- Bem, relaxe, ainda vamos ter bastante tempo para conversar sobre isso, queria primeiro conversar sobre algumas coisas primeiro...
- Acho que não tem problema...
- Bem meu jovem, você poderia dizer como era a sua mãe?
- Ela era muito bonita, tinha um cabelo preto e bem volumoso, sua cor retinta era o que fazia destacar mais ainda seu cabelo, seus olhos amendoados faziam seu rosto brilhar mais ainda, e sua boca avermelhada era o que se destacava mais...
- Hum.... Entendi.... Você poderia me falar agora de como era na sua casa?
- Acho que sim. Bem, era normal, como qualquer outra família eu acho, só que o homem as vezes acabava batendo na mamãe, no começo, ele até ajudava, mas depois começou a beber e encher a cara, e então começou a bater mais e mais vezes na minha mamãe, e ela para tentar não pensar nisso, usava alguns remédios com nomes engraçados, de começo até ajudava, porque ela ainda podia conversar comigo, mas depois ela começou a usar algumas seringas e latinhas com um tipo de pedra fedorenta dentro, e então nunca mais conversava comigo, na verdade, ainda podíamos conversar, quando ela estava no jardim dela
- "Jardim"?
- Sim sim, o jardim dela, bem, era assim que eu o chamava, era uma pequena área de terra onde ela ficava, não tinha mais nada ao redor a não ser o restante da terra morta, mas ela adorava ficar viajando por ali em sua cabeça, eu acho que ela conseguia ver flores e árvores bem bonitas, ela gostava de quando eu levava algumas frutas para ela, ela amou quando eu dei para ela um pano de piquenique, eu podia sentir no olhar dela
- E como você conseguia arrumar essas coisas?
- Eu pedia as vezes para os vizinhos, mas muitos batiam a porta na minha cara ou fingiam que não estavam em casa, então parei de pedir de porta em porta e fui atrás eu mesmo de comida, então comecei a revistar os lixos das casas, aqueles lixos que ficam num grande baldão laranja, lá era onde eu podia encontrar as coisas e ninguém me rejeitaria, pegava frutas, panos, restos de comida, tudo o que eu achava preciso, teve uma vez que até achei uma caixinha de costura, foi com isso que consegui fazer o pano para a minha mãe, no começo doeu muito, mas no fim, valeu a pena, já que a minha mãe gostou, olha aqui senhor as minhas mãos, está vendo? Foram as vezes que eu errei, mas pelo menos errei o suficiente para ter um sorriso.
- Está tudo bem agora meu jovem, não precisa mais se preocupar com nada disso, eu vou cuidar de você agora, você realmente sofreu muito não foi? Fique aqui no meu abraço (O homem chora muito e soluça enquanto fala)
O homem me agarrou e abraçou, começou a chorar e soluçar, estava completamente emocionado com toda aquela situação, eu não entendia de o porquê do homem estar tão triste assim, eu não queria deixar ele naquele estado, então aceitei o abraço e retribui, esta foi a primeira vez e última vez que vi meu avô chorando, ainda mais daquele jeito.
- E você acha que valeu a pena esperar pela mão dele filho?
- Mesmo que eu pudesse estar em melhores condições, eu ainda esperaria a mão dele, nunca que trocaria a experiência que tive de conhecer ele, é realmente o marco principal que define quem eu sou
- Entendo meu filho, você pode me contar um pouco mais sobre essa relação com seu avô?
Depois daquele dia, meu avô me levou para a sua casa e começou a me criar, de começo eu não entendia muito bem, tinha bastante comida, era quente, eu tinha meu próprio quarto e não um cantinho qualquer, e o principal, eu sentia o mesmo carinho que a minha me dava, por isso eu amava muito meu avô, pois ele supriu tudo aquilo que eu precisava enquanto estava vivo, mas como já disse antes, nem tudo são flores, e aconteceu o que eu mais temia, a ida dele. Quando eu estava no meu última ano do ensino médio, foi quando meu mundo desabou, recebi a notícia de que meu avô estava com câncer no fígado e não conseguiria viver por mais tempo, mas a notícia só fui receber após muito tempo, quando eu estava andando de bicicleta com ele como a gente sempre costumava a fazer, e ele caiu da bicicleta e começou a se queixar de uma dor intensa, eu não conseguiria levar ele no hospital então pedi ajuda para quem estivesse por lá, por sorte alguns conhecidos do meu avô o colocaram dentro de um carro e o levaram para o hospital, após algumas horas os médicos vieram falar comigo e me disseram que ele caiu por conta da dor causada pelo câncer no fígado e me indagaram de como estava indo o tratamento que foi passado para ele, naquela hora eu não soube o que dizer, eu nem sabia da situação na qual ele estava, nunca demonstrou sinais a não ser este de agora, então não tinha como supor que era um câncer no fígado, respondi os médicos de uma maneira genérica só para passar batido, e fui até o quarto do meu avô falar com ele
- Oi vovô, como está?
- Estou bem meu neto, pode ficar tranquilo que daqui a pouco já estou saindo daqui (sua voz estava fraca)
- Ah é...? Entendi...
- O que foi?
- É que os médicos me informaram da sua condição agora a pouco, e a realidade não condiz com o que o senhor me fala
- O que foi que eles te disseram (num tom sério)
- Que o senhor está com câncer no fígado, e que aparentemente já faz um bom tempo que o senhor sabia disso, pois eles me perguntaram como estava indo o tratamento
- Ah, então você descobriu...
- Sim, eu só não entendi por que esconder isso de mim
- Eu não queria te preocupar meu neto, você já passou por tantas coisas ruins, e já está prestes a fazer aquelas provas complicadas para entrar numa faculdade! Então não queria atrapalhar seu momento...
- Meu avó! O senhor não pode esconder isso de mim, o senhor acha certo isso? Se eu soubesse antes que o senhor teria que fazer um tratamento, eu dava um jeito de tentar arrumar o dinheiro para você!
- Não! Justamenteisso que eu não queria que você fizesse! Vai estragar seu futuro fazendo o que?Trabalhando nessa idade? Indo pro tráfico
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Ônibus 864
Storie breviUma chuva intensa está devastando o Calçadão de Campo Grande, é necessário correr para alcançar o último ônibus disponível da noite caso Daniel queira voltar para casa, a viagem é longa, tanto mentalmente quanto fisicamente...