Luz, Câmera...

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Amaury POV

Era 15 de dezembro, meu aniversário e querendo ou não eu estava cheio de expectativas...
Tinha muita bagagem nas minhas costas, anos de arte e amor por ela, anos de teatro, dança, canto.... toda uma vida pautada na liberdade e no amor. Já fiz participações em novelas antes e não sou o tipo mente fechada que acha que fazer novela te diminui como ator, minhas expectativas são pelas novas experiências, trabalhar com gente que admirei de longe, viver uma nova dinâmica de trabalho, pelo próprio personagem que me interessou muito por ser desafiador, fazer algo que vai trazer debate e talvez melhora pra casa das pessoas com certeza é algo que me interessa, então assim meu dia começa... com sede pelo novo, com brilho nos olhos. Hoje é a leitura, com o elenco da novela, vai chamar "Terra e paixão" e eu vou fazer um homem com muitas camadas, um peão sofrido, assassino de aluguel e ainda tem um romance gay pra desenvolver na história, não é a minha primeira experiência com um trabalho assim, mas agora o foco vai ser diferente, só aumenta minha expectativa, gosto de ver crescer um personagem.
Com mil pensamentos na mente, entro no carro e saio pra abrir essa porta, pra entrar nesse novo.

Cheguei a globo e claro, fiquei deslumbrado de estar com tantos rostos e trajetórias conhecidas, estava preocupado em conhecer o Tony Ramos, o Diego Martins e o Italo Martins, que pelo pouco material que havia recebido da história, teriam cenas importantes comigo. O Italo estava tão nervoso quanto eu e era muito gente boa, nós juntos fomos até o Tony, os preparadores de elenco nos apresentaram e ele, muito simpático apertou minha mão

- Rapaz, ouvi falar muito bem de você por pessoas que sabem o que falam hein - sorri com o elogio e ele continuou- seja muito bem vindo!

- Meu Deus, que é isso? E eu estou muito honrado e disposto a aprender, lhe admiro desde sempre.

-Tá me chamando de velho Amaury?

E rimos muito, ele ficou falando com o Italo e a preparadora de elenco me apontou o Diego que entrava com a Tati Lopes, eu já tinha visto algo do Diego na Internet quando vi o nome, mas bem por cima. Sabia que teria cenas engraçadas com ele e estava curioso, fui me direcionando pra onde eles estavam pra cumprimentar, ele estava a direita perto da porta do salão, com uma camiseta verde e uma calça super rasgada nos joelhos, de tênis. Notei que era no mínimo uns 20 centímetros menor que eu, bonito, com barba, a minha também estava crescendo pro personagem. Era um cara bonito e sorria pras pessoas que acenavam pra eles, como tinham acabado de chegar.
Cheguei até ele, estendi a mão com um sorriso

-Olá! Diego, sou o Amaury- ele fez um ar de reconhecimento do nome e segurou minha mão- quer dizer que vamos ser par romântico, é um prazer te conhecer...
- Ah, é- ele assentiu e baixou a mão com o olhar inquieto escaneando as pessoas no salão- um prazer também, vai ser lindo.- disse um pouco desatento.

Fiquei sem saber muito bem o que dizer a seguir, então cumprimentei a Tati, que já conhecia e fomos pra leitura, que foi tranquila e bastante satisfatória. No final me entreti com o Charles, o Paulo e outros conhecidos até perceber que a maioria já tinha ido, o Diego também. Não pude evitar estranhar um pouco a reação dele, será que tinha alguma impressão ruim de mim, e se tinha, de onde isso havia saído.

Dirigi até em casa, e passei boa parte da noite ouvindo música, lendo as felicitações que tinha recebido e pensando no futuro, lembrando também de quando em outubro pedi por essa oportunidade em oração e ela foi atendida no mesmo dia. Não podia deixar de tentar visualizar como seriam as coisas agora que de tinha cruzado essa porta...

