Capítulo 1

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Bianca Santos

Lagrimas.

Lagrimas ardem.

Essas lagrimas que descem pelo meu rosto ardem muito.

Eu não queria que elas ardessem tanto.

Eu não queria que elas estivessem no meu rosto.

Mas elas estão.

Meus olhos estão doendo o dia todo. Meu rosto está inchado. Meu corpo dói. Dói muito. Eu não devia estar chorando. Eu deveria estar triste.

Hoje foi o funeral do meu pai. Eu o vi no caixão. E não senti nada além de

Alívio

Meus dias de sofrimento finalmente acabaram. Eu estou livre do meu pai. Do meu próprio pai.

Minha mãe está sorrindo

Eu estou sorrindo.

Estou chorando de felicidade.

Estamos indo ao aeroporto. Recriar as nossas vidas. Vamos viver algo novo. Ter uma vida nova e feliz. O que Deus preparou para mim e para a minha mãe finalmente está acontecendo. Vamos para os Estados Unidos. Eu vou fazer faculdade. Eu vou poder dançar!

Ninguém vai poder me impedir, nem mesmo o meu pai. Ele se suicidou ontem. Eu o encontrei quando estava voltando da escola, ele estava com uma corda no pescoço, pendurado. Na hora eu não tive reação, não gritei, não chorei, não me mexi, não fiz nada além de olhar o corpo do meu pai pendurado. Depois do que pareceu uma hora, eu finalmente entendi o que estava acontecendo. Minha mãe não estava em casa, estava só eu e o meu pai.

Que estava morto.

Não sei como vai se a minha vida daqui para frente, mas tenho certeza de que vai ser muito melhor do que era com meu pai.

Tive que deixar tudo para trás, meus amigos, meus parentes, minha faculdade de engenharia - que eu não suportava -, minha tristeza, meus traumas, e dar lugar a felicidade, alegria, novos amigos, faculdade de dança, tudo o que eu sempre sonhei!

Aqui na Espanha, eu me sinto presa, e sinto que eu não vou conseguir superar os 19 anos de traumas aqui, muito menos a minha mãe, então ela entrou em contato com o meu tio, que mora nos Estados Unidos. Ele conseguiu um emprego para ela e já me matriculou em uma faculdade. Foi tudo tão rápido que parece que a fixa ainda não caiu.

Vamos morar na casa do meu tio Joshua até encontrar um lugar para morar. Vou dividir quarto com a minha prima de 6 anos, a Catalina. Faz anos que eu não a vejo, estou com muita saudade!

- Por que você não dorme um pouco, hija? - ouço minha mãe falar em espanhol. - Está sendo um dia difícil pra você, até para mim. Sei que não é fácil deixar para trás tudo o que construímos, mas tenho certeza de que vamos ser muito mais felizes nos Estados Unidos.

Olhei para ela ao ouvir suas palavras. Ela estava certa, não era fácil, mas eu ia superar. Esse acontecimento era difícil para nós duas, mas sinto que é pior para ela, porque, de certa forma, eles já se amaram, e eu não sei se minha mãe vai conseguir superar tão rápido. Ela parece muito abalada e nervosa por tudo que aconteceu.

- Não se preocupe com isso, mama - respondi em espanhol -, vamos ficar bem, eu sei disso. Pode não ser fácil, mas vai ser muito melhor do que a vida que a gente vivia com o papai, você sabe disso.

Ouvi minha mãe suspirar fortemente.

- Eu sei, hija, mas, de certa forma, eu me sinto culpada.

- E por que você se sentiria culpada? - perguntei olhando para minha mãe, a pessoa que cuidou de mim a vida toda e sempre me amou. - Você não fez nada de errado!

Ela suspira fortemente, vejo as lagrimas se formando em seus olhos . Eu sei o que ela passou, ela sofreu mais do que eu, mas o que doi em mim é o fato dela se sentir culpada por algo que não foi culpa dela. Minha mãe sempre apanhou no meu lugar, preferia levar uma surra a deixar meu pai me bater.

E eu nunca agredeci ela por isso...

- É algo que eu não consigo explicar, mi amor - ouço minha mãe responder. - Você também não entenderia...

Não falo mais nada. Prefiro não voltar as lembranças, reviver o passado. Não quero trazer mais dor para a minha mãe, nem para mim.

Deus, obrigada por tudo. Oro em pensamento. Sei que o Senhor tem uma vida muito melhor para mim e para a minha mãe nos Estados Unidos, e desde já te agradeço por tudo que vou viver lá.

Não tenho mais nada para fazer além de dormir. Estou muito cansada, tanto mentalmente quanto físicamente. Meus olhos estão pesados, estou quase dormindo. Porém, imagens invadem a minha cabeça.

Meu pai está em pé, na frente da minha mãe, que implora pela sua vida em seus pés.

Eu estou encostada na parede. Tenho apenas 5 anos de idade vendo minha própria mãe chorando com hematomas em todas as partes do corpo.

Eu também estou machucada. Sinto minha cabeça girar e minha visão embaçar. Mas sinto a coragem subir pelo meu corpo.

De alguma foma, consigo ficar de pé, caminhando em passos longos e meus pés arrastando no chão em direção ao homem que eu chamo de pai.

Quando chego até ele, sinto seu olhar pesar sobre mim. Minha mãe está implorando para eu ficar de fora, para eu ir para minha cama e esperá-la la.

Mas tudo que eu faço é morder a perna do meu pai.

Ele grita com raiva, balançando a perna de um lado para o outro. Ele finalmente me agarra e me joga no chão com muita força.

Minha visão fica preta, minha cabeça bate em uma parede e sinto algo quente escorrer pela minha nuca.

A última coisa que me lembro desse dia é ouvir minha mãe chorar alto, como um bebê. Tmabém lembro de sentir suas mãos quentes me pegando em seus braços e me puxando para seu colo enquanto ela me abraça com força.

E depois, nada...

Apenas

Escuridão

Essas lembraças me fazem abrir os olhos novamente. Sinto as lagrimas novamente, ameaçando escorrer pelo meu rosto. Minha mãe está ocupada demais olhando para a estrada para presta atenção em mim.

Fecho meu punho com força, com raiva de tudo que meu pai me fez passar.

Eu não entendo, pra que casar com alguém que você não ama? Como uma pessoa se casa com alguém que a odeia tanto ao ponto de quase matar com suas próprias mãos?

O amor é algo difícil de entender. O amor mais verdadeiro que eu conheço é o amor que Deus tem por nós, "¹⁶ Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16

Jesus morreu na cruz, e foi morto pela sua esposa, sua igreja. Jesus é o herói que se sacrificou para salvar o vilão. Ele nos amou até mesmo quando ele estava lá em cima da cruz enquanto ouvia as pessoas escolherem matar ele no lugar de um verdadeiro assassino.

Se isso não é amor, eu não sei o que é.

A visão do aeroporto me afasta dos meus pensamentos.

Estamos chegando.

- Estados Unidos, aí vamos nós - ouço minha mãe dizer do banco do motorista.

Sinto um sorriso crescer no meu rosto. Uma vida nova, é tudo que eu preciso nesse momento.

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Oi gnt! Esse primeiro capítulo foi curtinho mas eu espero que vocês gostem.

Votem muito pfvrrr!!

Os próximos capítulos vão ser mais longos, eu prometo!

Entre borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora