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terça feira, 16 de janeiro.

                                   Tiago

— Bom dia tia! — apareço na cozinha ainda de pijama.

— Bom dia sobrinho! Dormiu bem? — fala se sentando sobre a mesa.

— Aham... E você? Vai fazer o que hoje?

— Ai sobrinho... Sua tia não dormiu nada essa noite! — fala em um tom engraçado que me faz rir. — Hoje é o meu primeiro dia de trabalho na empresa Bailey. — aquela frase me fez engasgar com o meu iogurte.

— Tá tudo bem Ti?

— Tá... Tá tudo sim... Eu espero... Que você tenha um ótimo primeiro dia!

Ela sorri arqueando a sobrancelha, provavelmente pensativa.

Eu não sei por que eu agi daquele jeito só por causa desse emprego dela. Eu deveria estar feliz, mas na verdade eu estava com medo, o Ricardo me dava medo.

— E você vai fazer o que hoje? — me pergunta.

— Ah... — levanto da mesa pegando meu prato e levando até a pia. — Eu acho que vou ir pra Cascadura hoje... Ver como tudo está por lá, meu padrasto...

— Eu acho uma boa ideia! Mas você precisa tomar muito cuidado!

— Como assim?

— Com seu padrasto principalmente. Eu não quero que você arranje confusões.

— Relaxa tia. Você sabe que eu me cuido.

— Eu tenho muito orgulho de você! — ela me puxa pra um abraço. — Sua mãe também teria.

E aquela pequena frase me deu uma saudade absurda agora.

Gabi

10:47 da manhã.

"que silêncio" Eu penso.

E realmente, a nossa casa estava silenciosa até demais. Acho que o barulho não acordou ainda, vulgo Leonardo.

Levanto da cama e abri as janelas e cortinas, o dia estava um pouco nublado porém bem abafado.
Vou ao banheiro e faço minhas higienes matinais, saio do quarto e decido ir incomodar um pouquinho aquilo que eu chamo de irmão.

Essa era a tarefa dele mas hoje eu que senti vontade de irritá-lo.

— BOM DIA! — abro a porta com força em seguida abrindo as janelas e cortinas.

— Nossa Gabriella vai se fuder. — diz pondo o travesseiro na cara.

— Onze horas da manhã bonito, bora levantar!

— O que deu em você pra acordar cedo?

— Para de falar e levanta logo. — o puxo.

— GABRIELLA!!! — ele grita. — O que você quer? — suspira.

— Vamos Léo! Vamos fazer algo hoje vai, por favor!!!

— Tipo o que garota chata? — fala com amor!

Só que não.

— Tipo fazer compras no shopping!

— Gabriella, qualquer dia desses que você ousar a passar o cartão do nosso pai na maquininha, a maquininha vai explodir sabia? Junto com o cartão do nosso pai. Aí você vai simplesmente falir a gente de TANTA COISA INÚTIL QUE VOCÊ COMPRA!!! SUA CONSUMISTA!!!

Eu rio com aquela história mirabolante dele. Eu não podia me defender, até porque eu era sim uma consumista filha da puta.

Consigo convencer o mesmo, fomos a cozinha pra almoçar e nos aprontar para irmos as compras!

— Como meus filhos estão lindos! — minha mãe que estava sentada no sofá da sala com sua série na tv nos olhava com um brilho nos olhos.

— Valeu mamãe! — Léo a responde dando um beijo na cabeça dela.

— Vão aonde? — ela pergunta.

— Nós vamos no shopping fazer algumas comprinhas. — a respondo e Léo revira os olhos, fazendo nossa mãe rir. — Vão mas tentem voltar antes do pai de vocês voltar tá bom? Ele não ia gostar de ver você sair Gabi.

— De novo isso mãe? — suspiro.

— Você sabe como ele é, filha...

Assinto, e com isso saio de casa com o Léo. Nós íamos no carro dele.

                                       Tiago

Acabei de chegar em Cascadura. Eu vim de uber, e a primeira coisa que eu fiz foi "visitar" o meu padrasto.

Fazia tempo que eu não andava por aqui, algumas coisas mudaram mas muitas não. Alguns conhecidos ao me ver ficaram admirados, falaram que eu tinha mudado, que até havia ficado mais bonito pois tinha cortado mais o meu cabelo, desaparecendo com os cachinhos.

Chego na minha antiga casa e me deparo com TUDO quebrado. Eu não sabia o que tinha acontecido. Até vim na memória...

Meu padrasto acabou se envolvendo com drogas. Perdeu absolutamente tudo, a casa, aquela lata velha que ele chamava de carro, tudo, absolutamente tudo. Eu não sabia mais onde ele estava e confesso que não saber disso me deixou levemente preocupado.

— Caralho, oi mano! — Rodrigo aparece atrás de mim me fazendo tomar um susto.

— Ai porra! Pra que chegar assim?
Cumprimento o mesmo com um toque e ele volta a falar.

— Irmão, teu pai não tá mais aqui não. Já era tudo isso daqui.

— Ele tá mesmo morando no morro do alemão?

— Sim, ele tá morando junto com uns outros homens barra pesada mesmo. Já era pra ele se ele não pagar aquela divida.

— E se ele não pagar ele morre mesmo?

— Claro que morre. O complexo inteiro tá em cima dele irmão, fudeu pra ele já.

— E se os cara vim pra cima de mim? — Ando de um lado para o outro.

— Relaxa mano, isso não vai acontecer eu te garanto!

— Cara gastei dinheiro atoa vindo pra cá. E como tá a sua vó?

— Ela tá indo... Enfim, o Wesley tá por aí andando de skate, vou ligar pra ele pra colar aqui.

— Demorô.

Wesley chega ao nosso encontro em menos de poucos minutos, conversamos e trocamos algumas novidades juntos, como nos velhos tempos. Logo mais o Wesley volta a falar:

— Cara, e se a gente for pro complexo do alemão?

— Tá chapando? — Rodrigo pergunta, e eu concordo plenamente.

— Só pra gente ver como é a realidade e as parada por lá... Aí a gente aproveita pra procurar o seu Luís e ver se ele realmente tá na merda.

— Eu não concordo. — digo rapidamente.

— Concorda sim. — Wesley responde.

— Tá galera. Vamos então, eu pago o uber. — Rodrigo se desencosta da mesa indo em direção a saída da casa.

Eu não sabia se isso seria certo.
Eu sabia que se eu entrasse lá seria muito difícil de sair, e de presenciar tudo aquilo.

 A dama e o vagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora