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- Que coisas?

- Aqui está! Abra essa caixa aqui meu neto

- Tá bom...

Quando eu abri a caixa, me deparei com vários itens dentro, primeiro que eu vi era um álbum, quando peguei, lá tinha foto da minha mãe desde quando era uma criança, até a sua fase jovem adulta, só com isso, meu coração já parou, poder ver o rosto da minha mãe de novo, e não só lembrar dela daquela forma desfigurada, era uma sensação maravilhosa. Depois disso, tinha um relógio que meu avô sempre usava para tudo, tal relógio que eu sempre admirei desde que ele me adotou, gostava de como fazia o estilo dele realçar e deixava-o mais imponente. Tinha também um outro álbum, só que neste álbum tinha diversas fotos minhas com ele, quando eu nadei pela primeira vez, quando fui a praia, quando conheci uma piscina, o sorvete, a pizza, os doces, o verdadeiro gosto de uma comida caseira, são tantos momentos, e tantas coisas que fomos descobrindo juntos, que eu poderia ficar citando por horas e horas, e não me cansaria, pois todas as oportunidades que eu tive, eu guardo com muito carinho, mas continuando, o último item que tinha na caixa, era uma pasta de cor preta, quando eu abri, tinha diversos documentos como dados bancários, dados hospitalares, a escritura da casa, e diversos comprovantes de pagamentos

- O que é isso tudo da pasta meu avô?

- É tudo o que eu tenho para te oferecer meu neto...

- Como assim meu avô?

- Eu sinto que irei partir brevemente, eu até pensei em fazer o tratamento, mas acho que não iria valer a pena, então decidi pegar todas as minhas economias, e deixar um dinheirinho para você, e todas as contas pagas por 5 anos...

- Mas meu avô! Não precisava disso, você vai ficar bem, eu sei que você vai ficar bem, vamos usar o dinheiro para o seu tratamento (chorando)

- Não meu neto, o meu tempo neste mundo já está acabando, tudo o que eu tinha para oferecer eu dei, cuidei da sua mãe até onde pude, cuidei de você também, vivi, curti e senti todas as coisas que o mundo pode me oferecer, mas agora está na hora de ir... A única coisa que eu sei, foi que criei um grande homem. Meu maior orgulho é você meu neto.

- Vovô... (Chorando muito)

Depois disso, eu o abracei, não queria perder o momento, a sensação e nem sequer o cheiro, eu queria gravar tudo aquilo porque não sabia quando seria a hora em que o mundo levaria meu avô, só que eu não esperava, que seria tão breve. A noite foi chegando, e jantamos para dormir, passamos o dia todo conversando e brincando, sempre com a felicidade exalando para todos os lados, e bem, você deve ter reparado que as vezes chamo meu vô de vovô ou avô, e eu fazia isso por mania que acabei desenvolvendo, como ainda nunca tinha ido para a escola e também nunca tive uma figura paterna, eu gostava de falar do meu vovô para todos, só que ficavam me zoando por falar de modo tão infantil mesmo estando naquela idade, então quando estava na escola falava avô e quando estava em casa falava vovô, mas teve uma hora em que essa ideia acabou tomando um outro rumo, e quando eu falava vovô, era uma maneira normal e carinhosa, mas quando falava avô, é porque a situação era séria ou importante, desculpa ter saído do assunto, é que eu lembrei desta situação, porque meu avô um dia me fez essa pergunta, na verdade, é porque eu não queria me lembrar daquela cena de novo.... Mas bem, já se passou muito tempo, já superei agora.... Fomos dormir à noite, sempre dormimos em quartos separados, mas decidi que queria dormir junto dele hoje, que nem como fazíamos quando eu era criança, ele já estava deitado na cama se preparando para dormir, quando eu cheguei no quarto e perguntei

- Oi meu vovô, boa noite

- Boa noite meu neto, você quer alguma coisa?

-Bem.... Eu queria saber se poderia dormir aqui com o senhor esta noite

- Eu não acho que seja uma boa ideia meu neto, você vai precisar ir amanhã para a escola, e eu não acho que seria uma boa, você dormir aqui hoje.

- Poxa meu avô, por que? A gente sempre dormia juntos

- É, eu sei, eu não me importaria, só quero o seu bem mesmo para amanhã...

- Se você quer meu bem, deixa eu dormir aqui então

- .... Tudo bem então meu neto

Foi então que deitei ao lado do meu avô, ficamos um tempo encarando um ao outro, até que meu avô se vira para ir dormir, eu fiquei pensando por um momento, "por que eu não falo que amo meu avô?" Mas acho que é coisa de nós homens mesmo, não sabemos nos abrir ou ser receptivos emocionalmente um com os outros, então acabamos no fechando, e evitando qualquer tipo de relação afetuosa por palavras, mas naquela noite, eu decidi me mudar um pouco

- Vovô, você ainda está acordado? (Baixinho)

- ....

- Eu só queria te dizer algo

- ....

- Eu te amo meu vovô, obrigado por tudo

- ....

Mesmo que meu avô não tivesse escutado, eu não liguei, pelo menos tirei esse peso do coração, e o coloquei em palavras, mas quando eu estou quase dormindo, escuto por baixo um leve barulho de choro, eu não sei se era da minha cabeça, ou se tinha alguma goteira ou coisa do tipo, depois disso, não me recordo de mais nada. No outro dia, quando acordei de manhã, vi que meu avô ainda estava deitado, o que para mim é raro, pois ele sempre saia antes de mim, eu fui ver como ele estava

- Oi vovô, bom dia

E nada

- Vô

Nada

- Vô?

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