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Gabi

Depois de muitas risadas, choros, desabafos meus e do Léo referente a nossa mãe, estávamos nos levantando das mesinhas no deck indo em direção a areia.

— Eu ainda não entendi o por quê que você veio de tênis Gabi. — Luana diz rindo.

— Pois é! É melhor tirar amiga. — Cami me aconselha.

— Eu seguro ele pra você caso a gente for caminhar na areia. — Gabriel sugere porém eu nego na mesma hora.

— Esquecemos de umas cervejas né galera? — Léo dá meia volta e encontra o Donatto na lanchonete, ele pede as cervejas e as entrega para todos, menos para mim que não bebo (porque o meu pai me mataria), e para o Tiago, que fechou a cara na mesma hora.

Sinto que o Tiago tem algum gatilho com bebidas alcoólicas, desde o aniversário do meu irmão ele age estranho quando alguém do lado dele bebe ou até mesmo quando oferecem para ele.

Continuamos o percurso até a areia, tiro meus tênis ficando um pouco atrás do povo.

Tiago se vira para trás me analisando e logo volta a dar uma olhadinha rápida para o pessoal na frente, ele vem até mim correndo até mim parando em minha frente lançando aquele típico sorriso.

— Vim te esperar. — Aquilo me fez sorrir que nem uma criança boba.

— Obrigada! Muito gentil da sua parte! — Agradeço rindo.

— Sabe de uma coisa? — Ele arqueia uma das sobrancelhas e eu nego, esperando ele continuar sua frase. — Quando a gente tava sentado no deck, aquele por do sol iluminava tanto você.

Sinto meu rosto corar.

— Seu cabelo sendo balançado pelos ventos, o rosto vermelhinho do sol, seus olhos castanhos claros estavam tão lindos. Você tá linda! — Ele sorri mas logo fecha a cara. — Meu Deus tô sendo muito meloso, né?

Não Tiago! Você não estava! Eu estava é com dor nas bochechas de tanto sorrir.

— Você me deixou com vergonha mesmo. — olho para baixo. — Você está lindo também.

Ele sorri.

— Vocês não vem não? — Camila grita com seus pés já tomados pela água salgada.

Eu e Tiago nos entreolhamos e andamos até eles, ele estava segurando os meus tênis.

— Esse momento merece uma música! — Luana diz animada pegando seu celular, e em poucos segundos já estava tocando "Céu Azul", de Charlie Brown Jr.

"Tão natural quanto a luz do dia
Mas que preguiça boa
Me deixa aqui a toa
Hoje ninguém vai estragar meu dia
Só vou gastar energia pra beijar sua boca
Fica comigo então não me abandona não Alguém te perguntou como é que foi seu dia?
Uma palavra amiga uma noticia boa
Isso faz falta no dia à dia
A gente nunca sabe quem são essas pessoas"

Cantarolamos, dançamos, estava com saudades de momentos assim.
Depois de muita folia, nos sentamos sobre uma toalha na areia (que a Camila lembrou de trazer), e começamos o papo sobre a escola, o tão esperado terceirão.
Eu, Camila, Luana, Gabriel e Tiago caímos na mesma sala. Léo fala sobre começar uma faculdade, Wesley não está se importando muito com seu futuro acadêmico, o mesmo reprovou no seu último ano e tá puto da vida com isso, agora ele estudará na mesma turma que o Rodrigo, num colégio público em Cascadura.

— Nem acredito que as aulas vão voltar. — Camila diz encarando as ondas quebrando.

— Pelo menos o trio vai estudar junto! — Luana diz sorrindo fazendo com que eu e Cami sorríssemos também.

— Desejo toda sorte do mundo pra vocês. — Léo fala enquanto Gabriel deitava-se com sua cabeça no colo do meu irmão.

— Eu tô de boa! — Gabriel diz convencido se acomodando no colo do Léo e eu reviro os olhos.

— Hoje foi tão legal... Mas realmente eu e Wesley precisamos voltar. — Fala Rodrigo se levantando da toalha se ajeitando.

— Vocês vão ainda hoje voltar pra Cascadura? — Pergunto à eles.

— Não. Vamos sair amanhã bem cedo. — Wesley me responde se levantando também.

— Amanhã é dia de trampo. — Rodrigo bufa.

— Vocês... Se importariam se... — Tiago começa a dizer, fazendo um sinal do tipo "posso ficar aqui ainda?"

Sem estresse parceiro. Pode ficar de boa. — Wesley e Rodrigo falam meio em conjunto e logo mais eles estavam nos despedindo de nós. Percebo que Wesley dá um abraço de despedida super longo na Luana e eu com o resto nós entreolhamos arregalando os olhos.

Todos já estavam indo também, só restavam apenas eu e Tiago. Gabriel quase ficou ali conosco mas a Camila o MANDOU ir para casa. O Léo antes de ir disse "juízo!" para nós dois e caso os meus pais pedirem de mim, ele ia falar a mais velha mentirinha: ela está na Cami.

Se você pudesse definir o dia de hoje em uma palavra, qual seria? — Tiago me pergunta, com seus olhares castanhos fixos ao mar.

— Humm... — Digo pensando, não estava esperando uma pergunta como essa. — Refúgio.

— Refúgio? — Ele pergunta olhando para mim, e eu faço que sim com a cabeça. — Explica.

— O que aconteceu hoje, e o que sentimos hoje foi maravilhoso. Eu e o Léo estávamos arrasados, não que agora não estivéssemos, né? — Ele concorda. — Mas ter vindo pra cá foi um refúgio mesmo. Desabafar com vocês, aproveitar o dia... Perfeito.

— Eu sinto muito pelo que você e sua família estão passando. Sei que teu pai me odeia, na verdade acho que toda a sua família tem um rancinho de mim mas... Não justifica. Eu imagino o que estão passando. — Diz cabisbaixo.

— Obrigada por ser tão compreensível. — Digo meio baixo, já que estávamos a centímetros de distância. — E você? Sua palavra?

— Minha palavra para o dia de hoje seria... Calmaria. Sempre gostei do mar, da praia... E vir para lugares assim ainda mais com quem a gente gosta de estar junto é maravilhoso.

Com quem a gente gosta?

Tiago se aproxima ainda mais de mim. O vento balançava os meus cabelos, ele põe uma mecha deles por trás da minha orelha olhando para cada detalhe do meu rosto.

— Já falei que você estava linda hoje?

— Algumas vezes! — Sorrio.

Ele pede minha autorização para me beijar, e é claro que eu disse sim.

Iniciamos mais um beijo. Com gosto doce, de saudade, muita saudade.
Eu não sabia que relação era aquela, mas a essa altura do campeonato eu nem me importava mais.

Paramos o beijo por falta de ar, acabo recebendo uma notificação qualquer no celular, era o Léo.

"casa, agr"

Mostro a mensagem para o Tiago e o mesmo bufa irritado.

— Bem na melhor hora!

— Desculpa Tiago, eu preciso ir mesmo.

— Eu tô brincando sua bobona. — Diz bagunçando o meu cabelo. Ô raiva. — Vamo embora, vou te levar pra casa. — Ele se levanta e me ajuda a levantar também.

Por mais dias como esses.

 A dama e o vagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora