Penhasco

Tento andar, não saio do lugar...

17 de Agosto.

Amaury POV

   Eram por volta das 17:00, eu tinha feito cinco cenas hoje, extremamente cansado por causa da minha mudança, finalmente saí de Niterói pra mais perto do projac, minha vida precisava ser mais prática pra que sobrasse tempo pra mim, só que ainda não tinha tido tempo de desempacotar um monte de coisa, a faxina do século me esperava domingo.
   O que realmente ocupava minha mente agora era o show do Diego e isso me trazia na mesma proporção: entusiasmo e medo. Seria uma prova pro meu auto controle, uma enorme, mas isso não apagava a sensação de borbulhar no meu estômago, um ânimo quase adolescente. Era uma delicia!
Estava satisfeito com o tempo que sobraria pra descansar um pouco e me arrumar, porque hoje por milagre, estávamos encerrando as gravações antes da noite, salvo o núcleo dos protagonistas se estenderiam, decidi passar pela cafeteria, já que minha cozinha estava literalmente trancada em caixas. Assim que entrei, vi a Valéria, Thati e o Diego, eles estavam numa mesa grande, todos de costas pra mim, pensei em... sei lá,  assustar o Diego, quando ia me aproximando pra sentar na mesa atrás deles ouvi a Valéria falando toda animada que ia ao show essa noite e o Diego falava com ela, gesticulando, coisa que ele fazia quando se empolgava, de como o look dele era lindo, dos acessórios...
Então ela foi até o balcão pegar algo do pedido deles.
   Reparei então que a Thati se aproximou dele como quem vai contar uma fofoca boa e disse:

— Amigo, o boy que você ficou no fim de semana vai no show né?

— Ah, vai. Vai a turma toda amiga.

— Agora eu entendi sua alegria — ela falou sorrindo pra ele como uma boa confidente, deixou no ar que aquele era um assunto que já tinha sido conversado por eles.

— Cê acha? Dá pra perceber que tô animado?

   Eu me levantei pra sair naquela hora, não era da minha conta. Mesmo me afastando ouvi risos e ouvi quando ela falou algo sobre ele até ter dormido na casa de alguém depois de tanto tempo.
   A minha mente se movimentava de um jeito engraçado agora, era uma briga comigo mesmo, uma parte questionava todas as nossas conversas, os olhares e como eu tinha interpretado tudo errado e a outra dizia pra eu parar de ser absurdo, nós nunca tínhamos sido nada, não tinha nada a ver me questionar. Os motivos que me levaram a querer ir ao show estavam errados desde sempre.

   Fui pra casa e só entrando lá, percebi que nem sequer tinha comido.
Tinha uma sensação de estupidez persistente, uma vontade de me distrair e uma sensação de impotência quando me pegava rodando a história na mente outra vez. Pedi pizza e fui organizar minha cozinha. Naquela noite eu custei a dormir e não quis nem abrir o Instagram antes, embora o esforço pra não olhar tenha me causado ansiedade de qualquer forma.
  
18 de Agosto.

   Sabe quando você acorda e não sabe exatamente onde está, em que dia e até mesmo em que direção está deitado? Acordei assim. Não sei se pela mudança, pelo cansaço físico ou pelo emocional, provavelmente uma mistura de tudo.
   Tentei meditar antes de sair pra trabalhar, mas não funcionou muito bem. Então perdi a luta contra a internet e abri o Instagram, me arrependi na hora e não exatamente pelos vídeos do Diego, os quais evitei cuidadosamente, mas pelo tanto de menções e mensagens que eu tinha recebido de pessoas perguntando porque eu não fui ao show, outros estavam diretamente me criticando por não ter ido, tinha todo tipo de especulação, me aborreceu muito. Eu deveria ter previsto isso, não combinei com o Diego em off, comentei na internet mais de uma vez e se eu estava recebendo tanta pergunta, ele também deveria estar.

   Quando cheguei ao projac no fim daquela manhã, a Valéria me chamou num canto pra perguntar porque eu não tinha ido, falou também que o Diego me esperou e que tinha ficado triste, apesar de ter disfarçado bem.