Para ser o que for.. E ser tudo!

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19 de Agosto.

Amaury POV

   É incrível como somos feitos da terra, como tudo na natureza. Um céu cinza de chuva num dia e tudo fica melancólico e turvo e no outro o sol brilhante logo pela manhã pode influir diretamente em como vamos nos movimentar, nas cores que vamos usar, nos cheiros das ruas, no tom da nossa voz... A energia do tempo de hoje tinha mudado completamente ainda no fim da noite de ontem, quando entrei no carro pra dirigir do projac pra casa, recebi notificação de storie do Diego e lá estava ele, me defendendo por não ter ido ao bendito show, se explicando no meu lugar.

   Eu fiquei profundamente constrangido e ao mesmo tempo positivamente inquieto. Porque ele estava fazendo aquilo? Porque com tanto afinco? Mas ele estava fazendo isso, sendo incrível, sendo a pessoa mais generosa que conheço. Tive que falar com ele quando finalmente cheguei em casa depois de quebrar a cabeça no percurso inteiro, tentando entender como podiam os últimos 3 dias fazerem algum sentido. Pra minha surpresa ele me encorajou a ser "mais insistente" e ainda mandou um: "A vida é dos destemidos!", coisa que tomei a peito! Alí o dia amanheceu pra mim.
   Já não importava pra mim qualquer fator, eu não podia entender ainda o que exatamente estava acontecendo, mas eu claramente via uma chance, uma deixa e pretendo, como ele falou ontem, me tornar o fã número 1, se eu o perturbava antes, agora então eu não soltaria ele pra nada, já bastava dos últimos tempos pisando em ovos o tempo todo, eu tinha a licença que eu precisava pra fazê-lo rir, fazer piadas ruins e tudo que era nosso. Dormi o sono dos justos e vim hoje ao trabalho entusiasmado como um adolescente e não me decepcionei com a decisão em momento algum.
   Estávamos num milharal, debaixo de um céu azul incrível, pra fazer externa e o Diego, como sempre estava sintonizado comigo, brincava e dançava por aí. Ele era lindo até com aquele figurino amarelo da cabeça aos pés, arranjei vários apelidos pra ele e pude me inspirar como sempre com a criatividade dele, filmando trechos aqui e alí pra fazer vídeo de bastidores, eu gravei alguns stories também pra postar quando o capítulo for ao ar.

   Fizemos vários ângulos pra enriquecer a cena e aquela proximidade, a minha mão na cintura nua dele, o cheiro do hálito dele... hálito de menta, estavam me deixando consciente demais, consciente e curioso, não podia impedir os flashes de quando eu o segurava naquele quarto de hotel e sentia o estremecimento dele durante o beijo, o que fiz a seguir foi literalmente meter o louco, perguntei se podia beijá-lo no fim da cena e ele me surpreendeu outra vez, porque além de aceitar, arranjou uma justificativa e de repente eu estava alí, com o Diego no meu colo, a minha mercê...
Na verdade era o Kelvin a mercê do Ramiro, mas aquele beijinho, não estava no roteiro. Aquilo era meu, era nosso e eu estava aqui pra isso!

O Ramiro segurou é puxou o cabelo do Kelvin, fazendo com que eles se olhassem nos olhos e se aproximassem, então respirando pesadamente e intercalando olhares entre os olhos e a boca eles uniram os lábios, a parte deles estava feita e agora eu, Amaury, pressionei um pouco meus lábios na boca macia do Diego, era uma pena a situação em si, as pessoas em volta, mas o estremecimento dele estava alí, me fazendo querer continuar. O Emer disse o corte, mas o Diego firmou a mão no meu braço e eu o segurei também, não o soltaria até que ele me soltasse. Ouvimos um corte, mais enfático dessa vez e nos separamos aos poucos, quando o olhar dele focou no meu, eu me perguntava se era essa a sensação que os amantes mais loucos, aqueles que são capazes de tudo, sentiam? Era como se qualquer explicação pudesse ficar pra depois e ele sorriu um pouco enquanto a equipe elogiava, um sorrisinho cúmplice.
   Terminamos a cena e nos trocamos na Van camarim, mudavamos de roupa e nosso olhar se encontrava várias vezes, com os sorrisos alí pairando.

24 de Agosto.

Diego POV

   Depois daquele momento lá do milharal, não tive mais paz ou melhor, tenho vivido uma inquietação deliciosa.
   O bonitão parece disposto a me estressar na mesma medida que me faz gargalhar e as vezes o pego olhando pra mim como se eu fosse a coisa mais curiosa do mundo. A gente tá tão grudado, tão ambíguo que tenho ouvido as pessoas ensinuarem coisas com uma frequência engraçada, até na cafeteria... até fora do projac, onde chego alguém pergunta por ele, é um pouco arrumador, mas tô preferindo não pensar demais, se ele fosse menos ambíguo seria mais fácil, mas não estou exatamente reclamando, eu gosto do que a gente tem!
   Ontem gravamos uma sequência tão fofa na caminhonete do Rams, reproduzimos a cena do beijo do macarrão da dama e o vagabundo, aquilo foi tão emocionante pra mim, porque simbolizava a nossa vitória, quando no início da novela nos comprometemos em fazer o Kelvin e o Ramiro serem casal, serem amor. Nós conseguimos!
   Já eram por volta das 23:00 e acabamos nossa filmagem no set do Naitandei, eu tava morta, já era quinta feira e a semana tinha sido cheia de noturnas e ainda por cima tava de salto, um senhor salto. Estava calculando como chegar ao camarim quando o Amaury parou, abaixando na minha frente, com as costas pra mim.

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