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╰────909 palavras

Ergue-se com tudo de uma cama improvisada com um lençol e um travesseiro brancos. A luz também é branca, e forte como as nove da manhã.

⎯⎯ Que dia...? ⎯⎯ balbucia, a visão turva.

⎯⎯ Calma. ⎯⎯ Um homem estranho se aproxima com uma tigela fumegante. Cheira a legumes e calor. Felizmente, a ruiva o reconhece antes de desferir a cotovelada que ele mesmo lhe ensinou. ⎯⎯ É sexta-feira. Aqui. Cheira.

Ela obedece.

⎯⎯ Agora, prova. ⎯⎯ instrui Noah.

Ela o faz.

⎯⎯ Bom? ⎯⎯ O lutador indaga.

Está incrível. O sabor do cozido preenche a boca e os sentidos da mulher. O mundo é aquele ensopado e aquele ensopado é o seu mundo.

Noah percebe a reação positiva e senta-se ao lado dela. Quando a tigela se esvazia, um pouco depois, se prepara para levantar, quando algo toca seu braço. Olha para o lado e vê a cabeça ruiva da sócia repousada sobre seu ombro. O peito dela sobe e desce de forma rítmica e lenta. As narinas abrem e fecham.

O lutador sente o coração errar umas batidas. Então se ajeita para lhe dar mais conforto e começa a longa seção de cafuné do dia.

"O que tá fazendo, Noah?" Fita a luz do sol que entra pelas frestas da parede.

¤♡¤

Os filetes luminosos mudam do prata para o ouro e do ouro para o bronze a medida que a tarde vai acabando.

Scarlet se sente mais leve. A ciganinha azul e as calças jeans cinzentas estão a deixando tão confortável quanto jamais imaginou que precisaria se sentir. Olha de relance para Noah. Em vez da roupa de academia, veste uma camisa praiana florida e vermelha, que lhe cai excepcionalmente bem. A bermuda é branca e os fios negros, penteados pela primeira vez desde que o conheceu. Não consegue acreditar. Está ainda mais bonito. Mas o que mais chama a atenção é a leveza que o lutador carrega. Até consegue senti-la. Inebria.

O lutador se dirige para uma colina íngreme coberta de vegetação. A mulher não consegue parar de pensar no tempo passando. Aquilo ali é realmente necessário?

De repente, o lutador vai para trás dela e põe a mão sobre seus olhos. Ela protesta, mas acaba rindo da atitude brega. Aceita ser conduzida, e para quando ele pede. Finge não notar a outra mão dele sobre sua cintura enquanto o sussurro em seu ouvido diz que abra as pálpebras.

Escondida no ângulo, uma ravina corta o monte ao meio. Paredões cobertos de cristais vermelhos se erguem de cada lado, como lava cristalizada. Uma casinha localiza-se sobre uma larga plataforma entre eles: andar único, emadeirada, baixa e de telhado cônico, cuja chaminé esfumaça. Quando Noah e Scarlet se aproximam, se fazem visíveis várias cadeiras e mesas estilo piquenique na plataforma ao redor. O odor de comida caseira e pizza preenchem o ar. Ignorando os olhares dos casais e famílias nas outras mesas, sentam-se numa bem próximo ao penhasco.

⎯⎯ Que foi? ⎯⎯ A mecha que balançava ao vento, Scarlet põe atrás da orelha.

⎯⎯ Nada. É que... minha avó usava esse brinco. ⎯⎯ diz Noah. ⎯⎯ Vendi há um tempo atrás.

⎯⎯ Ai, desculpa! Pelo Deus Sumido, uso o tempo todo, por que você não...?

⎯⎯ Não, não! Tá tudo bem. Gosto de vê-lo em você. Azul e vermelho são minhas cores favoritas.

⎯⎯ Não era só azul?

⎯⎯ Tem perdido lugar bem rápido nos últimos dias.

Scarlet sorri para a mesa. Um guardanapo é o que separa os dois. Um simples guardanapo.

⎯⎯ Sabe ⎯⎯ Scarlet fala. ⎯⎯ Acho que tô me lembrando desse lugar. Não, nunca vim aqui, mas... lembro mais ou menos dos meus pais me contando histórias de uma montanha cortada ao meio na ilha Destra. Diziam que um gigante marinho fez isso numa das batalhas da Catarse.

⎯⎯ Nunca... me disse o que aconteceu com seus pais. Sabe, pra ter ido pro orfanato. ⎯⎯ Noah comenta. ⎯⎯ Quer dizer, você não precisa. Mas... não sei quase nada sobre você.

⎯⎯ Eu... ⎯⎯ A ruiva respira fundo. O assunto mais delicado de sua vida nunca sai fácil. Mas se sentiria cometendo uma injustiça com o lutador se ficasse calada. ⎯⎯ Nasci no continente também. Em Dedos. Nos mudamos pra cá quando eu tinha seis anos, pra fugir do conflito com os anjos. Só meus pais e eu. Adorava o mar. Tínhamos uma casinha simples na Alameda das Palmeiras, um barco de pesca só nosso, nos amávamos. Não conseguia querer nada melhor. Mas... acho que sempre... tem que ter um mas... em toda história feliz...

Quando o toque da mão de Noah surge na sua é que sente a gota escorrer por sua bochecha. Trata de limpá-la logo. Não gosta de chorar.

⎯⎯ A gente morou em Cardio. Até meus dezessete. ⎯⎯ Noah preenche o silêncio para Scarlet poder se recompor. ⎯⎯ Por que foi esse o tempo que levou pra descobrirem no que meu pai realmente trabalhava. Ele... administrava experimentos ilegais. Com sangue de anjos.

O lutador não consegue encarar os olhos arregalados da ruiva. Mira a ravina e continua:

⎯⎯ Minha mãe foi a primeira a vazar. Depois, meu pai, minha avó e eu tivemos que passar semanas pulando de casa em casa enquanto ele tentava sobreviver aos advogados. Acabamos aqui, sem dinheiro ou futuro. Acho que, em parte, por todo esse estresse que minha avó adoeceu.

⎯⎯ E seu pai?

⎯⎯ O mar. Faz dois anos. E os seus?

⎯⎯ ...Também. Quando fiz nove.

⎯⎯ Então acho que o que O Mãe falou tava certo. O sofrimento une as pessoas. Eu... fico feliz que tenha sido com você.

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𝙱𝚊𝚝𝚒𝚍𝚊𝚜 𝚍𝚊 𝙼á𝚚𝚞𝚒𝚗𝚊 𝙴𝚜𝚌𝚊𝚛𝚕𝚊𝚝𝚎Onde histórias criam vida. Descubra agora