Talvez ela fosse se arrepender disso mais tarde, mas tinha que tentar. Bateu na porta da casa de Daniel, e ouviu alguns passos. Minutos depois, o pai dele abriu a porta. Ele estava horrível, e Raquel já se arrependeu ao vê-lo.
- O que quer aqui? O Daniel não mora mais aqui – ele estava com um bafo de álcool, e esfregando o olho com o punho.
Pensou em dizer que foi ver como ele estava, mas os dois nunca foram íntimos, e ela tinha certeza que ele jamais acreditaria. Além do mais, odiava o que ele havia feito à esposa e filhos.
- Vim perguntar se sabe dele – ela declarou, sem se importar em saudá-lo, afinal, ele mesmo não o fez.
Ele começou a rir, e tossir ao mesmo tempo, e quando pode falar, se recostou no beiral da porta.
- É mais fácil você saber dele – ele respondeu.
- Não tem um número de telefone no qual eu possa... - ele nem deu tempo dela terminar.
- Escuta aqui, acha que se ele quisesse falar com você, ou com qualquer um por aqui, já não teria ligado? Já cogitou que ele não entrou em contato por que ele não quer falar com você?
Ela encarou ele. Estava óbvio que estava são o suficiente para raciocinar, mas será que se lembraria se ela lhe desse um soco?
Desistiu da hipótese, pelo menos, ela havia tentado conversar.
- Obrigada – ela respondeu, por nada, queria acrescentar, mas virou as costas.
- Desista garota, ele não vai voltar, nenhum deles!
Ele gritou, e uma senhora que passava na rua encarou os dois.
Ela ignorou e continuou o trajeto até sua casa, pensando que não precisava um bêbado ter dito isso na sua cara para ela finalmente acreditar. Daniel não daria notícias, como prometeu.
Aquilo a incomodava, não podia mentir para si mesma. Mas se não iria embora mesmo, pouco importava se ele quisesse dar notícias ou não.
Era final de tarde, provavelmente a família estava reunida em casa naquela hora. Entrou pelo portão, não prestando tanta atenção no caminho como deveria, por isso quase trompou em alguém nas escadas da varanda.
- O Fabrício está? – Raquel encarou a loira na sua frente, que tinha um batom vermelho e muitas espinhas no rosto.
Será que Fabrício perdera o juízo?
Passaram-se trinta e nove dias desde a última vez que chorara, e ela pensou que seria hoje, se o irmão dissesse que essa garota era sua nova namorada. Lembrou-se dela na escola, já vira ela beijando pelo menos uns cinco garotos diferentes, ela estava na oitava série, pois já havia reprovado algumas vezes, não podia ter mais de dezoito anos. Mas pelo visto, queria aparentar ter uns vinte e três, no mínimo.
- Vou chamar ele – e dar uns tapas naquela cabeça oca, acrescentou mentalmente.
Fabrício estava no fundo da casa, sentado no chão da varanda e remexendo numa caixa velha de papelão com César, provavelmente procuravam alguma peça ou algo do tipo.
- Desde quando namora garotas do ensino fundamental? - Ela perguntou, sentando no chão ao lado deles.
Os dois pararam e a encararam, surpresos.
- Essa foi para mim? – Fabrício perguntou, e César deu um tapa na cabeça dele.
- Lógico, para mim que não foi, pode ter certeza - ele disse, ao que Raquel riu.
Fabrício franziu o cenho, olhando para a irmã caçula.
- Ai! Esclareça, por favor? - Perguntou.
- Pergunta para a loira de batom vermelho te esperando na varanda da frente - ela lhe fuzilou com o olhar.
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Não se despeça
RomanceTudo o que Raquel desejava era se adaptar à sua nova vida na pequena cidade do interior após deixar São Paulo. Mas seus planos falham quando ela conhece Cristian, um jovem com um passado misterioso e uma rivalidade feroz com Daniel, um rapaz doce e...