Capítulo 9 ~

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Bianca // segunda-feira, 16 de março

Chego em casa cansada, mas feliz. Passo pela porta gigante da casa do meu tio, sentindo o ar gelado da casa. Assim que entro, encontro todos na sala, sentados um no sofá com os olhos cheio de ansiedade para saber como foi o meu dia.

Meu tio se levanta com um sorriso animado no rosto. Assim que o vejo, abro meu melhor sorriso. Só de ver o meu tio, me sinto diferente. Da mesma forma que me sinto quando lembro onde estou e tudo que eu vivi é apenas passado agora.

Até hoje, de vez enquanto, não consigo acreditar que eu realmente aguentei a vida que eu vivia durante tantos anos. E saber que agora estou com uma família incrível, que me espera no sofá só para escutar como foi o meu dia enquanto a apenas alguns meses atrás não tinha ninguém que ao menos olhasse para mim...

É uma sensação tão estranha, mas tão boa ao mesmo tempo. Me sinto acolhida, mas também é como se tudo isso não fosse real. Sinto que em algum momento vou acordar desse sonho maravilhoso, e esse pensamento me levou a me beliscar diversas vezes para ter certeza de que eu realmente estou vivendo isso.

Meu coração está tão leve. Agora, tenho uma família que me acolhe e talvez futuro amigos com que eu possa contar. E, por mais que exista um garoto que não sai da minha cabeça - não do jeito romântico -, sei que vou viver ótimos momentos aqui.

Meu tio se aproxima com um sorriso de orelha a orelha. Ele bagunça meu cabelo, me fazendo lembrar de Mason e do momento em que ele fez a mesma coisa comigo.

- Como foi o seu dia, pequena? - Meu tio pergunta com animação.

Sorrio de volta e relaxo os ombros.

- Eu vou contar tudo! Aconteceu tanta coisa hoje que parece que 24 horas se tornaram 48!

E enquanto eu me sentava no sofá e contava cada detalhe do meu dia para as duas mulheres, um homem e uma garotinha, senti meu coração bater mais rápido.

Saber que eu tenho alguém que realmente esteja interessado em mim e em como foi o meu dia me faz sorrir. Mas, ao mesmo tempo, sinto vontade de gritar. Pôr tudo para fora, minha angústia, meu passado, tudo o que eu guardo dentro de mim.

Por mais que eu esteja amando estar ao lado da minha família, meu passado me assombra a todo momento. Em forma de sonho ou como memórias, o que eu vivi na Espanha está alojado na minha cabeça e se recusa a sair.

Não consigo esquecer de um segundo sequer em que estive na mesma casa em que meu pai estava. Todas as vezes em que meu pai encostou em mim por qualquer motivo sequer não sai da minha cabeça. Todas as cicatrizes me fazem lembrar dos momentos de cada momento em que eu fui machucada pelo meu próprio pai.

As cicatrizes não são apenas no meu corpo, mas sim no meu coração. Meu pai causou essas cicatrizes. O homem que deveria me amar. Mas, ao invés disso, quebrou cada parte do meu coração, e alguns dos meus ossos também.

[...]

Estou com uma calça jeans e uma regata branca quando saio de casa. Sinto o ar gelado contra meu rosto enquanto caminho até o carro do meu tio na garagem.

Leah insistiu muito para eu ir assistir o jogo dos meninos essa noite, muito mesmo. "Vamos assistir o jogo hoje, por favorzinho!", essas 7 palavras foram praticamente todo o assunto da nossa conversa o dia todo.

Eu concordei porque meus ouvidos já estavam a ponto de estourar.

Meu tio me deixou usar o carro dele esta noite, contando que eu tenha cuidado. Pego a chave e abro a porta do carro, entrando no banco do motorista.

Entre borboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora