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                                        Gabi

dor
tristeza
medo
raiva

Eu não sabia distinguir esses sentimentos naquela hora. Minha mãe? Com câncer? Como que todos sabiam menos eu? Será que de fato eu era uma ingrata e esse tempo não dei atenção a ela? Será que o Léo exagerou? Será que ela tem chance de sobreviver?

Saio dali com lágrimas percorrendo o meu rosto com o coração na mão. Entro pra dentro do salão e avisto minha família conversando com amigos numa rodinha.

— O que aconteceu minha filha? — Meu pai pediu desesperadamente pra mim.

— A gente precisa conversar. — digo séria e os amigos deles entenderam o recado e saíram de lá, eu sentia a respiração pesada da minha mãe de tanto nervosismo.

— Quando que vocês iam me contar? — falo trêmula de braços cruzados segurando a vontade de chorar, o que era impossível naquele momento.

— Quando o que minha princesa? — meu pai pergunta.

QUE A MAMÃE TEM CÂNCER! — Falo mais alto e minha mãe olha pra baixo.

Porra eles não vão falar nada?

Vejo minha mãe chorando e só me deu vontade de chorar cada vez mais.

— Sinceramente eu não entendo tamanha irresponsabilidade. Não contar pra mim? Sério isso? — falo nervosa.

— D-desculpa pai, desculpa mãe, eu não consegui vir atrás dela. — Meu irmão que estava vindo atrás de mim nos encontra.

Avisto o Tiago de longe que observava tudo muito preocupado aparentemente.

— Eu te peço uma única coisa Leonardo! Uma única coisa! — via que aquela discussão só estava fazendo mais mal pra minha mãe. — E essa única coisa você não se dá conta! "tamanha irresponsabilidade" Claro, assim é fácil, vem aqui resolver então!

— Pai pelo amor de D... — não termino nem a frase e meu irmão estava indo pra cima do nosso pai, mas eu acabo o segurando — Sínico! — O Léo fala.

— Calma Leonardo! — falo mais baixo tentando parar com aquela discussão no meio da festa.

— Calma o que Gabriella? Calma o que porra? — ele me respondia exaltado.

E a situação só piorava.

**

domingo, 10:40

Bom dia, que belo dia.

A festa tinha acabado, ela tinha sido um desastre que só, ela acabou antes do tempo, meus pais vieram pra casa e os jornalistas agora não sabem falar de mais nada a não ser sobre "o barraco na festa dos Bailey" .

O meu pai tava estressadíssimo. Ele não tinha brigado mais, ele estava o tempo todo quieto, mas era quieto até demais.

Minha mãe estava no mundinho dela, mas ela conversava normalmente comigo e com o Léo, porém dava perceber de longe o desânimo da mesma.

Havíamos chegado em casa e cada um se dirigia ao seu quarto, eu não dormi a noite toda. Solucei de tanto chorar a noite inteira e tenho certeza que os quartos aos lados ouviram tudo.

Decido levantar da cama e tomar um banho, e acabo chorando lá mais ainda.

Tiago

Bom dia meninos! — Minha tia recebia o Wesley e o Rodrigo na manhã de domingo. Ontem no fim da festa eles decidiram ir pra casa, mas agora novamente já estavam por lá.

Achei estranho eles terem voltado pra Cascadura, mas o Rodrigo tinha que ir por conta da dona Rute, sua vó, que piorava à cada dia.

— Bom dia tia Raquel! — eles falam em conjunto e logo em seguida eu apareço na sala.

— Fala meus viadinhos! — abraço os dois ao mesmo tempo e eles retribuem.

— Meu gente! Nem falamos nada sobre ontem ainda né... — Minha tia se senta sobre o sofá nos olhando, e eu já sabia do que se tratava.

— Rolo de ontem? — Rodrigo pergunta e ela assente.

— Cara não entendi porra nenhuma do que aconteceu. Só vi a namorada do Tiago surtando com os pais e depois não vi mais nada. — Wesley fala.

— Namorada? — Minha tia pergunta me encarando.

— Namorada não pô. — respondo sem me importar com a brincadeirinha, eu só pensava no quão mal a Gabi devia de estar agora que ela soube de toda a verdade, do câncer da Mônica.

Cê sabe de alguma coisa? — Rodrigo pergunta e eu penso antes de falar pra eles. Não sabia se era uma boa.

— A Mônica, mãe da Gabi está com câncer. — falo friamente olhando pra baixo.

— A Mônica? Câncer? — minha tia fala desesperada. — Coitada!

— Caramba... — Rodrigo olha pra baixo.

— Que mal... — Wesley fala.

— Pois é galera, a Gabi descobriu isso ontem, todos da família dela tava escondendo a verdade, por isso deu briga. — falo me lembrando de tudo que aconteceu ontem.

— Eu tô sem palavras, nunca imaginei a Mônica com câncer, e o Ricardo sempre tão idi...

— O que tia?

— Tão... Frio. — ela responde.

Ela está mentindo. Ela ia falar idiota. Mas como? Eles se conheciam até mesmo antes da minha mãe trabalhar na empresa dos Bailey?

Gabi

O interfone toca e eu o atendo, era a Camila e a Luana querendo subir e eu as libero.

Eu já tinha tomado meu banho e vestia uma camisa e um shorts qualquer, olho em toda volta do apartamento e tava uma baguncinha, principalmente em cima dos balcões onde haviam diversas revistas rasgadas falando sobre a festa de ontem.
Decido jogar tudo no lixo e logo atendo elas, com um sorriso fraco.

— Amiga!!! — As duas falam em conjunto me abraçando ao mesmo tempo. — Viemos o mais rápido que pudemos. Como você tá? — Luana me pergunta.

— A gente tava muito preocupada, você não visualizava nenhuma mensagem no whats! — Camila fala enquanto eu dava espaço para as duas entrarem.

— Gente desculpa! Ontem foi um caos! Nem dei atenção ao celular. Sentem aí, querem beber alguma coisa?

Elas fazem sinal que não com a cabeça e pedem pra eu sentar também.

Sento em frente a elas numa poltrona e respiro antes de começar a falar.

— Minha mãe tá com câncer! — falo ligeiramente.

— O que? — Cami e Lu falam em conjunto. — Não pode ser... — A Cami continua.

— Que câncer? Há quanto tempo? — Lu pergunta.

— Eu não sei... Eu não sei de nada. Me contaram ontem a noite! O Léo meu contou! Todos sabiam, até a Joana que trabalha aqui sabia esse tempo todo! Menos eu!

— Meu Deus amiga, que mal cara. — A Cami fala em resposta, mas nada me consolaria naquele momento. — O Léo tá em casa?

— Ele nem saiu do quarto ainda hoje Cami, ontem a gente discutiu antes dele me contar toda a verdade, nem olhei mais pra cara dele.

Ficamos conversando mais um pouco, na verdade eu fui a que mais falei, eu desabafei tudo pra elas, tudo mesmo, eu precisava muito de um apoio naquela hora, e eu só tinha elas para contar naquele momento, a amizade dessas duas me fazia muito bem, e era isso que importava.

 A dama e o vagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora