Capítulo 3

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A festa junina da escola. O último lugar onde Cristian gostaria de estar naquela noite, mas onde se viu obrigado a comparecer, já que jamais negaria a Eleonora um passeio pelo qual ela ansiava. 

- Vai se divertir, vou encontrar uma amiga.

- Com uma amiga quer dizer Marlene - ele esclareceu, revirando os olhos enquanto ela lhe dava as costas, escapulindo para a barraca dos bolos onde com certeza a madrinha dele estaria.

Cristian olhou ao redor. Divertir-se? Como se isso fosse possível, com o tanto de coisas da fazenda que tinha para resolver no dia seguinte. Caminhou até a lateral do ginásio, encarando os alunos se aglomerando. E pensar que há pouco tempo atrás ele estava ente esses garotos, exceto pelo fato de que dançou poucas vezes, e desde os dezesseis anos, se recuso a participar novamente. 

- Vai dançar hoje? - Uma voz conhecida perguntou atrás dele.

Bufou.

- É minha cara, não acha, Soraya? - Ele disse, ríspido. 

A ruiva saltitou ao lado dele, encarando-o com seus lindos olhos verdes. Estava de branco, o que provavelmente significava que encenaria a noiva, como nos últimos anos.

- Não precisa responder assim- ela respondeu, fazendo um bico.

- E não precisa querer chamar a atenção toda vez.

- O que quer dizer?

- Noiva de novo. Sério? - Ele disse, apontando o vestido dela.

Soraya balançou a saia e deu de ombros.

- É meu último ano, além disso, sempre me chamam e...

- Tá, que seja, boa dança - ele cortou, virando-se para longe.

Toda a vez a mesma coisa. Sua ex-namorada tentava conversar como se fossem amigos. Ele escapava, sem um pingo de paciência de fingir que era amigo dela. E querendo beijá-la a todo instante que fazia isso. Era ridículo. E o pior é que, até pouco tempo atrás, em algumas vezes que discutiam, acabaram fazendo isso. Até que ele pôs um fim naquela situação, e escapava antes que isso acontecesse. 

Ela não insistiu, e Cristian acabou se recostando no primeiro degrau da arquibancada, observando alguns conhecidos passando enquanto os jovens se organizavam para início. Os mesmos rostos, a mesma dança, nada de novo a não ser...

Estreitou os olhos. 

A garota que quase atropelou no dia anterior, em carne e osso, estava se sentando na arquibancada oposta junto com Augusto. Balançou a cabeça, lembrando da insolência dela, que mesmo tão pequena, parecia ter crescido uns dois metros para enfrentá-lo.

Naquele mesmo dia, a tarde, já quase havia se esquecido do incidente, quando encontrou Augusto e esse lhe disse que tinha novos vizinhos, entre os quais, uma garota que estudaria com ele. Era um lugar pequeno, não foi difícil ligar os pontos. 

Continuou encarando-os, até que percebeu algo. Gus estava caracterizado, mas não fazia menção de se organizar. Por quê? Assim como Cristian, aquele pivete costumava ser um solitário no colégio, sempre cuidando dos irmãos caçulas, até que Cristian tomou para si a missão de protegê-lo. Era um cara legal, do coração bom demais para seu próprio bem, e com certeza estava precisando de socorro mais uma vez. Caminhou até eles, tentando evitar pensar no que a garota diria. Talvez tivesse um ataque histérico, o xingasse. Ele ignoraria e ajudaria o amigo, pouco se importava com ela. 

- Vamos encontrar - ela dizia -, quer dizer, eu não conheço ninguém mas posso ajudar.

Ele virou para ela, murmurando.

- Está tudo bem, eu nem gosto dessas festas mesmo.

- Augusto, você não vai? - Cristian perguntou, interrompendo-o. 

Parou na frente do amigo, ignorando a garota metida completamente.

- Meu par não veio... - Ele começou a explicar.

Cristian revirou os olhos. Com certeza ele não teve coragem de perguntar, mas devia haver mais gente nessa situação. Sabia para quem perguntar.

- Vem! - Chamou, e deu alguns passos adiante, ouvindo a garota dizer algo.

- Vai logo, vou ficar bem aqui.

Desceram pela arquibancada, em direção aos outros. Ele não podia deixar de pesar que, apesar de bravinha, ela parecia pelo menos ser boa gente, já que se dispôs a ajudar Augusto mesmo não conhecendo ninguém.  

- Tem certeza que vamos conseguir? Eu não quero incomodar... - Augusto repetia, mas Cristian não prestava muita atenção.

- Ei - Cristian chamou, ao que Soraya virou-se para ele, uma sobrancelha erguida.

- Veio reclamar de mim mais uma vez? - Perguntou.

- Gus precisa de um par - ele esclareceu, ao que ela virou-se para o outro, notando-o pela primeira vez. 

Augusto parecia verde. Era sempre assim quando precisava interagir com Lola ou algumas das duas amigas da menina por quem ele tinha uma quedinha.  

- Tem a Aninha... O par dela faltou - ela disse, puxando Gus com ela. 

E assim, assunto resolvido. Cristian se virou para sair, mas notou alguém o encarando, após alguns casais. Jogou à Daniel seu típico olhar de desdém. Qual era a dele? Nem era mais aluno, mas o otário insistia em dançar e fazer papel de bom moço da comunidade. O outro abaixou a cabeça, desviando o olhar, como sempre. 

Cristian balançou a cabeça, e caminhou de volta para onde estava, acompanhando a encenação se desenrolar. Voltou a observar a garota nova mais uma vez. Ela cuidava do casaco de Gus, olhando a encenação assim com os outros. Seus cabelos curtos pendiam em cachos a redor do rosto, os olhos verdes atentos à tudo. Para alguém vindo de São Paulo, com certeza aquilo seria um tédio, pensou. Mas ela colocou o queixo sobre a palma da mão e até riu em alguns momentos. 

Desviou o olhar rapidamente, quando notou que não só estava encarando há tempo demais, como estava gostando do que estava vendo.


Não se despeçaWhere stories live. Discover now