Teria que se acostumar com a solidão, o que só iria piorar enquanto as aulas não começassem. Era segunda-feira, e ainda teria duas semanas de férias. O domingo passara num instante, e agora, tinha quase tudo no lugar. Pensou que poderia conversar com Augusto, e ver o que poderia adiantar da escola, mais para passar o tempo. Mas o vizinho havia viajado na tarde de domingo para a casa da avó, na capital.
O pai e os irmãos de Raquel estavam na oficina, e como ela tratou de limpar tudo e lavar a louça, tinha a tarde toda livre... Para nada. Ela havia dito ao pai que poderia muito bem lavar e passar toda a roupa, mas ele insistiu em mandar para a tal passadeira que o compadre dele recomendou. Ela não pestanejou, mas seria algo para fazer.
Varreu a frente da casa, com certeza o pai a mataria se a visse fazendo isso, estava ensopada e com a pele vermelha quando entrou para dentro, tomou um banho, e deitou no sofá. Encarou o relógio, e não eram nem três horas. Suspirou e levantou, trancou toda a casa, o portão, e saiu. Andou pelos cinco quarteirões até a oficina olhando ao redor, as casas eram quase todas parecidas. Tudo calmo, algumas pessoas ouviam rádio, na região só sintonizava uma estação.
Era tudo tão diferente do que ela estava acostumada, não ruim de todo. Nada de buzinas, roncos de motores, música alta ou sirenes.
Chegando à oficina quase quis fingir que entrou no lugar errado. Lá estava Daniel, conversando com seu pai. O coração de Raquel deu um pulo, e ela quis sair correndo quando o pai a chamou.
- Filha, vem aqui! Eu sabia que não iria aguentar ficar em casa sozinha - ele sorriu-lhe, e Daniel a encarou com um sorriso divertido.
- Oi Raquel - ele cumprimentou.
O pai de Raquel e seus irmãos olharam de um para o outro, num silêncio desconcertado que Daniel não pareceu perceber. César jogou um martelo na caixa de ferramentas, causando um ruído alto.
- Só passei para dizer oi - ela falou para o pai, que estreitou os olhos, mas parecia segurar o riso.
O compadre de seu pai chegou antes de qualquer um deles abrir a boca.
- Boa tarde garotada! - O simpático senhor rugiu atrás de Raquel.
Fabrício tossiu, daquele jeito que Raquel sabia que fazia quando queria esconder uma risada.
- Boa tarde - ela disse para o senhor, que já ia em direção à Daniel.
- Você por aqui, garoto - ele bagunçou o cabelo do rapaz, que riu.
Era a sua deixa, ela virou e saiu sem dizer nada, depois inventaria algo para o seu pai.
Ela não queria ter que lidar com Daniel agora, ainda mais com o coração acelerado desse jeito. Não deveria estar assim... Essa cidade tinha que ser tão estupidamente pequena? E o que ele estava pensando, indo na oficina do pai dela? Mal havia chegado à esquina ouviu um barulho de freio de bicicleta ao seu lado, virou e ali estava Daniel, sorrindo lindamente para ela.
- Tem bicicleta? - Ele perguntou.
- Claro que não - ela respondeu, e virou para frente, continuando sua caminhada em passos duros.
- Sorte sua - ele continuou, no mesmo tom amistoso - que eu tenho garupa. Vamos, suba.
Raquel parou em súbito e o encarou, em sua bicicleta azul bem equipada e com uma garupa. Ele usava uma camisa regata que realçava o contorno de seus músculos, que ela percebeu, eram maiores do que havia reparado nas outras vezes que o viu. Raquel balançou a cabeça.
- O que? - Ela questionou, certa de que não o entendera direito.
- Vou te mostrar tudo aqui. Já até falei com o seu pai.
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Não se despeça
RomanceTudo o que Raquel desejava era se adaptar à sua nova vida na pequena cidade do interior após deixar São Paulo. Mas seus planos falham quando ela conhece Cristian, um jovem com um passado misterioso e uma rivalidade feroz com Daniel, um rapaz doce e...