O AGORA

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Essa fic surgiu de um momento de flerte que rolou comigo na academia, mas diferente dos Jikook dessa história, fiquei só no flerte mesmo. 

É uma história bem levinha, mesmo. Só pra descontrair um pouco. 


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Se eles soubessem desde o começo que quando seus olhos se encontraram pela primeira vez na entrada da academia, ambos sentiam pequenos choques que começavam na cabeça e iam até a base da barriga, os dois teriam poupado quase um ano inteiro de dúvidas, encontros passageiros com outras pessoas e desconfortos.

Mas aí não seria eles. Não seriam os dois decidindo seus próximos passos levando em consideração seus aprendizados, forças, crenças e fraquezas. Não seria a clara ação do fio vermelho do destino se estreitando num ritmo tão lento quanto possível, como se soubesse que se fosse mais rápido, iria assustá-los.

Revirando o passado, é possível encontrar inúmeros momentos onde caberiam atitudes mais firmes que demonstrassem ativamente o desejo que os consumia quase que secretamente. Mas se não fosse como foi, as chances de não estarem prontos para o que os esperavam em questões de reflexos físicos, mentais e sentimentais, eram grandes demais.

Por isso, deitados preguiçosamente no sofá escuro e grande da sala recém montada, contando com poucas caixas vazias acumuladas num cantinho atrás da porta, Jungkook e Jimin sentiam muito, mas nada que envolvesse arrependimento.

Foi quase um ano para se permitirem sentir e estar juntos, mas não precisou de mais do que alguns meses depois disso para entenderem que estava escrito. Onde? Ninguém sabe. Por quem? Existem teorias sobre isso, mas ambos preferem deixar em aberto para que, na hora de agradecerem o que lhes foi dado, não sejam injustos com nenhuma força criadora existente ou não.

É por isso que, mesmo sério, pensando em como ainda tinham alguns gastos necessários para fazer dentro de casa, mas que precisavam ir com calma para não descompensar as contas e manter tudo em dia como dois adultos responsáveis, Jimin sorria pequeno enquanto abraçava o corpo grande e musculoso do namorado carente.

O mesmo grau de seriedade era quebrado pelo brilho intenso no olhar de Jungkook, e mostrava que existia felicidade genuína mesmo após uma semana cansativa de trabalho e uma grande desavença familiar por questões políticas.

Desde o começo, para Park Jimin, a frase "Respira fundo." era o grande mantra para lidar com seu atual namorado. Primeiro o ajudou a não se perder nos suspiros causados pela beleza de Jungkook. Então, se tornou o mantra de todos os dias para que não se irritasse com as pirraças e brincadeiras cheias de segundas intenções que o mais novo direcionava a Jimin, mesmo que não tivessem intimidade para isso. E logo se tornou o ponto de força para lidar com as descobertas de que o mesmo teria sido um dos motivos para que um amigo de Jimin se sentisse ferido por anos na juventude. Depois, se tornou o motivo para não se perder no desconforto de vê-lo nos braços de outra. Em sequência, tornou-se o portal que originou a primeira conversa séria entre ambos, com o objetivo de resolver o que tinha que ser resolvido e seguir em frente com o que tinha para ser seguido. E somente então se tornou a responsável por manter seus pequenos pés no chão todas as vezes que sentia que ia ceder aos caprichos do namorado que sabia como manipulá-lo e como o ter na palma das mãos grandes e grossas devido ao esforço físico na academia e no boxe.

Já para Jeon Jungkook, que nunca teve a intenção de se controlar em nada porque sempre preferiu viver a vida como se cada minuto fosse o último, "fofo" era tudo o que conseguia pensar acerca daquele que, mesmo com mãos e pés tão pequenos e corpo estreito, conseguia o abraçar por completo, dentro e fora, cima e baixo, centro e bordas, sem deixar uma sobra sequer, como se ensinasse na prática à Tétis como não deixar nem mesmo o calcanhar da pessoa amada sem ser coberta pela proteção de seu amor.

Quando o viu pela primeira vez na lanchonete da academia perto da recepção, a primeira palavra que quase gritou em sua mente foi "fofo" e não ousou discordar dela em nenhum momento que se seguiu. Continuou escutando essa palavra se repetir em sua mente quando Jimin fingia não o ver ao passar por ele, mesmo que fosse péssimo em disfarçar. Também a ouviu quando viu o alívio nos olhos pequenos de Jimin após dizer que não estava namorando Jinsoul. Quando o irritava de propósito, era aquela palavra que se repetia incansavelmente em sua cabeça, como um disco furado ou um papagaio barulhento. E mesmo quando Jimin se afastou e passou a tratá-lo com frieza, não conseguia evitar de escutar o "fofo" cantando em sua mente perturbada pelo vazio que aquele rapaz nada íntimo na época lhe causava. Mas foi quando conseguiu se explicar para o menor que essa palavra se tornou ainda maior, mais alta, mais forte. No primeiro beijo, era ela quem estava presente, e foi a primeira vez que deixou que ela escapasse de seus lábios molhados e desejosos por mais beijos e mais confissões. Era e ainda é com ela que desperta seu dorminhoco preferido. Foi com ela que disse "sim" ao pedido de namoro feito por Jimin - que atrapalhou seus planos de pedir primeiro -, e é ela que gira e revira seus pensamentos mais reconfortantes sobre o futuro.

E deitados no sofá escuro de uma sala recém mobiliada, com o acúmulo de preocupações financeiras, familiares e profissionais de uma semana nada tranquila postos de lado juntos com as caixas vazias que ainda estavam decidindo se iriam pro lixo ou pra dispensa, se confortando e reabastecendo energia de forma mútua, dando e recebendo como se apenas o abraço e os sorrisos pequenininhos fossem o suficiente para transformar o barulho em silêncio e o cansaço em preguicinha gostosa de se sentir, é possível palpar o fio vermelho do destino enlaçando seus dedos com firmeza, como se fosse a prova de que não há a possibilidade dele se romper, mesmo que às vezes se estique demais de novo para que ambos consigam ter um espaço para aliviar a cabeça dos desacordos e feridas que podem surgir no futuro. 

Respira fundo, fofoOnde histórias criam vida. Descubra agora