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- Tá bom...

Então subimos as escadas, eu abri a porta do meu quarto para ela, e Lívia pode se deparar com toda a ornamentação e mimos que eu tinha preparado para ela, quando eu olho para ela, vejo a sua maquiagem caindo de pouco em pouco, toda a sua beleza estonteante e seu sorriso maravilhoso são disfarçados por uma grande camada de choro e tristeza, ela começa a chorar na minha frente, e para ser sincero, eu não sabia muito o que fazer, era a primeira vez que alguém chora assim na minha frente, a única memoria que consigo me recordar era de quando a minha mãe ainda estava lúcida e chorava no canto do quarto porque não aguentava mais a vida sofrida que levava. Tentando tomar alguma atitude eu tento conversar com ela

- Era para isso que eu tinha te chamado...

- Depois de tanto tempo...

- Como?

- Você é um bobão, muito bobo, me fez esperar esse tempo todo e agora quando eu vou ir que você me chama para ser sua

- É que eu não sabia que você iria embora... E eu também não entendia muito bem meus sentimentos, então demorou um tempo. Desculpa...

- Eu aceito

- O que?

- Ser a sua namorada.

Neste momento, meu coração que estava triste e um pouco gelado se incêndiou, era a primeira vez que eu estava assim, sentindo essa coisa estranha, era um sentimento extremamente bom que percorria por todo meu corpo, meus pelos ficaram arrepiados, meus olhos se arregalaram, parecia que eu estava num paraíso, sentia meu corpo ficando mais leve e menos ansioso e angustiado, era a primeira vez que eu estava sentindo aquilo, era uma emoção? Um sentimento? Ou a mistura de tudo isso junto? Eu não sei, mas assim como já me falaram antigamente "Por que você só não aproveita o momento?" E foi isso que eu fiz. Eu a agarrei e dei um abraço bem apertado, eu queria era sentir ela naquele momento, nada mais era importante, o que era crucial agora era somente nos dois. Ficamos cara a cara, olhando um para o outro, não falávamos nada, sentíamos mais do que as palavras expressam, nossos corpos juntos transmitiam mais ações do que nossos próprios pensamentos, mas o que agiu depois foram nossas bocas, que se encostaram uma na outra, formando aquilo que denominamos de beijo, mas eu acho que não poderia dizer que é algo tão simples assim, é como se todo o calor do mundo estivesse em nossos corpos, e refletissem um no outro, e este calor vai se expandindo mais e mais, aí ponto de que tudo a sua volta parece ser somente um clarão, você não enxerga ao seu redor, e evitando essa claridade você fecha seus olhos, e é aí que a sua imaginação pode trabalhar. Muitos filmes dizem que parece que você está nas nuvens ou carrossel, mas eu diria que a sensação é de ser e existir, e não coisas normais como simples objetos, é como se você estivesse estudando o verbo "to be" e depois que você entende que é o verbo "ser" ou "estar", é que você começa a se aprofundar mais no sentido dessa palavra e vê que ela é mais do que uma simples palavra, ela é uma existência, é algo que há ali, de existir ou haver, de ser aquilo e estar naquele momento, é assim que eu penso em relação ao beijo. Depois disso descemos para ver um filme, não queríamos perder nenhum momento antes da ida dela, brincamos, conversamos, vimos o filme, e o mais importante, aproveitávamos o momento como se fosse o último, mesmo sabendo que eu a viria de novo alguma hora, não queria contar com o destino para nos reencontrarmos, até que acabou o momento, era hora de dizer adeus, eu levei Lívia até a porta, nos olhamos bem profundamente, parecia que cada um queria de alguma forma se prender ao outro, não o deixar ir, mas sabíamos que era uma situação inevitável, era hora de partir....

- Muito obrigado por ter vindo aqui hoje e aceitado meu pedido

- Obrigada por tudo Daniel, de verdade.... Eu não estava esperando que tudo seria tão perfeito assim antes de eu ir...

- Nem eu estava esperando....

- ....

- Acho que está na hora do tchau né?

- Infelizmente sim...

- Tchau Lívia, adorei passar estes últimos momentos com você, eu não sabia qual seria a sua reação em relação ao pedido, então fiquei super ansioso esperando a sua resposta, e quando você finalmente disse que sim, meu coração se encheu de alegria. E fiquei muito feliz de que você me escolheu para passar seus últimos momentos aqui no Rio de Janeiro...

- Tchau Daniel, eu que fico feliz com todo o carinho que você dedicou o dia de hoje a mim, realmente não estava esperando que um dos meus sonhos iria acontecer antes de eu ir...

- Tchau Lívia...

- Tchau Daniel...

Eu sei que poderia ter dado esse presente logo antes para ela, mas resolvi dar no final, achei que teria um valor sentimental bem maior do que se eu tivesse dado naquela hora do quarto, então, quando ela já estava andando à alguns passos na rua, eu a chamei de novo e entreguei seu presente de despedida

- LÍVIA

- O que foi?

- Eu sei que não sou muito bom com despedidas e fico enrolando, mas eu queria te dar isso...

- Eu não estava esperando receber isso (chorando)

- Se você esperasse não faria parte da surpresa (ri)

- Muito obrigada

E depois de falar aquilo, ela veio até mim e me deu um beijo, para ser sincero, eu me sentia a pessoa mais feliz no mundo naqueles instantes, mesmo sabendo que ela iria embora depois disso, naquele momento a minha cabeça não conseguia pensar em nada a não ser em aproveitar o momento de existência entre nossos corpos fluindo em chamas, nada mais parecia ser o mesmo, eu só conseguia sentir eu e ela ali naquele momento, a rua escura ajudava a esconder as casas ao redor, e isso ajudava mais ainda a minha mente a florescer em imaginações, pena que nem tudo dura para sempre, mas se eu pudesse guardar este momento e ter aquela sensação de novo, eu juro que pegaria logo na primeira tentativa caso pudesse reaver tais momentos. Logo após o nosso beijo, ela foi embora e eu voltei para casa, ainda estava preenchido com o calor do momento, não conseguia tirar aquela noite da cabeça, mesmo sendo algo rápido de algumas horas, parecia que o tempo nunca acabava, parecia que o relógio retardou seu movimento só para podermos aproveitar mais o momento, fazia tempo em que eu não tinha essa sensação, já tive com a minha mãe e meu avô, mas fazia tanto tempo já que eu não me lembrava mais, mas mesmo sendo uma sensação parecida, cada uma tinha a sua individualidade, tinha seu aspecto especial por ser com pessoas diferentes, mas como disse, mesmo sendo pessoas diferentes, o carinho e o amor são bases iguais.

- É uma linda história no meio de tantos acontecimentos fatídicos meu filho

- É, o senhor tem razão seu Lucio

- Mas agora me responda uma coisa filho, por que você fez isso consigo mesmo?

- O que?

- Seus braços....

- O que tem meus braços?

- Eu sei das coisas meu filho, não adianta fingir

- Mas como é que você soube disso?

- Suas memórias são tão doloridas, que as vezes você, meu filho, segura seus braços com muita força, e demonstra uma face de dor e sofrimento

- ....

- O que aconteceu meu filho?

- Eu não quero falar muito sobre

- Eu entendo que possa ser difícil, mas é importante para você filho, isso te trará libertação

- ....

Ônibus 864Onde histórias criam vida. Descubra agora