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Gabi
Subo até ao apartamento dos meus avós com o cu na mão. Eu estava com medo, medo do Léo abrir aquela boca grande para os nossos pais.

— Mana, espera. — ele aparece no elevador parando na frente de mim. — Desculpa se exagerei, eu fiquei irritado. Eu não vou contar nada aos nossos pais, pode ficar tranquila.

Por mais que na hora eu senti uma pontada de raiva dele, ele parecia estar arrependido.

Suspirei aliviada.

— Que bom, Léo. — o respondo seca.

— Só fiquei realmente preocupado com você. Cê sumiu porra.

— Eu sei, eu sei. Tô aqui agora, tô viva.

O elevador se abre e logo abrimos a porta do apê da minha vó. Encontro os quatro sentados sobre o sofá com um semblante nada bom.

— Gabriella? Onde você estava? — meu pai vai até mim erguendo sua voz.

— Calma Ricardo! — minha mãe o segue passando seus braços pelos seus ombros. — Filha, como você está? Onde estava? — ela continua, me perguntando calmamente diferente do meu pai.

— Eu só fui dar uma volta mãe, nada demais.

— Sozinha? — meu pai pergunta, e eu automaticamente olho ao meu irmão.

— Sim. — olho pra baixo.

Ficamos ali por mais um tempinho ainda, eu estava cansada de ouvir aquele papinho ridículo e de ter uma família tão super protetora.

Tiago
Não tive coragem de mandar mensagem pra Gabi depois do ocorrido no parquinho. Enquanto nós andávamos e conversávamos, ela tinha falado que muitas das vezes seu pai tirava o celular dela. Então eu acabei não mandando absolutamente nada, por puro medo.
Senti um pouco de pena, mesmo não sabendo muito bem o que rolava com sua família, dava pra perceber enquanto ela falava, que eles eram bem protetores.

Já tinha escurecido fazia tempo, decidi que iria fazer o que eu planejava hoje cedo.

Arrumar algum emprego.

Sai por aí tentando achar algumas coisas e que batiam com meus horários. Minhas aulas iam começar daqui um mês mais ou menos (infelizmente) e eu precisava me planejar pra isso também.
A algumas quadras do condomínio da minha tia, encontro uma lavação de carros com um cartaz estampado na frente do portão sobre uma suposta vaga de emprego, decido tirar uma foto do número de celular que estava escrito e mandar mensagem amanhã bem cedo.

Observo mais o lugar e noto que a lavação era exatamente do lado do condomínio da Gabi. Quando eu tinha ido ali pela primeira vez pra entregar sua pulseira, não tinha reparado que aquele lugar era enorme, lindo, a pura elite.

O tempo começou a esfriar, decido voltar rapidamente pra casa.

                                        Gabi
Voltamos pra casa. O silêncio no carro estava pesado, não via a hora de chegar logo.
Meu pai estava me tratando friamente enquanto a minha mãe estava tentando fazer a cabeça dele pra ficar de boa, mas nunca adiantava.

**

Enfim em casa! Vou direto para o banho e começo com os meus cuidados, deixo uma playlist com música rodar no meu notebook na bancada ao lado da pia enquanto testava uma máscara de hidratação no meu cabelo.

Saindo do banho coloco um pijama de cetim, me deito na cama e escuto alguém bater na porta.

— Entra. — respondo.

Era o Léo.

— Oi! — ele sorri fraco sentando na beira da cama — Tudo bem?

— Tudo... — arqueio uma das sobrancelhas.

Estava estranhando aquele jeito cuidadoso dele há dias... Mas não vou negar que estava sentindo muita falta disso.

— Eu preciso falar com você, tá ocupada?

— Não mano, pode falar.

Ele respira fundo antes de começar.

— Eu quero te pedir minhas sinceras desculpas a você, Gabi. E não é desculpa por ouvir música alta até tarde atrapalhando seu sono, por roubar do seu prato suas panquecas de café da manhã, por passar por você e bagunçar todos seus cabelos. — ele ri, e eu também começo a rir. — Eu não vou pedir desculpas por isso porque te incomodar eu vou te incomodar pra sempre. Tô aqui pra me desculpar por estar tão distante de você nos últimos anos. Desde que nosso pai ficou mais liberal comigo eu arranjei muitos amigos, tô frequentando lugares que você não pode frequentar e não parando mais em casa. Foi mal por isso, eu nunca devia ter te deixado de lado.

Eu me emociono! Estava sentindo falta desse Leonardo, sentindo falta da relação maravilhosa que eu e meu irmão tínhamos, não penso muito e logo puxo ele pra um abraço demorado.

— É claro que eu te desculpo seu idiota! — digo rindo enquanto algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Você é meu irmão, meu ÚNICO irmão, eu te amarei pra sempre Leléo!

— Eu te amo Gabizinha! Obrigado por ter me escutado. — ele retribui o abraço, mas logo o para. — Agora chega!

Nós rimos.

— Sábado é meu aniversário lembra não? — pergunta.

— É claro que eu lembro né? Você vai fazer algo?

— Humm, eu não sei ainda. — diz pensando olhando pra qualquer canto do meu quarto. — Eu tava pensando em chamar alguns amigos aqui pro condomínio, assar uma carne no salão de festas, ficar de boa na piscina... Não tô pensando em nada grande.

— Eu topo a ideia!

— E quem disse que você vai ser convidada?

— Hahaha, engraçadinho! — Finjo uma risada.

— Então estamos conversados! — ele diz se levantando da cama indo em direção ao quarto dele. — Ah! — ele se vira pra mim novamente — Pode convidar aquele seu ficante, o Tiago.

— FICANTE? — pergunto alto.

Ele ri  saindo definitivamente do quarto apenas balançando sua cabeça.

Que idiota.

 A dama e o vagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora