𝙱𝚊𝚝𝚒𝚍𝚊𝚜 𝚍𝚊 𝙼á𝚚𝚞𝚒𝚗𝚊 𝙴𝚜𝚌𝚊𝚛𝚕𝚊𝚝𝚎

10.0

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╰────855 palavras

⎯⎯ EU DESISTO! ⎯⎯ berra Scarlet, vendo Lucius acertar uma porretada nas costas de Noah. ⎯⎯ TEECH, POR FAVOR, EU DESISTO! ⎯⎯ Lágrimas. As correntes do lutador caem de joelhos com ele. Um, dois socos. ⎯⎯ ALGUÉM! ELE QUER ME MATAR!

O campeão de Destra desiste da racionalidade e começa a bater como um gorila louco. Líquido verde escorre dos espinhos. Contorce a face quando goteja pela sobrancelha. A vidraça enfim explode. Revela uma garota encolhida. Teech não consegue ver ou ouvi-la implorando. O líquido cai no interior do casco e queima o estofado. Teech também não sobreviverá muito tempo àquilo que libera do corpo. Mas não importa mais. O alvo está bem ali à sua frente, tem certeza de que bateu no lugar certo. Ergue o punho colossal. A água da chuva não serve para alimentá-lo como a do mar. Ela é pesada como uma história de vida. Como o soco que prepara. Que puxa para trás. Que mira mentalmente onde acredita estar o piloto daquela máquina demoníaca. Acaba aqui.

CRAAAASHHHH!

⎯⎯ Então é isso. ⎯⎯ murmura. Cospe. Não é saliva e nem veneno, e sim sangue. Seus olhos finalmente estão livres da escuridão. Que silêncio é esse? Olha em volta, mas ainda não consegue ver nada além das gotas brilhantes no ar. Então olha para baixo. Há uma garota dentro da máquina que destruiu. ⎯⎯ Lucile?

Pisca. Esteve esse tempo todo batendo em Lucile? Não. Sua mente está embaralhada. Lucile não tem cabelos vermelhos, e sim violeta. Também não tem essa expressão aterrorizada que a ruiva lança para a barriga dele. Então Teech segue esse olhar, e encontra o próprio abdômen coberto em vermelho sanguíneo, que escorre com a água da chuva. Há algo ali. Um longo pedaço de metal cheio de pontas em sua lateral, como uma daquelas mandíbulas irritantes que tinha arrancado. Mas não pode ser perfurado a menos que use sua transformação de baiacu! Ah. Está usando. Sua cabeça continua lhe pregando peças. Álcool, cansaço e veneno não são uma boa combinação.

Escorrega. Suas costas finalmente atingem o chão e o pedaço de metal que atravessa seu diafragma reflete a luz dos holofotes direto nos olhos de Scarlet. Ela fecha as pálpebras. Quando abre de novo, é como estar num espaço onde o tempo passa lentamente.

⎯⎯ Não... ⎯⎯ Tira a mão da alavanca que ativa as mandíbulas. ⎯⎯ Não... ⎯⎯ Atravessa o visor quebrado da armadura. ⎯⎯ Não... ⎯⎯ Afunda até os joelhos para chegar a Teech. ⎯⎯ Não... ⎯⎯ As unhas se cravam no couro cabeludo. Ela fita o ferimento do campeão e então seu rosto, o qual se contorce para balbuciar algo.

⎯⎯ Tá tudo bem, Lucile. ⎯⎯ arfa Teech. ⎯⎯ É só um arranhão.

⎯⎯ Para! Não fecha os olhos! ⎯⎯ implora Scarlet, balançando seu rosto. ⎯⎯ Eu não queria isso!

⎯⎯ Sempre vou estar ao seu lado. Não importa... se não conseguir me amar. Se se chamar Lucile ou Lucius. Sempre... vou te amar... Luci...

O fôlego dele escapa pelos dedos de Scarlet. Encara o cadáver. Seu cadáver. Sua vítima. Seu erro. Sua culpa. Sua vontade de sumir. Seu buraco negro no meio do peito.

⎯⎯ Scarlet! ⎯⎯ soa ao longe, como o badalar do Sino de Batalha. Atravessa o crânio dela, fazendo o cérebro formigar. Mas sua atenção não está em lugar nenhum. Só uma coisa é capaz de ativar seus movimentos automáticos. Um instinto antigo, datado dos primeiros inventores. A curiosidade por coisas brilhantes. Afinal, dourado daquele jeito, destaca-se na garganta de Teech. Por que ele estaria usando um colar de ouro durante a luta? Por que esse colar parece tão familiar para Scarlet? Pertenceu à família do campeão? Alguém choraria amargamente pelas ações da mecânica? As ações de alguém chamado Morte Escarlate? ⎯⎯ Scarlet, acorda!

Encontra seus olhos sérios. Ela o tinha deixado irritado? Não. Noah está apavorado. Por isso a sacode pelos ombros. Para arrancá-la dos devaneios. Uma tempestade está sobre a arena agora. Mas as pessoas não se importam. Avançam em um exército furioso para cima do casal, gritando por vingança. Eles tiraram o campeão deles, afinal.

⎯⎯ Scarlet, temos que ir embora! ⎯⎯ Noah berra.

Confusa, a ruiva olha em volta. O lutador engole seco. Então posiciona-se à frente da mulher, mas defender de um só lado não parece muito útil, assim como a faca que ele empunha. Espera, não planeja lutar com ela? Não. Corta a palma da mão. Líquido rubro cai num filete longo e demorado, misturando-se à água e criando uma mancha em volta de Noah e Scarlet. Por reflexo, a ruiva segura o pulso dele para longe da faca, quando sente um arrastar nos tornozelos. É a água, ou melhor, o sangue. Se move.

De repente, o homem que está na linha de frente da multidão some, deixando para trás apenas seu brado póstumo. Um vulto carmesim começa a girar em volta da dupla no centro da arena, tragando da mesma forma várias pessoas, enquanto mais duas figuras se formam a partir do sangue derramado de Noah. Erguem-se como aves nascendo do ovo, alçando voo logo em seguida, mas tudo do que são compostas é uma forma cúbica e bocas com incontáveis dentes brancos chatos. Serpenteiam com suas caudas líquidas e devoram qualquer um no caminho.

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