Diego POV

- Putz eu sou global e gostoso, gostoso e global- Diego acordou rindo aquele dia, qualquer um pensaria que ele era super metido se ouvisse, mas na verdade 80% era "rindo de nervoso".
Ele esperou essa oportunidade desde...sempre, desde que imitava as cenas da novela ainda criança com sua irmã, tendo os pais como plateia. Tinha aceitado meses atrás o trabalho sem pensar duas vezes, nesses mesmos meses viveu tanta coisa, decepções amorosas, o filme, a viagen pra Israel e a passada por Londres e entre tudo isso estudou o personagem, sabia que tinha um apelo cômico que ele adorava e ao mesmo tempo almejava dar profundidade, sabia também que ia lidar com o tema que ainda era ridículamente Tabu no Brasil, "romance gay", embora pra Diego houvesse a impressão de que seriam apenas doses homeopáticas de romance, até porque o cara que faria par com ele era um vilão e provavelmente se daria mal na novela. Tinha visto que contracenaria com Suzana Vieira e estava encantado, todo o núcleo do bar, onde o personagem dele estava inserido parecia maravilhoso e tinha visto que o ator com que faria par era mais velho que ele e um ótimo ator de teatro, ficou feliz com isso, viu também uma cena dele em espetáculo e algumas fotos, era um cara bonitão e parecia ser gente boa. Diego tinha em mente a vontade de agarrar aquela oportunidade e se firmar no meio, dar seu nome, chegar pra ficar. Mostrar que era um bom ator, um artista completo e que servia pra qualquer tipo de personagem e pra isso se dedicaria completamente.
Desviando do frio na barriga, Diego se convenceu que daria tudo certo e que ele conseguiria agir naturalmente, ter um bom desempenho e ainda iria se divertir com essa leitura. Rapidamente se organizou no hotel onde tinha se hospedado, porque morava em São Paulo e só viria mesmo pro Rio no mês seguinte e saiu pra tomar um café e encontrar com a Tati pra ir até o projac.

Ele estava tão feliz de estar alí, tentando processar tudo na mente e manter uma imagem profissional, que ele era, mas tinha certo receio que o nervosismo estragasse... quando abriram a porta do Salão todo mundo já estava lá, de onde estava parado viu a Glória Pires conversando animadamente com Débora Falabela, a Susana rodeada de gente rindo e vários grupos conversando, outros lendo seus textos e ele meio que travou alí, com a realizaçãode que estava mesmo alí, de que isso esrava acontecendo... de repente um cara lindo estendeu a mão pra ele..

- Oi Diego, sou o Amaury-
Diego esqueceu por alguns segundos como funcionar, olhando aquele 1 e 80 de músculos com olhinhos brilhantes, vestindo um jeans claro e regata branca, com a mão estendida. Porra Diego funciona... ah Amaury, ele é o Amaury claro. Já tinha visto fotos, mas não tinha dimensionado o impacto de encontrá-lo de repente poderia causar, se bem que deveria estar esperando conhecê-lo alí. Voltando a si ia responder, então Amaury sorriu...os olhos ficando apertadinhos e ele não tinha o direito de ter um sorriso tão lindo... apertou a mão dele de volta.
- quer dizer que vamos ser par romântico? É um prazer te conhecer.

E pronto o Diego sabia agora exatamente como o Kelvin deveria reagir ao Ramiro.

- Ah é- (sério que foi isso que eu disse?)- soltei a mão dele porque meu comportamento estava sendo absurdo- um prazer também, vai ser lindo.
E saí dali porque era tudo que eu podia fazer.

Depois felizmente me distrai, foi divertido e muito interessante conhecer todo mundo, estava realmente feliz. Quando a leitura terminou olhei em volta, agora que estava mais relaxado, pensei em falar com o Amaury mais propriamente, com frases inteiras de preferência... não tinha deixado de notar que meu comportamento não tinha sido muito profissional que digamos e disse a mim mesmo que não ia deixar isso acontecer, tudo que eu não precisava era de um climão nos bastidores, eu estava chegando agora e tudo tinha que sair completamente dentro do controle. Ele estava conversando distraído e eu pensava que super dei sorte com o par que consegui, não só pela aparência e tooodos os atributos que só de olhar pra ele conseguia identificar, mas porque ele parecia relaxado, mente aberta e tinha um curriculum excelente, com certeza seria enriquecedor. A Tati me chamou e saímos pra pegar o uber.

Já no hotel, liguei pra os meus pais e contei de como estava animado e nervoso, pedi pizza porque não queria sair, fiquei lendo sobre o enredo da novela e imaginando se sería um sucesso, se seria muito duro lidar com o preconceito das pessoas e se o Amaury era o tipo de pessoa que me ajudaria com isso, se é que o personagem dele era de fato construído pra ter algo com o Kelvin ou se isso se dissiparía depois de um mês de exibição. Hoje tinha atravessado um portal e só podia torcer pra que fosse um sucesso e sendo realista torcendo também pra que o povo compre o romance e eu consiga alguma cena romântica com aquela beleza- ri com esse pensamento- não pensava a sério, mas se desse sería bom...

Tudo que espero é não me meter em encrenca e ao invés dos melhores do ano ir parar no fofocalizando.

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