O PRIMEIRO PASSO - parte 3

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Os dias se passaram e, agora, os dois pombinhos não mais trocavam apenas olhares e sorrisos. Também se cumprimentavam e faziam comentários um sobre o outro, sobre a semana, ou até mesmo sobre os exercícios que faziam.

- Pela careta que você estava fazendo, teve aumento de peso no seu treino. - Jungkook se aproxima sorrateiro.

- Yoongi não tá facilitando pra mim. - Jimin enxuga o rosto com a toalha pequena e preta que carrega pra cima e pra baixo na academia e faz uma expressão séria unindo as sobrancelhas e encarando Yoongi de longe. - Acho que ele quer me matar.

- Fica atrás de mim. Eu te protejo - Jungkook abre os braços se posicionando na frente do menor, ficando entre ele e Yoongi, que se aproxima caminhando lentamente e sorri ao ver a cena.

- Bobo - Jimin bate de levinho a toalha no ombro de Jungkook enquanto ri da brincadeira e volta a fazer seu treino.

Qualquer coisa era motivo para que eles interagissem, e as vezes até buscavam motivos para que isso acontecesse mais do que uma vez no mesmo dia.

- Não vai encher a garrafinha toda? - Jimin pergunta num outro dia ao notar que o maior encheu apenas metade da garrafa e ia seguir em frente sem o ver se aproximando.

- É fiscal de hidratação alheia agora? - Jungkook ralha do pequeno, recebendo um tapinha fraco no braço flexionado. Como ele gostava desses tapinhas que eram apenas uma desculpa para ser tocado.

- Nesse calor e bebendo pouca água desse jeito, parece que você tá precisando de um.

- Bom saber que você tá disponivel pra me monitorar, então.

Jimin ri com o corpo todo, ficando mole como uma gelatina, o que faz Jungkook o segurar pelo braço toda vez que ri assim para ampará-lo de alguma forma. E para ter uma outra desculpa para se tocarem.

- Você é muito bobo, Jeon Jungkook. - E vai embora depois de encher a própria garrafinha, deixando um tatuado sorrindo enquanto sua mente explode repetindo "fofo".

Sem perceberem como essa dança de sedução os levavam para um lugar sem volta por meio de poucas palavras, muitos olhares e ainda mais sorrisos cumplices, acabavam sendo cegamente guiados pela música do fio vermelho que os aproximava de pouco em pouco, bem gradativamente.

A rotina de cada um passou a ser de interesse do outro. Passaram a decifrar até mesmo quando um dos dois não estava bem pela forma de andar e de fazer os exercícios. 

Quando o dia não havia sido bom, Jungkook exibia a própria força com ainda mais empenho, aumentando cargas e repetições em uma busca clara pela exaustão. Enquanto Jimin entrava num mundinho silencioso e focado, não via mais nada a seu lado e acabava pegando mais leve na musculação para poder ter mais energia acumulada na hora de dançar. Era ali que ele depositava toda a frustração de um dia ruim. Mas mesmo nesses dias ruins, que não eram tão poucos assim, já que viver numa sociedade que os obriga a dar tudo de si para ganharem salários baixos enquanto deixam seus patrões igualmente boçais mais ricos e enjoados, não era tarefa fácil. 

- Tá indo pra casa mais cedo? - Em outro dia, Jungkook se aproxima do mais velho ao vê-lo pronto para ir embora. - Parece que Yoongi não quer te matar, no final das contas.

- Acho que ele ficou intimidado com meu guarda-costas.

- Seu guarda-costas? - Jungkook franze a testa, sem entender o que o outro quis dizer.

- É! Um cara alto, tatuado e bobo. Qualquer dia desses eu te apresento ele. - Ambos riem da brincadeira.

- Hm... Vou conversar com o Yoongi pra ele não aliviar mais, ou você não vai mais precisar dos meus serviços.

- Medo de perder o emprego, Jeon? - e se retira sorrindo, lançando um olhar sugestivo para o maior que fica pra trás o assistindo caminhar.

- Você não disse porque tá saindo tão cedo hoje. - Jungkook falou mais alto para que o outro o escutasse.

- Hoseok está gripado e Yoongi queria ficar com o noivo. - Jimin caminhou 3 passos de costas apenas para responder olhando para o rapaz. - Tchau, Jeon!

- Tchau, Park.

Hoseok estava furioso, mas só demonstrava para Yoongi, pois sabia que seu noivo tinha razão. Por mais que não gostasse do tatuado e tivesse motivos para isso, não se sentia no direito de contar nada daquela história do passado que nem era dele, mesmo que ele tenha presenciado e ajudado a curar as dores das consequências. Sem saber dos seus motivos, não tinha como exigir que seu amigo escutasse seus alertas. Até tentou pedir para Seokjin contar tudo para Jimin e assim o ajudar a afastar o mais novo daquele enrosco besta, mas Jin fora categórico em dizer que o que passou, passou. 

Já Yoongi achava graça de tudo, mas somente com Jimin, pois sabia que isso irritaria Hoseok. Não fazia por mal, confiava em seu noivo e volta e meia alertava Jimin a não dar trela para sentimentos, pois se Hoseok estava dizendo que alguém não presta, é porque ele tinha bons motivos para isso. Mas queria ficar aberto para escutar o que Jimin tinha para lhe contar, assim como acreditava piamente que as pessoas podiam mudar. Não fazia ideia dos porquês de seu noivo, mas sabia que se fosse algo muito grave, ele não seguraria tanto a informação e seria bem mais categórico em seus avisos. Isso o deixava mais seguro para ficar em cima do muro.

Por sua vez, Jimin sentia a necessidade física de trocar, mesmo que poucas palavras, com Jungkook e sentia que a recíproca era verdadeira. E realmente era.

Todas aquelas brincadeiras rápidas faziam seu dia valer a pena e serviam de grande incentivo para manter a rotina saudável, não que ele realmente precisasse de mais uma além de todas as que já tinha. E Jungkook amava tudo o que aquelas trocas despertavam em si, e passava noite e dia flutuando ao lembrar que poderia encontrar o menor quase todos os dias.

Mas no final das contas, existia um peso naquele encontro que precisava ser resolvido antes de qualquer coisa, e isso não seria adiado por muito tempo se dependesse da curiosidade de Jimin.

E da de Jungkook também.

Respira fundo, fofoOnde histórias criam vida. Descubra agora