3.8 - this is how it ends?

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Charles

Me lembro da primeira vez que falei para o meu pai que um dia eu seria campeão da fórmula 1. Ele me disse que não seria fácil, que o caminho seria longo e que alguns pilotos conseguiam até realizar o sonho de correr na categoria mais rápida do automobilismo, mas que somente alguns tinham o prazer de conquistar o mundo.

Quando eu finalmente consegui estar entre os 20 pilotos do grid e dentro da equipe que sempre foi a minha favorita desde criança, eu senti que o caminho rumo ao meu maior sonho estava finalmente começando a ser escrito. Eu só não imaginava que as coisas dariam errado da forma que deram. 2019, meu ano de estreia, consegui vencer duas corridas, inclusive uma delas foi em Monza, que foi a minha vitória favorita até hoje. 2020 foi um ano horrível e com um carro pior ainda. 2021 também não foi um ano mas houve promessas de que 2022 tudo seria diferente. E foi.

O carro desse ano era veloz e desde a primeira corrida mostrou a que veio. Eu fui vencendo várias corridas e quase todas que perdi foi por algum erro da equipe, sempre com promessas de que os erros cessariam na próxima etapa.

Cheguei na última corrida da temporada precisando chegar em 4...e eu gostaria que o dia 20 de novembro de 2022 não tivesse existido. Eu queria apagar esse dia da minha mente. Eu preferia não ter entrado na pista. Eu preferia que o carro tivesse quebrado na volta de apresentação...mas não, isso não aconteceu.

Na volta 35 eu havia ido para o box e percebi que a equipe teve certa dificuldade para trocar o pneu dianteiro, mas nada que aparentemente me complicasse.

Faltavam exatas 5 voltas para o fim. 5 voltas para eu realizar meu sonho. 5 voltas para a Ferrari voltar a ter um piloto campeão. Eu liderava a prova e Max vinha logo atrás de mim, mas ainda assim eu tinha uma vantagem de 7 segundos para ele.
Confesso que não me recordo muito do exato momento que o mesmo pneu que problema no pitstop simplesmente soltou do meu carro. Quando percebi, eu já estava parando o carro em cima da brita. Foi como se o mundo tivesse desabado sobre a minha cabeça.
O que eu fiz de errado? Sera que mesmo depois de tanto esforço eu não mereço ser recompensado? Será que eu realmente sou superestimado igual a mídia sempre diz por aí?
Esses questionamentos estão na minha mente desde o dia que voltei de Abu Dhabi.

Hoje é quinta-feira e eu retornei no próprio domingo. De lá pra cá eu não falei com ninguém. Meu celular está desligado e a tv está apenas com os canais de streaming. A quantidade de desculpas que eu ouvi domingo do pessoal da equipe e o semblante de pena das pessoas para mim me fizeram querer entrar nesse looping, e confesso que não pretendo sair dele tão cedo.

Há 1 mês atrás eu comecei realmente a imaginar como seria quando eu vencesse o campeonato. Imaginei o quanto esse dia seria especial para mim. Imaginei o quanto minha mãe se orgulharia de mim. Imaginei o quanto os tifosis comemorariam....Imaginei que teria a mulher que sempre amei ao meu lado comemorando comigo. E hoje, vejo que tudo isso foi somente um sonho.

Desde o dia que retornei para Mônaco chove e apesar de meu apartamento estar um completo breu, posso ouvir os pingos nas janelas. Estou prestes a preparar algo para jantar quando ouço alguém tocar a campainha. Eu avisei ao moço da portaria para não permitir a entrada de ninguém e desde então ninguém havia subido até o meu apartamento. Ouço o barulho da campainha pela segunda vez.

-Theo, eu já falei que não quero falar com ninguém - Falei próximo a porta e ouvi a campainha tocar pela terceira vez. Decidi abrir só para ele ver que eu estou vivo e não é uma voz de inteligência artificial falando com ele - Cara, eu estou...mãe?

je t'aime encore - Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora