Capítulo 8

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No outro dia, nem sinal de Daniel. Raquel remexia o jantar com o garfo, sem fome alguma. Passara o dia todo em casa, com o pretexto, até mesmo para si mesma, de que tinha muitos afazeres. No final, só podia se culpar por ter sido tão burra de perder o dia todo esperando Daniel aparecer. Ela nunca havia sido desse tipo de garota. Já tivera seus casos, claro, e alguns rapazes até mesmo lhe tiraram o sono, mas não ficava dessa forma. Se sentia... Culpada. Ele disse que poderia a fazer mudar de ideia, e ela ficou com medo. E se ele realmente a fizesse voltar atrás?

Ele sabia que ela queria ir embora, mas será que tentaria fazê-la mudar de ideia? Raquel deu de ombros, mas agora, estava com medo de ter dado a ele esperanças, ou de não dar... Pensando bem, não podia dar esperanças. Assim, planejara deixar claro que não importava o que ele dissesse, ela iria embora, e diria a ele que se queria algo sério, era melhor pararem por onde estavam. Ela não queria magoá-lo, mas era óbvio que daria nisso, pois no fim, ela iria embora, e ele ficaria só. Se ele queria entrar nessa, era melhor ficar ciente disto. Mas e ela, queria entrar nessa?

- Está dormindo, menina? - Seu pai chamou.

No dia anterior, dera sorte de ele ainda estar na oficina com os irmãos quando chegou, mas mais um pouquinho, e ele teria visto toda a cena em frente à casa.

- Só estou cansada - ela respondeu.

- Tem que descansar, daqui uns dias as suas aulas voltam. Falando nisso, já viu com Augusto sobre as disciplinas?

- Ele ainda não voltou, a mãe dele disse que só amanhã à tarde.

- Hum, entendi... - ele resmungou, abaixando os olhos.

Raquel voltou a atenção ao prato de comida, e jantou sem fome alguma.

- Filha, você está bem? - Ele perguntou, após alguns minutos.

- Sim pai, por quê?

Ele se recostou na cadeira e encarou a filha.

- Com toda essa mudança, eu quero dizer. Sei que você não era exatamente a favor de vir para cá, mas o fez mesmo assim, sem nem pestanejar, o que, desculpe, não é bem do seu feitio.

Sabia que era assim, então se limitou a dar de ombros.

- Está tudo bem pai, não se preocupe - como ela poderia dizer o contrário?

Estava óbvio que os três amavam o lugar, então só o que ela poderia fazer era esperar para ir embora sozinha.

- Raquel, quero o melhor para você, quero que você estude e faça o que amar, e não importa o que decidir, vou te apoiar.

Ela se sentiu grata pelo comentário, e soube que não o magoaria quando partisse.

Pela manhã, ela decidiu que não esperaria Daniel. Era quinta, e as aulas iriam voltar dali há quatro dias, portanto, tinha que se organizar. Saiu bem cedinho, e tomou a rua da escola, observando a construção ao passar. Tinha o muro azul e ainda haviam bandeirinhas da festa penduradas no portão da frente. Foi ao mercado, e voltou para casa por outro caminho, cruzando a praça da cidade. O lugar era bem conservado, e cheio de árvores. No centro, haviam banheiros e um parquinho numa das bordas, onde algumas crianças brincavam.

Ao chegar perto de casa, viu Augusto descendo vindo na direção oposta. Ele sorriu para ela. Trazia a sua mala na mão, e depositou-a no portão da casa para ir falar com ela.

- Olá vizinho, como foi de viajem?

O garoto corou, e Raquel se perguntou por quê ele sempre fazia isso.

- Cansativa, mas valeu a pena. Quer os conteúdos da turma? Posso te emprestar meus cadernos, ou vem a minha casa a tarde...

- Pode ser. Vou até aí.

Não se despeçaWhere stories live. Discover now