Capítulo Bônus 1 - Flashbacks

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14/01/2015 - Valentine's Day

Valentine - Kina Grannis começou a tocar alto no quarto.
-Mas que?!? - Resmungo puxando o cobertor até cobrir meu corpo inteiro e voltei a dormir. 'Uma hora tem que parar de tocar' Pensei ainda escutando a musica gritar pelo meu quarto.

Parou de tocar e não deu tempo nem de agradecer mentalmente que ele já voltou a tocar.
-Só pode ser brincadeira. - Levantei e fui até meu celular, que eu descobri estar do outro lado do quarto carregando. Desbloqueei a tela e 08:30am 'SERIO???' Revirei os olhos e olhei o que estava escrito.

'Vá até o banheiro K.' Desligo o alarme e caminho calma até o banheiro que tem no meu quarto.

'Boa tarde, dorminhoca. Desculpe te acordar tão cedo, mas hoje é um dia bem legal. Eu preparei um dia bem diferente para nós. Primeiro, seu café da manha está na sala.
Te vejo lá.
K.'

Ai jesus. Respiro fundo e vou fazer minha higiene antes de descer. No andar de baixo, a mesa da sala estava posta com ovos e bacons, panquecas com morangos, alguns pedaços de bolo e sucos.
-Tu jura mesmo que eu vou conseguir comer isso tudo? - Sento e pego uma carta que havia ao lado de uma rosa.

'Eu sei, eu sei. 'Mas Kian, eu não vou conseguir comer tudo isso' Não se preocupa, pequena. Você come o que você conseguir. Eu aposto que a July ta no quarto dela rezando para você não comer porque ela tava babando tudo quando eu levei ai. Ok, coma direitinho. Depois vá até seu quarto trocar de roupa, e vá até o carro.
Ps: eu saberei se você não comer, doce.
Te vejo daqui a pouco.
K.'

Bufo e começo pelas panquecas. O maluco havia feio 5 gigantes panquecas com muito morango e chocolate ralado. Comi 2 e já estava estourando. Fiz força para comer um pouco dos ovos e do bacon, mas desisti quando senti que ia vomitar tudo.

July estava bisbilhotando pelo corredor.
-Tudo bem, July. Eu já acabei. É todo seu. - Levanto tomando o resto do suco e a menina passou correndo e atacando tudo.

Tomo um banho rápido e coloco minhas roupas intimas. Passou pelo espelho e não consegui não olhar.
-Gorda! - Haviam marcas velhas pela minha cintura. Apertei gorduras aqui e ali até sentir que iria chorar e joguei o coberto no espelho.

Sentei na cama abraçando minhas pernas e respirando rápido. Eu acredito que cada pessoa tem seu monstro pessoal. Ele anda todos os dias com você. Alguns são mais fortes que os outros, e algumas pessoas não tem forças para lutar contra eles. Então ele fica falando coisas ao seu lado. Coisas horríveis. Eles pegam todos as suas imperfeições e defeitos, e jogam na sua cara.

E aqui estou eu sentada na minha cama ao lado do meu monstro pessoal que eu gosto de chamar de Fet.
-Olha o tanto que você comeu hoje. Você acha mesmo que o Kian vai querer continuar com você quando te vir assim tão gorda. Mas eu tenho a solução, dois dedinhos na garganta e todos os seus problemas vão acabar.
-Cala a boca.
-Você também pode fazer uns cortes aqui. Você ta merecendo. Você acha que alguém como você pode comer tanto assim? Você vai acabar sozinha, porque ninguém quer ficar perto de uma baleia gorda e problemática.
-Cala a boca! - As lágrimas corriam como cachoeiras pelo meu rosto. Minhas mãos tremiam sobre minhas pernas e eu tinha os olhos fechados.
-Olha essa problemáticazinha, não consegue ouvir umas verdades que já fica assim. - Senti sussurrar no meu ouvido. - Você deveria se matar. Ninguém iria se importar!
-CALA A BOCA! - Pulo da cama e corro até o banheiro. Fecho a porta fazendo um barulhão e tranco. Procuro desesperadamente minha antiga lâmina e a acho escondida dentro de uma caixinha no fundo do armário do banheiro.

Caio no chão encostada na porta encarando aquela velha amiga. 'Quanto tempo' Penso.
-Nath, ta tudo bem? - Escuto a voz da Sophia e umas batidinhas na porta.
-Sim. Eu só cai! - Respiro fundo tentando esconder a voz de choro.
-Tudo bem. Qualquer coisa me chama, ok? - Escutei ela saindo do quarto e voltei a chorar.
-Por que você não faz logo? Você sabe que quer, você sabe que merece. - Fet estava sentado no vaso com as grandes pernas finas cruzadas. Os olhos dele me fitavam e refletiam o reflexo de uma menina gordíssima chorando. A menina era eu.

I Wouldn't Mind.Onde histórias criam vida. Descubra agora