaria pelos seus sonhos?
O maior evento da ilha Destra, a Arena de Águas Negras, é regido pelas leis de uma população machista. Segundo essas leis, mulheres não podem competir nas lutas. Esse é o lugar onde SCARLET MYR vive. Me...
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╰────943 palavras
⎯⎯ O que acontece se entrar água no rabo dele? ⎯⎯ indaga Noah sobre Teech.
A vontade de gargalhar muito é mais forte que Scarlet, e logo ela se vê com as costas no chão. Como aquilo aconteceu?
⎯⎯ Se desconcentrou. ⎯⎯ ri o dono da mão estendida para ela. ⎯⎯ A Ordem vai ficar chateada contigo se continuar assim.
Scarlet engancha o pé de Noah pela audácia. Só não planejou que ele caísse bem em cima dela, separados apenas pelos braços velozes do lutador. Ou será que foi ela quem caiu? Sente a gravidade puxar para cima em vez de para baixo. Puxar para ele. Ela consegue sentir cada centímetro do corpo dele sobre o seu, o calor, a presença. Percebe as mãos dele sobre seus ombros, sua respiração e seu hálito de menta. Sua boca, aberta pelo susto, é provocante. Os olhos arregalados refletem a chama dela.
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O subir e descer do tórax de ambos entra em uníssono. Podem ouvir os corações disputando para ver quem bombeia mais rápido. Mas seus rostos logo se viram para o barulho de quebrar ali ao lado. Se encontram no meio da rua, no olho da tempestade de socos e chutes da multidão.
Scarlet aceitou acompanhar Noah numa ida ao Mercado das Moscas para conhecer um fornecedor. Agora, estão no meio de uma briga de bar, tudo por que alguém confundiu Noah com um namorado traíra.
⎯⎯ Não fiz nada, Scarlet, juro!
⎯⎯ Sei.
Subitamente o lutador vira a cabeça como um suricato escutando perigo. Scarlet não consegue identificar o som, então apenas aceita ser guiada por Noah em meio aos berros e xingamentos da turba. Quando a ruiva então enxerga a morena, Noah já está sendo puxado através de uma passagem estreita na cerca de madeira. Do outro lado, somente o barulho da confusão. Os sócios tomam um tempo para recuperar o fôlego antes de Scarlet começar a analisar a mulher que os salvou.
Esguia e forte como um leopardo, veste um colete com as mesmas manchas de um. Até tem as listras anti-toxicidade, o que sugere que aquilo veio direto da fonte. Calças de couro mostram as pernas como Scarlet nunca teria coragem e botas negras gastas sustentam um ar de escárnio. Seus olhos esmeralda também. Aliás, é desse nome que Noah a chama:
⎯⎯ Tô te devendo essa, Esmeralda.
⎯⎯ Estás me devendo bem mais do que essa, Noah. ⎯⎯ A morena puxa o longo e ondulado cabelo cinza-escuro num rabo de cavalo rápido e preciso, a mecha verde à esquerda da face. O único sinal das origens dela é o sotaque de seu "está". Tribo de Zabulon. ⎯⎯ Quem é?
⎯⎯ É a Scarlet Myr, que te falei. Scarlet, essa é Esmeralda de Caminhas, minha melhor fornecedora e, agora, a nossa.
⎯⎯ Oi, Esmeralda. ⎯⎯ A ruiva força seu melhor sorriso. ⎯⎯ Nunca te vi por aqui antes.
⎯⎯ Não podia recusar mais um favor ao Noahzinho, então minha tripulação e eu demos uma passada. ⎯⎯ A morena observa Scarlet de cima a baixo.
⎯⎯ É pirata?
⎯⎯ Corsária.
⎯⎯ Ah.
⎯⎯ E por falar no favor... ⎯⎯ interrompe o lutador, de mãos juntas.
Esmeralda se demora um pouco mais sobre a mecânica antes de pedir que a seguissem pelo beco até o píer. Não é difícil identificar o navio que ocupa três deques inteiros. A listra verde da corsária também se repete na lateral dele. Negro como a noite, é uma mistura de madeira e metal, tradição e tecnologia. Ostenta seu nome em dourado na lateral da proa: Argo V .
⎯⎯ Me diz, pra quê alguém que não é pescador vai querer cargas de profundidade mesmo? ⎯⎯ Esmeralda para em frente a um conjunto de caixas pequenas.
⎯⎯ E pra quê uma tripulação de corsários precisa de um arpão caça-casco de última geração? ⎯⎯ rebate Scarlet, mesmo com o olhar arregalado de Noah.
⎯⎯ Não chamam assim na minha terra.
⎯⎯ Talvez seja só por aqui pelo resto do oceano.
As mulheres se encaram por seculares segundos. A tensão pode facilmente fazer todos aqueles barcos no píer implodirem. Subitamente, Esmeralda dá um sorriso, algo que seu rosto límpido não parece fazer com muita frequência, e diz:
⎯⎯ Gostei de você.
Então joga para a ruiva um molho de chaves amarelas numeradas com etiquetas.
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Scarlet tira a chave número cinco e impacientemente destranca o último pacote. Deposita o dispositivo, que tem o tamanho de sua mão aberta, sobre a mesa de trabalho.
⎯⎯ Não gostou dela, então? ⎯⎯ indaga Noah, organizando os produtos químicos num dos armários prateados da oficina. ⎯⎯ Nada não pode ser. Faz dois dias que cê não vai nos treinos. Ignora minhas mensagens... Achou... outro treinador?
⎯⎯ Não. E toda vez que você pergunta digo que não é nada. ⎯⎯ resmunga a mecânica.
⎯⎯ Tá, não pergunto mais. Pode pelo menos comer alguma coisa?
⎯⎯ Você não é meu pai, tá? Olha, se não for ajudar, só sai. Se essas cargas explodirem, não quero você sujando meu chão.
O lutador percebe que não vale a pena. Balança a cabeça e se retira.
Scarlet larga a chave de fenda e se apoia sobre a mesa de trabalho. Quem está explodindo é ela. Menos de meia semana para o grande dia e menos de meio trabalho está pronto. Por que tinha aceitado aquela enrascada mesmo? Quando foi a última vez que dormiu? Toda aquela dor nos músculos e na mente a mantinha acordada a noite, debruçada sobre o projeto da armadura. A armadura que vai usar para tentar destronar um ser implacável que só se importa com bebida e bater nos mais fracos. Incluindo ela. É por isso que está estressada, Noah, e não por que Esmeralda é uma ladra de...
⎯⎯ Pelo Deus Sumido... Tô enlouquecendo. ⎯⎯ Escorrega até sentar no chão, curvada no sono que faz suas pálpebras se fecharem, sem controle.
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