Capítulo 3: O julgamento

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- Falta muito até o nosso destino, não tenho problema em esperar até você quiser falar comigo

- Vou pensar no caso...

Seu Lucio se afasta de Daniel e vai para a outra ponta do ônibus descansar, ele senta na poltrona, se ajeita, coloca seu gorro de lado, e dorme. Daniel estava sozinho agora, já estava a horas com o senhorzinho conversando e ainda estava em santíssimo, a sensação que ele tinha é que o ônibus andava lentamente e nunca chegava ao seu destino, ele via a chuva intensa caindo, só conseguia ficar admirando os pingos de chuva que caiam pela janela. "A única coisa que tem para fazer agora é dormir" ele pensa, enquanto pensava na ideia do seu Lucio se ele gostaria ou não de falar sobre o que havia acontecido com ele, começa a sentir uma leve onda de sono, e de pouco a pouco sua cabeça foi indo em direção a janela do ônibus procurando um local para se escorar. Quando já estava quase dormindo, e seus olhos quase vendo o vazio de suas pálpebras, ele sente uma mão tocando seu ombro e algo sentando do lado dele

- Olá meu jovem rapaz

- Oi, posso saber quem é o senhor?

- Perdão por não ter me apresentado, me chamo Antônio

- Bem, adorei a sua chegada repentina, mas como é que você entrou no ônibus?

- Ah sim... eu estava aqui faz tempo, só estava quieto esperando a oportunidade...

- Oportunidade?

- Sim! De poder conversar contigo, ao longo do caminho, estive os observando, foi admirável a forma no qual você ajudou o senhor.

- Fico agradecido pelo elogio, mas não gosto muito de que fiquem se metendo em questões que não foram chamados...

- Eu o compreendo totalmente, mas é um pouco difícil não escutar alguma coisa quando só tem vocês dois neste grande ônibus

- Já que você estava nos observando e só queria conversar, por que não se juntou a nós enquanto estávamos conversando?

- Não não... não sou o tipo de pessoa que consegue ser visto e chamado tão facilmente, normalmente eu espero até poder ter oportunidade de me apresentar

- Entendi...

"Mas que cara maluco", Daniel pensa

- Oh meu jovem, não pense assim de mim...

- Oi?

- Posso ver em seus olhos que está achando que sou algum tipo de louco ou algo do tipo, mas só quero realmente conversar... só isso.

- Tá bom... e o que você deseja conversar?

- Eu queria saber por que você se mutilou?

- Como você sabe que é isso?

- Porque tudo que é mal é ocultado, mas felizmente eu posso ver...

- Realmente é um pouco difícil não achar que você é um louco ou algo do tipo...

- Não se preocupe com estes detalhes jovem, quero que você me conte agora o porquê deste ato consigo mesmo

- E por que eu deveria contar algo para o senhor?

- Pois como eu já disse, eu sei do que muitos escondem, e sei também do porquê você se mutilou, mas queria saber se você manteria a sua palavra até o final...

- Como você poderia saber algo de que somente minha esposa sabe?

- Por que no dia em que você foi levado ao hospital, eu estava lá, vendo a sua maca passar pelo meio dos corredores, sempre observei tudo, desde o começo do ato, até o momento da sua recuperação do hospital

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