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                                        Gabi

Sério! Eu juro! — Dizia Tiago, fazendo eu rir a cada passo que dávamos até a minha casa.

Ele estava me contando uma história maluca de quando tinha 7 anos e tinha caído do skate lá em Cascadura, ele me fazia rir absurdamente, sem parar.

— Você ri né? Eu tive que levar ponto!

— É que você é engraçado seu bobo! Só isso! — Dou um empurrãozinho de leve em seu ombro e continuamos a caminhar.

Era verão em Copacabana, estava um clima agradável e com um ventinho gostoso.

— Pronto princesa, mais uma vez entregue sã e salva. Não sou tão péssimo assim tio Ricardo!

Sorrio revirando os olhos e um silêncio se instala entre nós.

— Tiago? — Eu quebro esse silêncio. — Posso te pedir uma coisa?

— Claro que sim. — Ele diz se apoiando no muro da portaria do condomínio.

— Por que sempre que alguém do seu lado está bebendo bebida alcoólica ou até mesmo, quando oferecem a você, você fica meio estranho? Triste ou sei lá... Pensativo?

Ele suspira olhando pra baixo. Não sei se fiz uma boa pergunta ou toquei num gatilho dele.

— Eu tenho traumas. — Ele diz curto e seco.

— Ah, eu não sabia, me descul...

— Não Gabi, você nem tem culpa disso muito menos sabia do contexto.

— Eu sei, mas acho que fui meio direta demais, me desculpa por isso.

Ele ignora o meu pedido de desculpas e quando eu me toquei, ele já estava falando livremente o seu trauma.

— Meu padrasto bebe muito, muito mesmo. Ele ficava bêbado e descontava toda sua raiva na minha mãe e as vezes em mim. Até hoje eu não suporto bebida alcoólica.

Eu não sabia de nada disso.
Eu não sabia que era tão grave assim.
Começo a sentir meu corpo tremer de pena, com uma vontade absurda de abraçá-lo.

— Mas você não precisa ter pena de mim, Gabi. Passado é passado. E agora eu vivo aqui em Copacabana.

E por que você veio pra Copacabana?
Sua mãe está bem?
E seu pai biológico?

Eu tinha mais mil perguntas para se fazer, a cada palavra que ele dizia, eu ficava muito mais curiosa para saber sobre o resto.

— Agora garotinha, que você já sabe de tudo... — Diz pegando em minhas mãos. — Você precisa entrar, tá ficando tarde.

— Eu sinto muito pelo que você passou viu? — Digo cabisbaixa.

— Tudo bem, eu também sinto.

— Obrigada por ter me acompanhado até em casa! — Mesmo com muita vergonha, eu a puxo para um abraço, sinto sua pele na minha, o cheiro do perfume dele marcando presença, e ele escondido em meio dos meus cabelos.

 A dama e o vagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora